Alívio para Flamengo e euforia para São Paulo: título da Copa do Brasil terá pesos diferentes

Pode parecer estranho, mas o São Paulo ainda não conquistou um título de Copa do Brasil. A melhor campanha do Tricolor Paulista na competição foi em 2000, quando foi vice-campeão (perdendo na final contra o Cruzeiro). Mas o tabu tem que ser contextualizado.

Se a Copa do Brasil está em sua 34ª edição, o São Paulo disputa apenas a sua 23ª. O maior período de ausência do Tricolor foi entre 2004 e 2010, em meio aos anos em que valia a seguinte máxima: time que joga a Libertadores da América, não joga a Copa do Brasil.

Em 2005 a torcida são-paulina comemorou o título continental e do Mundial de Clubes da FIFA, antes de emplacar um tricampeonato consecutivo no Brasileirão logo na sequência. Aquele São Paulo que tinha Rogério Ceni em seu auge, além de outros craques, praticamente não disputou o principal mata-mata do futebol brasileiro porque estava quase sempre na Libertadores.

Ainda assim, não deixa de ser curioso que um dos clubes mais vitoriosos do país não tenha conseguido levantar a sua Copa do Brasil. O sabor especial de um eventual título viria para preencher não apenas esta lacuna, mas a de jejum de taças importantes. O São Paulo foi campeão paulista em 2021, encerrando nove anos sem nenhum troféu, mas hoje os estaduais não têm mais aquela importância que tornam meros atletas em inesquecíveis imortais.

A Copa do Brasil pode representar o primeiro grande título são-paulino após a Copa Sul-Americana de 2012, além de simbolizar a esperança de um novo período de glórias para os tricolores.

E uma das grandes esperanças são-paulinas para consumar este desejo é Dorival Júnior. Além de ser um dos principais treinadores do Brasil na atualidade, e de ter conseguido recuperar a temporada 2023 do São Paulo após a demissão do técnico Rogério Ceni, Dorival lista em seu currículo dois títulos de Copa do Brasil: o de 2010, com o Santos de Neymar e Paulo Henrique Ganso, e o do ano passado, 2022, justamente com o Flamengo que agora reencontra como oponente.

Se Dorival conseguiu corrigir as rotas deste São Paulo atual, em 2022 ele fez o mesmo em um Flamengo que, além de tudo, se consagraria como campeão da Libertadores. A escolha por não seguir com o treinador para a temporada 2023 foi tomada pela direção rubro-negra e não há quem, até hoje, consiga entender o motivo desta decisão. O reencontro do treinador com sua antiga equipe, e a inevitável narrativa da “vingança”, é um dos tantos roteiros que cercam a final da atual temporada.

Se foi o desdém por Dorival – quando optou primeiro pela contratação de Vitor Pereira, antes de demitir o português para trazer o argentino Jorge Sampaoli – que motivou toda a temporada de sonhos fracassados do Flamengo, ninguém pode afirmar. Os erros foram se acumulando. Mas é impossível não dizer que o primeiro equívoco foi a decisão de trocar o comando técnico.

O Flamengo começou 2023 sonhando com o título do Mundial de Clubes da FIFA. “Real Madrid, pode esperar: a sua hora vai chegar!”, era o cântico em tom de previsão ameaçadora que vinha das arquibancadas, vestiários e escritórios rubro-negros. Mas a equipe carioca sequer chegou à final, perdendo para o Al Hilal nas semis. No Campeonato Carioca, a derrota por goleada na decisão frente o Fluminense decretou o destino de Vitor Pereira – que já havia fracassado na Supercopa do Brasil e Recopa Sul-Americana. Sampaoli chegou, mas seu principal feito esportivo, até aqui, foi a eliminação nas oitavas de final da Libertadores para o Olímpia.

Fora do noticiário esportivo, o que mais chamou atenção sobre a passagem de Sampaoli pela Gávea foi a agressão, um soco na cara, desferida por seu então preparador físico ao atacante Pedro. A campanha rubro-negra no Brasileirão é claudicante, com o time brigando mais por uma vaga na próxima Libertadores e com pouquíssimas chances de título. Ou seja: a Copa do Brasil aparece como tudo ou nada para salvar a temporada – e eventualmente salvar o cargo de Sampaoli.

Dois sentimentos unem flamenguistas e são-paulinos para esta final de Copa do Brasil, mas em proporções diferentes. Um eventual título rubro-negro traria a euforia óbvia que vem acompanhada com um triunfo deste porte, mas a proporção do alívio, após tantos fracassos e irritações ao longo do ano, seria maior. Isso além do fato de já terem saboreado a Copa do Brasil recentemente.

Já a torcida tricolor ficaria profundamente aliviada por levantar novamente um grande troféu, e é justamente este tipo de emoção que deixaria os são-paulinos em puro estado de euforia. A Copa do Brasil de 2023 ainda não sabe se vai para o lado do Flamengo ou do São Paulo, mas sabe que terá pesos diferentes a depender de quem for seu dono.