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De John Textor a Renato Paiva, os culpados pelo péssimo Botafogo em 2025

A temporada com mais derrotas do Botafogo neste século foi a de 2014, quando os alvinegros somaram 35 revezes e, em última instância, foram rebaixados para a Série B em dezembro. No final daquele mês de abril, o conturbado time já comandado por Vagner Mancini (que substituíra o experimental Eduardo Húngaro) acumulava 11 derrotas. O Botafogo de 2025 já perdeu 13 vezes – sendo a mais recente para o Estudiantes, pela terceira rodada da fase de grupos da Libertadores.

Comparar o péssimo momento do Botafogo treinado por Renato Paiva com a versão mais vezes derrotada do clube neste século é um alerta. Mas são contextos bem diferentes. O Alvinegro se transformou desde que foi renascido como SAF a partir de 2022. Ainda assim, não deixa de ser chocante que estejamos falando do atual campeão brasileiro e da Libertadores – ou seja, um time que protagonizou uma das maiores temporadas de um clube brasileiro em todos os tempos. O Botafogo de 2025 já igualou, em pleno mês de abril, com 22 jogos disputados, o mesmo número de derrotas que obteve em 75 (setenta e cinco!) compromissos no ano passado. É surreal.

A falha do goleiro John no único gol sofrido contra o Estudiantes é digna de entrar em um “manual dos grandes frangos do futebol”, mas o grande arquiteto do vexatório momento vivido pelo Botafogo é outro John: Textor. O dono da SAF alvinegra e, curiosamente, um dos grandes responsáveis pelo espetacular 2024. O futebol é dinâmico – sabemos disso. Textor, contudo, aparentemente não sabe. Ou se esqueceu. Com uma arrogância chamativa, o norte-americano foi a mente por trás de uma das piores preparações que um clube já teve nos últimos anos. No fim das contas, é ele o grande culpado pelo filme de terror alvinegro que tem sido 2025.

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  • FBL-RECOPA-BOTAFOGO-RACINGAFP

    A demora para achar um técnico

    Tudo começou ainda em 2024, antes mesmo de o Botafogo sacramentar o título brasileiro com a vitória sobre o São Paulo na última rodada. Ali, logo depois de ter sido campeão da Libertadores, começaram a surgir as primeiras notícias de que Artur Jorge poderia sair. O técnico português, importantíssimo durante aquele ano, falou em tom de despedida após a derrota para o Pachuca, na Copa Intercontinental.

    Não era nem a segunda semana de dezembro e Textor não quis fazer um esforço para manter o técnico. Já sabíamos, ali, que o Botafogo ficaria sem um grande treinador e que precisaria reajustar rotas para planejar o 2025 de Recopas, Supercopas, Mundial de Clubes e os demais campeonatos de sempre. O anúncio oficial da saída de Artur Jorge aconteceu apenas em 3 de janeiro deste ano. E, após uma novela gigantesca e estranha, Textor fechou com um novo treinador somente em 27 de fevereiro. A surpreendente escolha por Renato Paiva não agradou a nenhum torcedor.

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  • Renato Paiva John Textor Botafogo apresentação 2025Vitor Silva/Botafogo

    Desdém por taças e erro sobre o calendário

    O ex-técnico do Bahia até tinha um currículo que, em teoria, indicava um alinhamento com algumas das últimas escolhas de Textor. Mas estava claro que Paiva havia sido o escolhido por falta de outras opções, pelos quase três meses sem comando e pela pressão que já começava a crescer após derrotas que flertaram com o vexame na Recopa, na Supercopa e na pior campanha de Campeonato Carioca da história botafoguense. Pregando calma com arrogância, Textor dizia que a temporada começaria para valer apenas em abril – enquanto exibia as taças da Libertadores e do Brasileirão na apresentação oficial de Paiva.

  • Elias Manoel apresentação Botafogo 2025Vitor Silva/Botafogo

    Reposição duvidosa de peças

    O campeonato estadual não é mais um título importante, mas o período de disputa serve para analisar peças e montar o time da temporada – para fazer testes antes de começar o que realmente importa. John Textor jogou tudo isso fora. Mesmo com o Botafogo em plena reformulação. Saíram Luiz Henrique e Thiago Almada, os grandes craques de 2024? Artur, o ponta baixinho vindo do Zenit, e o uruguaio Santi Rodríguez (tão substitutos de Luiz e Almada que herdaram, respectivamente, os mesmos números 7 e 23) chegaram e precisariam de tempo para se adaptarem.

    A reposição da profundidade do elenco também foi ruim e isso fica na conta de Textor - e, eventualmente, até do elogiado departamento de scout do clube. Não que Tiquinho, Eduardo ou Júnior Santos estejam brilhando por, respectivamente, Santos, Cruzeiro e Atlético-MG. Pelo contrário. Mas as reposições, na forma de Rwan Cruz, Elias Manoel ou Gonzalo Mastriani, não estão à altura. E olha que o Botafogo gastou quase meio bilhão de reais em contratações neste início de 2025. Parece ter rasgado dinheiro.

  • Estudiantes v Botafogo - Copa CONMEBOL Libertadores 2025Getty Images Sport

    Não há desculpas para Renato Paiva

    Tudo o que foi escrito acima – todo o planejamento que levou aos péssimos resultados atuais – está nas costas de John Textor. Ok. Dito isso, o Botafogo atual segue com pelo menos nove jogadores do time-base responsável pelos títulos brasileiro e da Libertadores. Ou seja, é uma boa equipe. Mas quando esse conjunto, muito além de não funcionar, parece um bando de peladeiros em campo, aí a responsabilidade é do treinador. E o trabalho de Renato Paiva tem rompido as fronteiras do que é constrangedor de se ver.

    Mesmo tendo uma boa linha defensiva e os volantes de 2024, mesmo tendo aquela que foi a melhor defesa do último Brasileirão, o Botafogo sofre gols ridículos em 2025. Mesmo tendo Jefferson Savarino, um dos melhores meias disponíveis para times brasileiros, e Igor Jesus, atacante que há pouco tempo também fazia gols pela seleção brasileira, o Botafogo de Renato Paiva não consegue criar nem finalizar bem. É um time que deixa muito a desejar na defesa, no meio e no ataque. Não há desculpas para isso, absolutamente nada que justifique.

    Tanto John Textor quanto o próprio Paiva – por mais bizarro que pareça – colocam a culpa no desempenho dos jogadores, obviamente desconfortáveis com o Jogo Posicional do novo técnico português. É fato que acontecem erros individuais, mas vale lembrar também que o espaçamento entre os atletas e a falta de conexão do time são tão grandes que, muitas vezes, eles se encontram sozinhos e sem boas opções de passe. Aí fica muito mais fácil errar.

    Tem muita coisa errada no Botafogo de 2025, e John Textor é responsável por isso. Ainda assim, era para estar melhor do que está. Renato Paiva conseguiu transformar o melhor time do Brasil e das Américas em um catadão. E não é que as derrotas estejam acontecendo em meio a um bom desempenho: os placares são até tímidos diante das atuações bizarras. O aproveitamento atual de 33,3% de Paiva é, neste momento, o pior desde a passagem de Eduardo Barroca no rebaixamento de 2020 (11%) e igual à do então interino Lúcio Flávio na histórica derrocada no Brasileirão de 2023.

  • Botafogo v Carabobo - Copa CONMEBOL Libertadores 2025Getty Images Sport

    Luta contra rebaixamento pela frente?

    Questionado sobre como o seu Botafogo pode ir tão mal mesmo com jogadores comprovadamente bons, Renato Paiva decretou oficialmente o fim do time de 2024: “Essa equipe já não existe, mudaram muitos jogadores”, afirmou após a derrota para o Estudiantes. Curioso, pois em sua apresentação o discurso foi bem diferente: “Treinador não olha para os problemas, mas para soluções. É uma base campeã, extraordinária em nível técnico, psicológico, com ambição. Ganharam títulos de forma histórica, como na final da Libertadores com um jogador a menos desde o início. Só se alcança isso com grandes grupos. Com base de jogadores e trabalhos, é só dar um toque com a nossa forma de ver o jogo”, disse à época.

    Renato Paiva não consegue fazer sentido nem no que diz como técnico do Botafogo, e o time que ele manda a campo é uma bagunça maior a cada nova apresentação. Agora é ver se acontece alguma transformação, mesmo sem indícios de que algo bom esteja por vir. Do contrário, até mesmo um destino parecido com o de 2014 pode, por mais bizarro que pareça, acontecer. Não faça como John Textor, leitor: não subestime o futebol.