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Metinho NXGN GFXGoal

Metinho: o "Pogba brasileiro" que já faz parte do Grupo City

Já faz algum tempo que o futuro do futebol brasileiro passa pelo bairro de Xerém, em Duque de Caxias, na região metropolitana do Rio de Janeiro.

É lá onde fica um dos celeiros de craques mais produtivos do Brasil: as categorias de base do Fluminense Football Club. Foi nos corredores do CT de Xerém onde nomes como Marcelo, Thiago Silva e Fabinho começaram suas trajetórias no futebol. Mas o trabalho da comissão técnica do Tricolor só parece estar melhorando.

Foi assim que Kayky, conhecido como “Neymar canhoto”, foi vendido ao Manchester City em uma negociação que pode chegar até a 21 milhões de euros, antes mesmo dos seus 18 anos. 

Outro jogador, porém, chama ainda mais a atenção na “geração de ouro” do Fluminense: o volante Metinho Silu.

Meio-campista com passadas largas, um chute poderoso, muita força física e a capacidade de encontrar companheiros com lançamentos longos, chegou a ser comparado com um dos grandes da posição.

“O pessoal brinca, chama às vezes de Pogba, pelo estilo físico, pela aparência, por jogar com a cabeça em pé.” admitiu Marcelo Veiga, coordenador técnico das categorias de base do Fluminense, em entrevista concedida ao "Esporte Espetacular", programa da TV Globo.

“Falta muito para eu chegar nele. Mas eu trabalho para isso, para quem sabe um dia ser melhor que ele,” brincou Metinho, com um sorriso no rosto, na mesma entrevista.

Não é só dentro de campo, porém, que o jovem gera manchetes.

No Brasil, um país onde muitos jovens talentosos precisam driblar adversidades como a pobreza e a criminalidade para brilharem no esporte, a história do garoto de 18 anos é tão especial quanto seu futebol.

Nascido em Matadi, na República Democrática do Congo, Meto imigrou para o Brasil com apenas um ano de idade, junto de seu pai, Abel.

Com apenas R$ 2 mil no bolso, a família Silu fugiu da perseguição religiosa e da guerra no Congo e resolveu vir para o Brasil.

O motivo da escolha pelo país? Abel era fã da seleção brasileira e queria ver seus filhos se tornarem jogadores.

A família deixou tudo para trás, atravessou continentes e apostou em uma nova vida a mais de sete mil quilômetros de Matadi. A nova casa da família Silu, então, era em Brás de Pina, na periferia da cidade do Rio de Janeiro.

Meto, ou “Metinho”, como ficou conhecido, em alusão a atletas brasileiros como Ronaldinho e Robinho, já chamava a começava a chamar a atenção dos grandes clubes do país.

Com 10 anos, atuava no futsal do Madureira, da quarta divisão, e recebeu uma oportunidade de ouro: o convite para jogar no Vasco da Gama, um dos maiores times do Brasil. 

“O Vasco queria ele. Foi o primeiro time que me procurou, me convidou para eu levar ele no Centro de Treinamento. Eu fui lá no Vasco e preenchi uma ficha.” relembrou Abel. “Quando voltamos pra casa, ele falou: ‘não, pai, eu quero jogar no Fluminense’.” 

Em sua primeira oportunidade de impressionar o time de coração, brilhou. Marcou três vezes em vitória do Madureira e fez a comissão técnica do Tricolor se perguntar: quem era aquele garoto franzino?

A família Silu apostou mais uma vez no desconhecido. E deu certo: o Fluminense bateu na porta de Abel e levou o garoto para Xerém.

Rapidamente, chamou a atenção de todos pela qualidade.

Não à toa, seis anos depois, foi convocado por Tite para compor os treinos da seleção brasileira em novembro de 2020, onde dividiu espaço com nomes como Neymar e Casemiro.

“O Brasil realizou meu sonho e do meu pai. Se não fosse meu pai ter visto o futebol daqui, sendo fã de Ronaldinho, sonhando de vir ao país comigo, eu não estaria aqui.” explicou o jovem, em vídeo gravado para a CBF.

“No começo, passamos dificuldades por não saber falar português. Mas meu pai foi aprendendo. Eu vim com um ano, aprendi e agora estou em casa. Aqui é a minha casa.”

Ainda que Metinho já pareça estar ganhando moral na seleção brasileira, é no Fluminense que o garoto surgiu como uma revelação.

Capitão do sub-17 do Tricolor, levantou a taça de campeão do Brasileirão em 2020, vencendo o Athletico-PR na final, em uma campanha arrasadora. E ainda foi vice na Copa do Brasil, com direito a goleada por 6 a 1 sobre o arquirrival Flamengo nas semifinais.

Não é exagero dizer que a torcida do Fluminense acompanhava os jogos da “geração de ouro” do sub-17 com o mesmo afinco do que os profissionais, por exemplo. E alguns desses garotos já começam a desabrochar.

Metinho só participou de uma partida nos profissionais do clube, saindo do banco de reservas para atuar 24 minutos contra a Portuguesa-RJ, no Campeonato Carioca. E seu nome foi um dos mais comentados pela torcida.

Se o Flu ganhou fama de ser “papa-títulos” na base, porém, viveu praticamente uma “década perdida” nos profissionais. Jovens como Metinho, então, costumam surgir com certa frequência, ganhar espaço... E serem negociados rapidamente, como é o caso dele.

Campeão do Brasileirão em 2010 e 2012, o Fluminense montou equipes com nomes como Fred e Deco, impulsionado pela parceria com a Unimed, operadora de planos de saúde, mas entrou em crise com o fim do patrocínio, e nos anos seguintes teve campanhas abaixo da expectativa, chegando a ser salvo do rebaixamento por uma virada de mesa em 2013.

Metinho, porém, conheceu os profissionais do clube em um momento bem diferente: com uma base forte, o time retornou à Libertadores em 2021, onde derrotou o River Plate na Argentina para se classificar para as oitavas de final no primeiro lugar de seu grupo.

E se o Fluminense conseguiu voltar à Libertadores, muito disso acontece devido ao seu trabalho em Xerém, seja revelando nomes para o time profissional ou vendendo promessas para evitar atrasos salariais e pendências judiciais. A venda, então, de um atleta tão promissor, torna-se inviável.

Em 15 de junho de 2021, pouco depois de completar 18 anos, o Fluminense acertou a liberação do garoto ao Troyes, braço francês do Grupo City, clube ao qual já estava negociado. Segundo o jornalista Fabrizio Romano, o Tricolor recebeu 5 milhões de euros pela transferência do atleta, que irá ganhar experiência até estar considerado pronto para integrar o elenco de Pep Guardiola no Etihad Stadium.

Há 30 anos, talvez Metinho fizesse história pelo Tricolor. Hoje, tudo indica seu destino como mais uma peça da engrenagem que faz a roda do futebol girar. Talvez, no futuro, em outro cenário, as próximas joias de Xerém possam ficar por mais tempo no Fluminense.

Enquanto isso não acontece, porém, o futuro do jovem segue sendo a Europa, onde seu potencial pode desabrochar para se tornar um meio-campista único, seja por seu potencial imenso ou por sua origem incomum.

A aposta de Abel Silu deu certo: o céu é o limite para Metinho, o congolês mais brasileiro do mundo.

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