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GFX Brasileiros semifinal Mundial de ClubesGOAL

Desafio do brasileiro no Mundial de Clubes passou ser chegar à final, e não ser campeão

A Libertadores da América é tratada como “obsessão” para as grandes equipes sul-americanas. Dizer que seus campeões atingem a Glória Eterna é, sem dúvidas, o maior acerto recente de quem organiza o torneio. Mas no futebol, o Mundial de Clubes é a última fronteira. Podemos debater a importância com a qual os europeus veem a disputa, claro, mas estruturalmente a competição interclubes da FIFA é o topo da pirâmide.

É assim desde a época da antiga Copa Intercontinental, primeira competição a colocar frente a frente os campeões da América do Sul e Europa. Só que muita coisa mudou desde sua primeira edição, em 1960, até o rumo que tomou o Mundial de Clubes da FIFA. Equipes de outros continentes foram incluídas na disputa, para validar ainda mais o aspecto global da coisa, mas, na prática, o convite à festa – a possibilidade real de título – era limitado pois o espaço VIP só era aberto a sul-americanos e europeus.

Há tempos não é mais assim. Os campeões da Champions League e Libertadores ainda chegam com suas regalias, uma vaga direta na semifinal, enquanto os demais (asiáticos, africanos e norte-americanos no geral) são obrigados a passarem por outros jogos apenas para terem o direito de estarem ali. E se a última década mostra um domínio sem precedente dos europeus, também deixa em evidência a queda de status dos sul-americanos. O que um dia já foi visto como vexame, não conseguir vaga na finalíssima, passou a ser algo até mesmo normal.

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  • Robert Kidiaba wa TP Mazembe na DR CongoISSOUF SANOGO/AFP/Getty Images

    Semifinal, o desafio psicológico e técnico

    A vitória por 2 a 0 do Mazembe, então campeão africano, sobre o Internacional, em 2010, marcou o ineditismo que já vinha se anunciando ano após ano para os sul-americanos – com jogos duros e equilibrados nas semis. O rótulo colocado sobre os colorados foi o da vergonha, noção que só parecia aumentar a cada vez que as imagens do goleiro congolês Muteba Kidiaba, quicando sentado no gramado, apareciam nas mais diferentes telas.

    A cada Mundial, a tensão dos sul-americanos se concentrava mais na semifinal, onde qualquer derrota traria o peso do vexame dentro da narrativa vigente, enquanto a finalíssima apresentava uma situação mais leve. Ainda que seja mais difícil enfrentar um time europeu nos parâmetros atuais, é mais fácil fazer isso vestindo a camisa de time azarão. Contra o adversário das semis, o medo de protagonizar algo que poderia ser considerado como vergonha fazia, às vezes, as pernas pesarem. É o famoso “o medo de perder, tira a vontade de ganhar”.

    Dos quiques de Kidiaba até o Mundial de Clubes de 2022, os campeões da Libertadores fracassaram cinco vezes em 13 edições. Quase metade. Mas quando pegamos o recorte dos últimos cinco anos, o campeão da Libertadores não chegou na finalíssima na maioria. E não foram times quaisquer. Estamos falando do River Plate de Marcelo Gallardo, do Palmeiras de Abel Ferreira e de um bilionário Flamengo. O desafio da semifinal, que antes até poderia ser mais psicológico do que técnico, hoje é tecnicamente tão desafiador quanto.

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  • Ronaldinho Gaúcho, Atlético-MG x Raja Casablanca 2013Getty Images

    Como o campeão da Libertadores perdeu sua força

    Mas como foi que isso aconteceu? Quando o futebol brasileiro, e por consequência sul-americano, caiu tanto dentro da ordem mundial? A resposta é fácil: quando o dinheiro começou a correr mais livremente dentro da movimentação dos jogadores.

    A partir de 1995, ano em que foi instituída a Lei Bosman, a balança de poder mudou. Países como Espanha, Inglaterra e Itália viram seus campeonatos ficarem mais poderosos do que nunca. Como? Comprando, praticamente sem limites, os melhores jogadores do mundo e os concentrando em menos lugares do que outrora.

    Antes da Lei Bosman, os sul-americanos tinham vencido 20 títulos mundiais contra 14 dos europeus. Depois de Bosman, o placar é de 22 a 6 para as equipes do Velho Continente. Ou seja, o futebol sul-americano ficou enfraquecido, mais próximo de mercados emergentes do que no nível atingido pelos clubes que disputam e ganham o título da Champions League.

  • Gignac Tigres PalmeirasN/A

    O histórico das semifinais e derrotas sul-americanas

    • 2010: Mazembe (Congo) 2 x 0 Internacional
    • 2011: Kashiwa Reysol (Japão) 1 x 3 Santos
    • 2012: Al Ahly (Egito) 0 x 1 Corinthians
    • 2013: Raja Casablanca (Marrocos) 3 x 1 Atlético-MG
    • 2014: San Lorenzo (Argentina) 2 x 1 Auckland City (Austrália)
    • 2015: Sanfrecce Hiroshima (Japão) 0 x 1 River Plate (Argentina)
    • 2016: Atlético Nacional (Colômbia) 0 x 3 Kashima Antlers (Japão)
    • 2017: Grêmio 1 x 0 Pachuca (México)
    • 2018: River Plate 2 (4) x (5) 2 Al Ain (Emirados Árabes)
    • 2019: Flamengo 3 x 1 Al Hilal (Arábia Saudita)
    • 2020: Palmeiras 0 x 1 Tigres (México)
    • 2021: Palmeiras 2 x 0 Al Ahly (Egito)
    • 2022: Flamengo 2 x 3 Al Hilal (Arábia Saudita)
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  • Dawsari Al HIlal Flamengo 2023Getty Images

    Dinheiro em jogo

    Assim como um gol é mérito de quem faz e demérito de quem toma, nem tudo nessa diminuição comparativa dos brasileiros com os mercados emergentes é demérito para o campeão da Libertadores. O Tigres, que bateu o Palmeiras em 2020, tinha na época orçamento de 50 milhões de dólares – o suficiente para atrair o astro francês André-Pierre Gignac. O Al Hilal, que venceu o Flamengo na semifinal de 2022, é um dos principais clubes da Arábia Saudita, país que vem despejando rios em dinheiro para contratar grandes astros.

  • fluminense.(C)Getty Images

    Um novo Mundial no horizonte

    Se a distância entre o campeão da Libertadores em relação aos mercados emergentes diminuiu, porque brasileiros e outros sul-americanos ainda têm o direito de entrar direto na semifinal? Convenhamos, a questão não é mais merecimento. De qualquer forma, o novo Mundial de Clubes que será disputado a partir de 2025 agora terá 32 equipes e um formato mais parecido ao da Copa do Mundo.

    A promessa é de um número maior de europeus, 12 no total, graças a critérios técnicos adotados pela FIFA. Os sul-americanos seguem vindo atrás, com seis vagas, mas já é um número mais próximo às quatro de africanos, asiáticos e norte-americanos. A história das difíceis semifinais dentro do atual formato continua agora em 2023. A batata quente está nas mãos do Fluminense.

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