Lionel-Messi(C)Getty Images

O futebol não deve uma Copa a Lionel Messi. É ele que enfim faz por merecer

Lionel Messi tem neste domingo a chance de enfim coroar sua carreira com o maior objetivo de qualquer jogador que se preze: a Copa do Mundo. E na última oportunidade, já que o camisa 10 de 35 anos já avisou que será seu último Mundial. Por conta disso, ganhou força a ideia de que o argentino “merece” a conquista ou que o futebol “lhe deve” esta taça, quase como um presente de despedida. Mas não é assim que o esporte mais popular do planeta funciona.

A Copa é o palco em que as maiores estrelas do futebol firmaram seu nome na história. O que seria de Pelé, Ronaldo, Romário, Zinedine Zidane, Franz Beckenbauer ou Diego Maradona sem o troféu dourado? Atletas como Michel Platini, Zico e Johan Cruyff tiveram carreiras brilhantes mesmo sem vencer o mundo, mas a ausência da taça é um fator real que os impede de entrar na mesma prateleira que os citados anteriormente. A Copa não presenteia ninguém com esse status. Foram os jogadores campeões que fizeram por merecê-lo.

Nunca houve um jogador maior do que Messi que não tenha conquistado um Mundial. E se Lionel não tem o feito em seu currículo, não foi por falta de tentativa. Qatar 2022 é a quinta edição com presença do atleta de Rosário. Em 2006, ainda era um garoto que buscava espaço, mas de 2010 em diante era camisa 10 e principal jogador da Argentina.

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Porém, se no contexto de clubes era o atleta que liderava o Barcelona e colecionava prêmios individuais, o desempenho não era o mesmo com a camisa albiceleste. Messi, 35 anos, fez no Qatar seu primeiro gol em mata-matas de Copa. Uma falha grave para um jogador de seu talento e tamanho. Pese que a Argentina passou por situações caóticas extracampo especialmente em 2010 e 2018, mas se espera que o principal atleta - e que é tratado por muitos na Europa como maior da história - seja capaz de superar tais adversidades.

A maior chance de vencer o Mundial até então fora a final contra a Alemanha no Maracanã em 2014. Gonzalo Higuaín ficou tachado de vilão por ter perdido chance clara nos primeiros instantes, mas não é como se Messi tivesse apresentado uma grande atuação no Rio de Janeiro. Pelo contrário, foi especialmente discreto. O camisa 10 acabou escolhido como melhor jogador daquela Copa sendo que em campo via atletas de menos talento, mas mais transpiração, como Angel Di María e Javier Mascherano, se sobressaírem.

Isto se reflete nas outras chances de taça que teve com a Argentina. Os albicelestes fizeram duas finais consecutivas de Copa América contra o Chile e perderam ambas nos pênaltis após empates sem gols. Messi foi apagado nas duas partidas, perdeu uma das cobranças na decisão de 2016 e chegou a anunciar uma aposentadoria da seleção que durou pouco. Tudo isso muito pouco para quem é chamado por alguns de maior da história.

A única taça que tem com seu país é a Copa América de 2020, um torneio que ficou perto de não ocorrer, terminou disputado no Brasil no ano seguinte por intenções políticas do presidente brasileiro e em que, novamente, Messi foi discreto. Di María decidiu a final contra o time da casa com um gol aproveitando falha de Renan Lodi, enquanto o camisa 10 tropeçou na bola cara a cara com Ederson em sua principal chance.

O triunfo, porém, serviu de combustível para o ferido ego argentino que vinha de tantas decepções. O time do técnico Lionel Scaloni emendou uma sequência invicta que só seria interrompida pela Arábia Saudita na estreia da Copa de 2022, o que até acendeu o alerta: uma derrota para o México no segundo jogo poderia significar a eliminação ainda na fase de grupos, um vexame completo. Mas Lionel Messi despertou.

O camisa 10, desde então, mostra nos gramados do Qatar uma versão que não apresentara com a camisa albiceleste. Lidera, decide, faz gols e dá assistências. É a técnica dos tempos áureos do astro do Barcelona de Guardiola com um poder de decisão maradoniano. O em geral quieto rosarino até provocou holandeses com um “tá olhando o que, bobo?” que já virou tatuagem para argentinos.

A final contra a França é o maior desafio que a equipe de Scaloni enfrentou. Os franceses apresentam a mistura da experiência dos atuais campeões do mundo com a novidade de atletas como Aurélien Tchouaméni e, claro, Kylian Mbappé em ótima fase. Mas nunca o rosarino chegou tão assustador em uma decisão por seu país. A Argentina não joga por Messi. É Messi que joga pela Argentina. O Lionel que fora ofuscado em outras partidas com a camisa albiceleste não está mais presente. Agora é o camisa 10 que brilha e quer fazer por merecer, enfim, uma Copa do Mundo.

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