O Liverpool da mentalidade monstruosa voltou. Jurgen Klopp pode se despedir com quatro títulos

Klopp foi mais uma vez ridicularizado por sua afinidade com a hipérbole, depois de comparar a vitória no meio da semana, na Premier League, sobre o Luton com a recuperação épica na Champions League contra o Barcelona em 2019, e isso era compreensível até certo ponto.

O obstáculo que o Liverpool superou naquela noite épica em Anfield foi muito maior. Luton está muito longe de ser o Barcelona, e isso é exemplificado da maneira mais divertida possível por seus próprios torcedores, que “provocaram” o Liverpool ao cantarem "Campeões da Conference League, vocês nunca cantarão isso!", durante a derrota por 4 a 1.

Porém, Klopp dificilmente poderia ter ficado mais animado após o apito final, lançando os famosos socos no ar por todas as extensões do campo. Ele claramente viu algo em sua equipe titular enfraquecida que o lembrou do espírito de 2019 – e ele provou estar certo no jogo seguinte.

"Nos meus 20 anos [de carreira], este é facilmente o troféu mais especial", disse entusiasmado. "Esse foi muito especial." E ele estava certo. Nunca antes um time de Klopp venceu uma final depois de superar tamanha adversidade.

Lembre-se, não havia Mohamed Salah, Darwin Núñez, Diogo Jota, Alexander-Arnold, Alisson, Szoboszlai ou Curtis Jones para recorrer - e, na partida, Ryan Gravenberch ainda foi forçado a sair devido a uma lesão no tornozelo após uma terrível entrada de Moisés Caicedo.

Sem surpresa, o Liverpool perdeu momentaneamente o rumo em um jogo que vinha dominando, a saída forçada do holandês resultou na entrada de Joe Gomez como lateral-direito e Conor Bradley avançando mais para a frente.

Klopp estava relutante acionar um de seus dois meio-campistas ainda adolescentes naquela fase inicial do jogo, mas próximo ao final do tempo normal, tanto Bobby Clark quanto James McConnell entraram no confronto, junto com o atacante Jayden Danns, que havia feito sua estreia pelo profissional apenas quatro dias antes, contra o Luton.

Foi uma impressionante demonstração de fé nos frutos da base do Liverpool. A longa lista de lesões obviamente influenciou nas decisões, mas Klopp poderia ter persistido com jogadores como Mac Allister e Gakpo na prorrogação. Em vez disso, recorreu a três jovens com uma soma total de 261 minutos de futebol profissional - e isso revelou-se uma jogada de mestre.

Incrivelmente, o Liverpool dominou a prorrogação. O Chelsea gastou quase 400 milhões de libras (R$2,5 milhões) nas últimas quatro janelas de transferência contratando jogadores sub-23 - apenas para descobrir, da maneira mais dolorosa possível, que os jovens do Liverpool são melhores.

Muitos dos jovens do Chelsea têm mais experiência e, possivelmente, mais talento também, mas os aprendizes de Klopp têm claramente um caráter melhor. O alemão admitiu que está surpreso com o quão “educada culturalmente a próxima geração” é, mesmo sendo tão jovem.

Sobretudo, Conor Bradley e companhia não têm apenas o talento para jogar no time de Klopp - mas também o temperamento certo. Uma nova geração de monstros mentais nasceu diante de nossos olhos.

Vale lembrar que havia o temor de que os padrões pudessem cair em Anfield após as saídas de James Milner e Jordan Henderson na janela de verão europeu, visto que ambos foram fundamentais em termos de dar o exemplo que outros eram obrigados a seguir. Porém, Klopp é a chave para a cultura do sucesso em Anfield – e sempre foi.

Como disse o ex-zagueiro do Manchester United Gary Neville na Sky Sports: “Os treinadores especiais fazem coisas especiais e ele é um dos melhores que a Premier League já viu."

UInfelizmente para os torcedores do United, e para todos os demais, Klopp só irá embora daqui a alguns meses - e agora há uma chance real de que ele encerre uma carreira brilhante em Anfield com pelo menos mais um troféu.

O Liverpool atualmente lidera a Premier League, é o favorito para vencer a Europa League antes mesmo do confronto das oitavas de final com o Sparta Praga. A equipe também receberá o Southampton pela Copa da Inglaterra.

Ganhar um desses três troféus será difícil. O Manchester City está apenas um ponto atrás do Liverpool em uma disputa maluca no topo da tabela e é o palpite de quase todo mundo para conquistar o quarto título consecutivo.

Quanto à FA Cup, Klopp será mais uma vez forçado a confiar nos seus jovens para derrotar o Southampton, com muitos dos seus principais jogadores ainda afastados

A questão é que nada parece impossível neste momento para o Liverpool, nenhum desafio é grande demais. O clube está unificado: um treinador, um elenco e uma torcida alimentada pela onda de emoção gerada pela surpreendente decisão de Klopp de sair.

Além disso, até mesmo o imbatível City tem as suas falhas defensivas nesta temporada e ainda tem que jogar em Anfield, ao passo que a final da Europa League será realizada em Dublin - o que significa que seria, como Klopp brincou recentemente, um "jogo em casa" para o Liverpool, dados os profundos laços históricos da cidade inglesa com a Irlanda e a sua capital.

Então, Klopp pode realmente faturar quatro títulos na temporada que deixará os Reds? Ainda é improvável – mas certamente não impossível. As lesões continuam sendo um problema e a fadiga quase certamente se tornará um desfio até o final da campanha.

Contudo, a pressão agora diminuiu em alguns aspectos. Um título já foi garantido na “última dança” de Klopp. As probabilidades permanecem muito contra eles, é claro, porém os monstros mentais de Klopp estão de volta – e são uma força a ser temida.