Lionel Messi tem 37 jogos pelo PSG na campanha atual e participou diretamente, entre gols e assistências, de 39 tentos. Até o momento da lesão que ceifou mais uma de suas temporadas em Paris, a conta para Neymar era de 34 em 29 partidas. Ou seja, média igual ou maior a um gol por jogo. Uma certeza de bola na rede, praticamente. Coisa rara. Ainda assim, a dupla vem sendo alvo de protestos de torcedores do clube, que pedem as suas respectivas saídas. Uma situação que ao mesmo tempo é fácil e difícil de explicar.
Difícil de se explicar porque apenas Kylian Mbappé, o queridinho dos parisienses, decide mais no time. Messi e Neymar (o brasileiro, claro, quando está em condições físicas) são craques capazes de resolver qualquer tipo de jogo. Mas os protestos de parte dos torcedores, cujas ações foram repudiadas pelo clube, tem explicação fácil: pouco depois de 2011, quando o PSG foi adquirido pelo Qatar, apenas a Champions League passou a interessar. Tudo o que envolve o Paris Saint-Germain ficou refém desta única conquista, que ainda não aconteceu.
Para o PSG, as copas nacionais e o Campeonato Francês passaram por um processo semelhante ao que acontece no Brasil com os estaduais: são taças cuja importância só aparece sob o viés da ausência. Quando o PSG é campeão francês, não fez mais que sua obrigação. Quando não é, é uma vergonha. E, sejamos sinceros, tamanha é a distância de investimento dos parisienses em relação aos seus adversários locais que a verdade não é muito distante disso. Este é o nível de exigência quando o seu dinheiro é aparentemente infinito para contratações, e quando a competitividade doméstica não mostra estar à altura. A emoção diminui, a cobrança aumenta.
Neymar chegou ao PSG, em 2017, com a expectativa e responsabilidade de conduzir o clube ao tão sonhado título de Champions League. Quase conseguiu em 2020, mas sua história no futebol francês é marcada mais por lesões e rusgas com os próprios torcedores. Lionel Messi chegou em 2021, mas também não foi o bastante para realizar o sonho europeu. Mesmo tendo o argentino, os parisienses caíram duas vezes nas oitavas de final – com direito a pênalti perdido pelo camisa 30, contra o Real Madrid, em uma destas ocasiões.
As exibições brilhantes pela seleção argentina no caminho rumo ao título mundial de 2022 tiveram, como efeito colateral, um aumento da insatisfação parisiense direcionada a Messi, pois o seu nível no PSG não ajudou o clube a também alçar voos mais altos. E Messi também não pareceu se apaixonar completamente pelo Paris, como é o caso com a Albiceleste e foi o caso com o Barcelona, e a relação está a detalhes de terminar.
O problema, evidentemente, não está nas presenças de Messi ou Neymar, mas na forma como o clube passou a tocar sua própria existência. Se o fim desejado é o título da Champions League, grandes craques e uma grande equipe são os meios para se conseguir. Hoje, o PSG só tem os grandes craques... mas amanhã pode ficar sem nada.


