O futebol está sendo cada vez mais impactado pela pandemia do novo coronavírus. O período sem jogos faz receitas de bilheteria, patrocínio, e direitos de TV despencarem e afeta os principais clubes do mundo. Mas, como sempre, as equipes de menor expressão sofrerão os maiores impactos. E olhando para o cenário nacional, os pequenos terão ainda mais problemas.
Muitos desses times tem os campeonatos estaduais como a maior oportunidade do ano e, muitas vezes, como a única competição disputada. Ao jogar com os times grandes do estado, tem a oportunidade de revelar jogadores, fazer caixa com vendas, aumentar a exposição da marca e gerar receitas melhores com patrocínio e bilheteria.
Com isso, todo o planejamento dessas equipes gira em torno dos regionais, o que faz com que boa parte dos jogadores de seus elencos tenha contrato até o fim de abril, período que costuma marcar o fim dessas competições. No entanto, agora a situação mudou drasticamente.
Com as paralisações por conta do Covid-19, existem duas opções: decretar o fim dos estaduais nesta temporada, ou retomá-los a partir de maio. E em reunião da Comissão Nacional de Clubes, realizada há dois dias, foi proposto que todos os campeonatos interrompidos sejam retomados.
Porém, a maioria das equipes, com exceção dos grandes, claro, perderá grande parte de seus jogadores em menos de um mês. Assim, os clubes terão que praticamente renovar seus elencos em 30 dias, ou terminar as competições com o que restou. A disparidade já é enorme, mas certamente irá aumentar.
No Paulistão, dos elencos das 12 equipes “pequenas” que disputam a competição, 34,2% dos jogadores tem contrato só até o fim de abril. Isso significa que mais de um terço dos atletas dessas equipes não poderão disputar as partidas que restam.
O caso do Santo André, especificamente, é ainda mais grave. O clube tem a melhor campanha da competição, à frente dos quatro grande de São Paulo, mas ficará sem 21 jogadores até o dia 22 de abril. Assim, o líder da competição perderá quase a totalidade de seu elenco para a fase mais importante do regional - a Federação Paulista entende que este é um problema solucionável e que uma reunião extraordinária para aprovar novas inscrições para as finais do torneio bastará.
Mas pensando em problemas como esse, a FIFA recomendou que o contrato dos jogadores deve ser renovado automaticamente ao final da temporada. Porém, segundo estudo das federações estaduais, isso não se aplica ao Brasil. O fim da temporada europeia corresponde ao meio da nossa e a legislação brasileira não contempla tal critério.
Gianni Infantino, presidente da entidade máxima do futebol, ao anunciar tal recomendação, foi claro, dizendo que isso poderá ser feito “nos países onde a legislação permitir”. Não é o caso do Brasil.
E enquanto clubes discutem reduções salariais, no Nordeste a situação é ainda mais complicada. Diversos times já anunciaram demissões por não poder bancar os salários nesse período sem receitas. O ABC de Natal já demitiu 30 funcionários. O Guarany de Sobral teve que ir mais além e dispensou todos os jogadores de seu elenco profissional.
Após o episódio, o Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Ceará (Safece) fez uma proposta para que o clube tente manter os jogadores no elenco. A CBF também anunciou que destinará R$ 19 milhões que serão divididos entre os clubes das séries C e D do Brasileirão, das séries A-1 e A-2 do Brasileirão Feminino, e entre cada uma das 27 federações estaduais. Mesmo assim, o diretor de futebol do Guarany considerou que o valor recebido pelo clube foi baixo.
É claro que os grandes também sofrem com a crise - o diretor financeiro do São Paulo, por exemplo, anunciou que espera um prejuízo de R$ 100 milhões no tricolor paulista - mas têm muito mais caixa, receitas e possibilidades para contornar a crise.
O momento é difícil para todos, mas, como sempre, o lado mais fraco será mais prejudicado. Um longo período sem futebol certamenté acabará com muitos clubes pelo Brasil.
