+18 | Conteúdo Comercial | Aplicam-se termos e condições | Jogue com responsabilidade | Princípios editoriais
GFX Luiz Henrique Betis Botafogo Lyon TextorGOAL

Clube satélite? Barriga de aluguel? SAF's escancaram a realidade infeliz do futebol brasileiro e Luiz Henrique no Botafogo serve como exemplo

Luiz Henrique é jogador do Botafogo. O meia-atacante de 23 anos já chega estipulando um marco: a maior contratação da história do futebol brasileiro, se considerarmos valores nominais e absolutos. Uma declaração de intenções importante na tentativa de recuperar o orgulho alvinegro após oroteiro de 2023. A transação pode chegar nos 20 milhões de euros, mas também levantou uma dúvida que vai perdurar por cerca de seis meses como um grande “porém” na relação entre LH e o Alvinegro.

O atacante já vai embora no meio do ano, para o Lyon? Fica no Botafogo até o final da temporada? A certeza é que dificilmente Luiz Henrique vestirá no peito a Estrela Solitária até o final do contrato firmado com o Glorioso, até 2028. Outra certeza é de que, querendo ou não, o ex-jogador do Betis retorna ao futebol brasileiro já pensando em voltar para a Europa. A porta aberta de volta ao Velho Continente, afinal de contas, foi um argumento importante usado nas negociações com o atleta.

John Textor, dono do futebol alvinegro, ofereceu um ótimo salário para Luiz Henrique jogar pelo Botafogo. Mas também colocou como opção provável (alguns dizem quase obrigatória) a possibilidade de vestir a camisa do Lyon, outro de seus clubes, dentro de não muito tempo. Outros jogadores botafoguenses fizeram este caminho recentemente, como Jeffinho (que voltou emprestado pelo Lyon agora em 2024) e Adryelson e Lucas Perri.

Em meio à felicidade botafoguense pelo grande reforço, rivais mais enciumados desdenharam da situação e classificaram o Alvinegro como apenas uma “barriga de aluguel” ou “clube satélite”. Como se esta fosse uma realidade exclusiva das SAF’s multiclubes. Não é.

  • Quer saber, pelo WhatsApp, quem seu time está contratando? Siga aqui o canal da GOAL sobre mercado da bola!
  • Vitor Roque ParanaenseGetty Images

    Toda a América do Sul é um satélite

    É só perguntar a qualquer jovem qual é o seu grande sonho no futebol, que a resposta seguirá quase sempre pela mesma linha: eventualmente estrear pelo clube de coração no Brasil, ser vendido para um time europeu (Real Madrid e Barcelona sempre aparecem como favoritos no imaginário da garotada, além do futebol inglês) e ser campeão da Champions League.

    O encanto está onde se joga o principal futebol do mundo, que fica a um oceano de distância. Onde o poder aquisitivo maior que o nosso também vem acompanhado de tradição e glamour, ao contrário de Arábias Sauditas da vida. Pergunte a um piloto onde ele quer guiar um carro, e ele vai responder Fórmula 1. Todo mundo reconhece a elite da elite.

    E dentro deste cenário, Brasil e América do Sul como um todo são o maior satélite do futebol europeu. A grande barriga de aluguel. Vinícius Júnior teve sua compra oficializada pelo Real Madrid menos de duas semanas após estrear como profissional do Flamengo, em 2017. Ficou no Rubro-Negro até completar 18 anos e, antes de vestir a grande camisa merengue, ainda atuou pelo time B madridista.

    Rodrygo não completou um ano como profissional do Santos até ser vendido também para os Blancos. Com apenas 18 anos, Vitor Roque mal deixou o Athletico-PR e já conseguiu comemorar o seu primeiro gol com a camisa do Barcelona. Endrick já cravou seu nome na história do Palmeiras, mas as grandes exibições na conquista do Brasileirão de 2023 já foram depois de ter assinado um milionário contrato com o Real Madrid. Estes são os exemplos mais recentes, claro.

    Esta já tem sido a prática faz muitos anos, mas a barriga de aluguel do futebol brasileiro e sul-americano se despede de suas crias cada vez mais cedo. Tenha uma certeza: seu time tem um jogador jovem e bom de bola? Ele não vai ficar muito tempo no Brasil.

  • Publicidade
  • Adryelson, Lucas Perry LyonDivulgação/Lyon

    Olhos que veem, corações que sentem

    A questão é que esta realidade de satélite da Europa ficou ainda mais escancarada com a chegada das SAF’s multiclubes ao futebol brasileiro. Isto, com certeza. A própria existência deste tipo de conglomerado nasceu com esta finalidade: buscar jovens talentos em mercados como a América do Sul, desenvolvê-los aqui antes de os promoverem ao futebol europeu sem ter que gastar tantas taxas de transferências, uma vez que as portas entre clubes de um mesmo grupo ficam destrancadas.

    É como se resumíssemos esta sensação àquela máxima: “o que os olhos não veem, o coração não sente” no caso de quem não participa de uma rede multiclubes, mas em casos como os das SAF’s os olhos veem e o coração sente. Muda a sensação, algum senso de surpresa, mas a realidade é a mesma para ambos os casos: somos um mercado satélite, formamos jogadores que em geral se transformarão em craques na Europa. Uma realidade triste para o histórico de tradição dos clubes brasileiros, mas uma realidade de qualquer maneira.

  • marcelo(C)Getty Images

    Com o que ficamos?

    A realidade atual também mostra que os maiores destaques, os craques, do futebol brasileiro e sul-americano dos últimos anos são, na maior parte das vezes, os grandes jogadores sem mercado (especialmente por idade) entre as maiores potências europeias. São os casos, por exemplo, de Gabigol ou Arrascaeta no Flamengo, Gustavo Gómez e Dudu ou Rony no Palmeiras, Gustavo Scarpa e alguns outros.

    Os exemplos citados acima também mostram como o futebol europeu passou a encarar as suas compras: em geral, buscam jogadores de no máximo 23 anos. De 25 pra cima, uma boa idade para o auge técnico e físico de um atleta, é muito mais raro conseguir uma transferência para alguma equipe com aspirações de disputar títulos no Velho Continente.

    Veteranos de carreira vitoriosa na Europa, que desejam ter um último brilho na América do Sul, representam a outra possibilidade para o nosso mercado. E aí são vários exemplos: Filipe Luís, Rafinha, Marcelo, Hulk, Tiquinho Soares, Diego Costa, Douglas Costa, Luiz Gustavo, Luis Suárez, Lucas Moura, James Rodríguez...

  • ENJOYED THIS STORY?

    Add GOAL.com as a preferred source on Google to see more of our reporting

  • Luiz Henrique BetisGetty Images

    A novidade com Luiz Henrique

    O caso Luiz Henrique se destaca um pouquinho disso tudo pela sua singularidade. Ver clubes brasileiros contratando atletas jovens que estavam sem espaço em seus clubes europeus também tem sido um movimento comum (Pedro no Flamengo, Paulinho no Atlético-MG são bons exemplos). Luiz Henrique, contudo, vinha sendo peça importante no Real Betis, ao ponto de o técnico Manuel Pellegrini ter discordado de sua venda para o Botafogo.

    Luiz se encontrava ainda no processo de crescimento de sua carreira na Europa. Por isso, ponderou tanto o quanto valeria voltar ao Brasil neste momento. É natural, portanto, também planejar um retorno para o futebol europeu. Qual jogador profissional não desejaria o mesmo?

    A questão, contudo, será equilibrar a parte mental em suas prioridades: o pensamento do jogador vai estar em ajudar o Botafogo a ir além, para disputar títulos com segurança em 2024, ou em ficar apenas até o meio do ano se o interesse europeu é oficial e óbvio? Como vai estar o foco e a entrega de Luiz Henrique? Qual será o seu discurso? A resposta o próprio Luiz Henrique vai ter que dar em campo e na forma como vai se relacionar com o torcedor alvinegro.

0