A demissão de Ramón Menezes do Vasco, no dia seguinte à derrota por 3 a 0 contra o Bahia, pela 14ª rodada do Brasileirão, só não foi uma surpresa completa porque conhecemos muito bem como funcionam as cabeças da enorme maioria dos dirigentes do futebol brasileiro. O ex-jogador e ídolo cruzmaltino, vale lembrar, até pouco tempo vinha sendo exaltado pelo seu trabalho até ver os bons resultados serem substituídos por uma já esperada queda de rendimento, marcada por uma eliminação na Copa do Brasil frente ao Botafogo e pelo maior jejum de vitórias do clube em 2020 – seis partidas, com quatro derrotas separadas entre as competições.
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Mas ainda que a muleta do resultadismo possa aparecer como uma eventual justificativa, ela também não estaria correta. Ramón Menezes foi vítima da expectativa exagerada que o seu próprio time criou, através de um início surpreendente de Brasileirão que incluiu três vitórias seguidas, liderança momentânea e um apelido carinhoso que marcou o futebol jogado pelo Gigante da Colina – o Ramonismo. Entretanto, na linha do que diz um famoso ditado, muitas vezes a expectativa alta nada mais é do que o prenúncio de uma decepção.
O torcedor do Vasco, afinal de contas, não escondeu nem um pouco a felicidade ao ver o clube, ainda que por um breve período, voltar a se inserir entre as maiores potências competitivas do país. E fez muito bem, uma vez que todo torcedor merece sonhar – ainda mais uma torcida que se encontra em uma realidade que desafia até mesmo o ato do sonho. Este é o papel do torcedor, não do dirigente. E os dirigentes que assinaram a demissão de Ramón tomaram esta decisão sem um pingo de racionalidade: foram na onda da expectativa exagerada e acreditaram que deveriam estar em um lugar que não condiz com sua realidade.
O Vasco é um gigante do Brasil, clube grande e tradicional. Disso não há dúvidas. Mas, assim como é o caso de outros que também se inserem neste mesmo molde, hoje se encontra longe do status de potência esportiva. Uma potência esportiva pode não ser, necessariamente, um clube grande, mas sua ambição real é a briga pelos maiores títulos que possam, um dia, lhe dar o rótulo de grandeza. Da mesma forma, nem todo clube grande é uma potência esportiva: para isso, por exemplo, é necessário dinheiro para grandes contratações e estrutura da melhor qualidade possível – coisas que Vasco e outros não têm neste 2020.
Para a atual temporada, assim como em considerável parte dos últimos anos, o Vasco montou um elenco que tem como primeira opção a fuga do rebaixamento. Esta era a missão principal quando Ramón Menezes foi efetivado, e o treinador deixa São Januário com o clube na décima posição do Campeonato Brasileiro – e tendo um jogo a menos. Literalmente na metade da tabela. Isso quer dizer que o Cruzmaltino não seria rebaixado? Não. Mas diz que no momento o trabalho de Ramón tinha contornos positivos na luta para não cair.
E mesmo se nos apegarmos à frieza dos resultados, o trabalho de Ramón vinha, pelo menos, sendo melhor do que todos os dos últimos anos no Vasco da Gama. Em 16 jogos o “Ramonismo” teve 50% de aproveitamento em vitórias, a maior média desde a decepcionante campanha de Jorginho em 2016 (56%) quando o clube estava na Série B.
Os últimos treinadores do Vasco
- Ramón Menezes: venceu 50% dos 16 jogos em que esteve no comando
- Abel Braga: 29% de vitórias em 14 jogos
- Alberto Valentim: 41% em 41 jogos
- Jorginho (2018): 40% em 10 jogos
- Zé Ricardo: 44% de vitórias em 50 jogos
- Milton Mendes: 42% de vitórias em 26 jogos
Se demitiu Ramón foi pela ilusão de acreditar que o atual elenco - mesmo contando com alguns bons nomes como Andrey, Benítez, Castán e Germán Cano – seria capaz de estar no Top 4 do Brasileirão. Pela ilusão de acreditar que é uma grande potência esportiva que entra nos maiores torneios sonhando efetivamente com o título. O Vasco da Gama é gigante e seu torcedor espera que um dia esta volte a ser a sua realidade, mas ainda não é o caso. O Ramonismo terminou por ter sido refém da expectativa efêmera que acabou criando em um clube que sonha em viver uma realidade que hoje, infelizmente, não é a sua.

