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Mariela Coronel Argentina 2019Getty

Mariela Coronel: testemunha da transformação argentina volta à Copa aos 38

Quando a argentina Mariela Coronel entrar em campo na Copa do Mundo, poderá contar 16 anos desde que o fez pela última vez. Será um recorde entre as mulheres, repetindo o que alcançou o colombiano Faryd Mondragon entre os homens, como maior distância entre duas participações mundialistas na história. E isso diz muita coisa sobre o feito da meio-campista albiceleste.

Não que tenha as melhores recordações futebolísticas de 2003, quando foi titular nos três jogos da Argentina e saiu dos Estados Unidos com três derrotas e 18 gols sofridos. Nem que não trocasse a marca nas estatísticas oficiais da Fifa por uma sequência de cinco Copas seguidas.

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Mas se a Argentina anunciou a profissionalização de seu futebol há apenas três meses e Mariela, aos 38, já tem mais de uma década atuando na liga espanhola, não é exagero dizer que ela pode ser o elo entre o velho e o novo. Daquela equipe do início do século, de atletas amadoras tentando a sorte nos clubes argentinos, agora ao menos existe uma perspectiva de evolução local e novos voos para o estrangeiro.

"A melhor coisa que fiz na minha vida foi nunca ter parado de jogar futebol", disse a camisa 17 nas redes sociais ao Granada, seu clube atual.

A luta

Para essa Copa, Mariela percebeu mudanças na estrutura oferecida pela seleção argentina. As jogadoras hoje têm acesso às instalações da AFA no mesmo complexo dos homens, diferente dos tempos em que as mulheres se concentravam num hotel distante do centro de treinamento dos times nacionais.

Pior: não faz muito tempo, a seleção chegou a ficar sem técnico e sem jogos. Até que voltou Carlos Borrello, treinador das outras duas campanhas em Copas na história, em 2003 e 2007. No retorno, há dois anos, as jogadoras chegaram a anunciar uma greve, se recusando a treinar por protesto pelas condições apresentadas pela federação.

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Era setembro de 2017, e elas foram chamadas para se preparar rumo à Copa América do ano seguinte. Mas reclamaram não ter recebido o pagamento pelo período na seleção, sendo que aquela remuneração era a única de toda a temporada, já que não havia contratos profissionais com os clubes.

O estopim aconteceu num amistoso contra o Uruguai, em Montevidéu. Depois de pegar a estrada durante toda a manhã, elas tiveram de descansar no próprio micro-ônibus até a bola rolar, à tarde.

Mariela Coronel Argentina Germany Women World Cup 2003GettyCoronel, em disputa na partida contra a Alemanha pelo Mundial de 2003 (Foto: Getty)

Enquanto isso, surgia também a militância de Macarena Sánchez. A jovem jogadora começou a cobrar as autoridades do futebol e seu clube por melhorias para as mulheres, e ganhou notoriedade. Acabou dispensada pelo UAI Urquiza. Virou reportagem do Guardian em fevereiro deste ano mostrando que várias jogadoras no país arcam com todo o custo de suas carreiras, e que ela, no UAI Urquiza, recebia 400 pesos argentinos (cerca de R$35-40) por mês para gastos de transporte. Processou o ex-time após ficar sem ter onde jogar.

Em março, foi anunciado o início do futebol profissional na Argentina. Em abril, Macarena se apresentou como nova contratada do San Lorenzo. Agora, cada time do próximo campeonato nacional precisa ter ao menos oito atletas com contratos profissionais, e a AFA vai participar da ajuda de custo para tal.

Não deixa de ser um início importante, e claro que reverbera no ânimo da seleção.

Golaço

Fora das últimas duas Copas do Mundo, a Argentina entrava no quadrangular final da Copa América 2018, em abril, com um objetivo: ficar ao menos no terceiro lugar, que dava direito à repescagem por um lugar no maior torneio de todos. Considerando que o Brasil era o grande favorito à liderança, restavam Chile e Colômbia para medir forças.

A estreia, portanto, já tinha clima de mata-mata. E Salazar abriu o placar para as colombianas, carregando o resultado para o intervalo. Mas no segundo tempo a Argentina empatou com Bonsegundo, virou com Sole Jaimes e sacramentou a vitória com um golaço de Mariela Coronel. Mais veterana do elenco, ela atravessou o campo no contra-ataque, recebeu o passe e encobriu a goleira.

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Mas o time não conseguiu competir nas rodadas seguintes, perdendo por goleada para Brasil e Chile, que se garantiram na Copa. Ainda assim, ficou com o terceiro posto e foi para o playoff diante da seleção do Panamá, em novembro. E num jogo para a história em Sarandi, fez 4 a 0 na partida de ida e praticamente definiu o confronto, confirmado num empate por 1 a 1 na volta, dias depois.

A retomada mobilizou o país. O ex-jogador Juan Pablo Sorín, um dos grandes entusiastas do time das mulheres, apareceu eufórico nas redes sociais. E, claro, a vitória no campo impulsionou a luta que já era intensa havia anos. Pela primeira vez a equipe nacional fez uma excursão de amistosos preparatórios para o Mundial. Neste ano, fez três partidas na Austrália e mais quatro nos Estados Unidos. Agora, no final de maio, venceu o Uruguai em casa antes de seguir para a Europa.

Longa caminhada

Mariela jogou no Independiente e no San Lorenzo, até que no verão de 2007 conseguiu seu primeiro contrato europeu, com o Zaragoza. Quase uma década depois virou jogadora do Atlético de Madrid, brigando por títulos; atuou ainda no Madrid Club, e em 2017 foi para o Granada, sua camisa atual. Com a nova formatação das ligas espanholas, o clube acaba de subir para a Primeira Divisão B, segundo nível do país, atrás apenas dos 16 times da elite.

Na seleção, ela chegou ao Mundial de 2003 aos 22 anos, parte de um time muito jovem formado por jogadoras amadoras de camisas como Boca Juniors e River Plate. Em 2007, acabou cortada por lesão, e por isso apesar das duas convocações tem apenas uma Copa disputada com a camisa albiceleste.

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Agora, já são 9 as atletas argentinas que atuam no futebol europeu. Além de Mariela, mais sete estão na Espanha, e a centroavante Sole Jaimes, destaque recente do Santos, atua no campeão da Champions League, o Lyon. São só quatro remanescentes da chamada para o Mundial de 2007 - além de Mariela, seguiram Vanina Correa, Gabriela Chávez e Belém Potassa.

"Eu desfruto muito de tudo isso, dando meu melhor, treinando em dobro, ficando sozinha na academia. Me sinto muito bem fisicamente. Comecei a jogar aos 6, 7 anos. Eu e meu irmão escapávamos da siesta para a jogar bola. Todo o esforço vale a pena e hoje tenho a recompensa de jogar outro Mundial", disse em entrevista ao site argentino Grito de Gol.

E a aposentadoria?

"Com a idade que tenho e com tudo que joguei, hoje só penso em ser feliz".

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