Faltando menos de 30 dias para o início da Copa do Mundo de 2022, no Qatar, há riscos de que o Irã seja eliminado do Mundial antes mesmo de estrear nesta edição do torneio. Após o argumento citado pelo CEO do Shakhtar Donetsk, Sergei Palkin, sobre uma possível troca da seleção iraniana pela Ucrânia, um movimento de jogadores e personalidades iranianas do esporte pedem a exclusão do país da competição.
Com assinatura do grande advogado Juan Dios Crespo, que firmou a contratação de Neymar pelo Barcelona em 2013, uma carta repleta de apoio de personalidades iranianas foi enviada à Fifa com o argumento de que o país oprime e exclui as mulheres do esporte, e por isso não deve participar da Copa do Mundo neste ano.
Um dos grandes personagens envolvidos nesta situação é o ex-jogador e ídolo do Irã, Ali Daei, atleta com mais partidas atuadas pela seleção do país. Apesar de sofrer grande repressão devido a seus posicionamentos, o ex-atleta é altamente ativo em suas redes sociais nas questões políticas de sua nação.
O que diz o comunicado enviado à Fifa para exclusão do Irã?
A jornalista e ativista iraniana, Masih Alinejad, foi uma das percursoras do movimento. A comunicadora publicou em seu Twitter, em 19 de outubro, a carta oficial, com legenda que diz: "Após dois anos de lançamento da campanha #Tahrim_Sports do governo talibã, posso anunciar que hoje foi dado o passo mais importante para eliminar a República Islâmica da Copa do Mundo do Qatar. Primeiro com a cooperação de atletas iranianos e agora com a ajuda de um grupo dos mais proeminentes advogados internacionais, através do processo legal de petição."
No comunicado, uma das principais argumentações relata que a Federação Iraniana de Futebol tem influência do governo nacional e com isso proíbe a presença de mulheres nos estádios. Para a Fifa, todas as federações nacionais que a ela sejam filiadas devem ser independentes, o que, portanto, não ocorre com a seleção do Irã.
"Se as mulheres não podem entrar nos estádios em todo o país, e a Federação Iraniana de Futebol simplesmente segue e reforça as diretrizes governamentais, ela não pode ser vista como uma organização INDEPENDENTE e livre de qualquer forma ou tipo de influência. Isto é uma violação do Artigo 19 dos estatutos da Fifa. Esta disposição foi, no passado, a premissa para a suspensão de federações de futebol como a FA do Kuwait, a FA da Índia e até mesmo a Federação Iraniana, no passado. A situação no Irã não é diferente do governo de um país que exige que a Associação de Futebol imponha uma proibição de estádios a pessoas de uma determinada raça ou etnia." - diz um trecho da carta.
De acordo com o estatuto da Fifa, as Federações devem ter total liberdade e independência de seu governo. Um exemplo dado no texto: imagine se o Estado que governa o país decida, portanto, mudar as regras de "impedimento" em todas as ligas de futebol daquela nação. Isso seria um envolvimento governamental na Federação.
GettyCom o caso da proibição das mulheres nos estádios iranianos não é diferente, já que a Associação de Futebol do Irã acaba obedecendo o que impõe o governo de seu país, infligindo a regra da Fifa. "A Federação Iraniana de Futebol claramente carece de autonomia para aplicar os Estatutos da Fifa pela carta, seus Regulamentos e, o mais importante, seus estimados valores", confirma o comunicado.
Outra citação na carta diz: mesmo que a Fifa concorde que não há influência direta do governo iraniano sobre a Federação de Futebol, existe então a violação dos artigos 3 e 4 do estatuto da entidade. Nele, está confirmado que a Fifa "respeitará e protegerá os direitos humanos reconhecidos internacionalmente", com relação a proibição da presença de mulheres dentro dos estádios de futebol. "Pelo artigo 16 dos mesmos Estatutos, o Conselho da FIFA tem poderes estatutários para tomar medidas drásticas e imediatas contra eles. O Conselho da FIFA pode e deve suspender imediatamente o Irã", finaliza a argumentação.
"A Copa do Mundo da FIFA é uma celebração da solidariedade internacional e da paz. A Fifa não deveria permitir a participação de um país que está perseguindo ativamente suas mulheres, atletas e crianças apenas por exercerem seus direitos humanos mais básicos. Fifa, o mundo está assistindo e esperando por suas ações." - relata o fim da carta, assinada pelo escritório de advocacia "Ruiz-Huerta e Crespo".
Até o momento, antes que haja uma decisão da Fifa sobre se a equipe será ou não excluída do torneio, o Irã está no Grupo B da competição, ao lado de Inglaterra, Estados Unidos e País de Gales. Caso seja eliminado, ainda não há confirmações de qual seleção complementará a Copa no lugar dos iranianos.
