Roger Machado Bahia 16 07 2019Felipe Oliveira / EC Bahia

Demissão de Roger e o Twitter: presidente do Bahia bancou ou antecipou queda?

Na segunda-feira, às 19h45, o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, publicou na sua conta no Twitter uma longa explicação sobre o porquê da sequência do trabalho do treinador Roger Machado, ainda que entendesse os pedidos de troca no comando técnico. Na quarta-feira, 23h25, o perfil do clube anunciou a demissão do treinador.

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Entre a exposição na rede social e a confirmação da saída se passaram dois dias, três horas e quarenta minutos, mais cinco gols do Flamengo nas redes tricolores no Estádio de Pituaçu. Uma goleada que deixou o Bahia numa sequência de quatro jogos sem vitórias na Série A.

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Antes de enfrentar o atual campeão, Bellitani chamou o torcedor para um papo "reto, aberto e franco". Disse que a diretoria analisou vários fatores após o título estadual, e então decidiu seguir com Roger. Que havia uma meta de pontos a cada seis jogos, além de outros parâmetros para medir o trabalho do treinador. Depois falou que respeitava quem preferisse outra decisão, e que "segurar a pressão quando acreditamos ainda haver potencial para evolução é uma escolha que requer firmeza".

A repercussão foi gigantesca, mas pela forma, não necessariamente pelo conteúdo. Jornalistas o cumprimentaram pela transparência, falaram em aula de comunicação, elogiaram a clareza na transmissão das ideias. Aquela coisa: você pode até discordar, mas o responsável está se explicando publicamente.

O curioso é que, na ânsia de se elogiar a postura, parece que se ignorou o texto. Se é positiva a intenção de ser racional e coerente com as ideias ao invés de trocar de técnico a cada escorregão, Bellintani, ali, praticamente avisava que Roger estava por um fio.

O presidente falou em meta de pontos a cada seis rodadas, bem às vésperas exatamente do sexto jogo. Admitiu que foi considerada a troca de comando antes do campeonato começar. Disse que passou a "avaliar ainda mais" outros pontos, como liderança, respeito do grupo, envolvimento etc. Em outras palavras: alguém acreditava que Roger se manteria com uma derrota para o Flamengo?

É claro que, num ambiente de discursos prontos, debates interditados e gritaria nas redes, é ótimo que um presidente se comunique bem. É muito positivo que Bellintani venha a público elaborar seu raciocínio, contar ao torcedor o que tem pensado, compartilhar dúvidas e angústias sobre o difícil trabalho de tocar um time de futebol.

Mas não deixa de ser interessante que pouco tenha se comentado o real teor de sua fala. Se Roger perdesse para o Flamengo, fim da linha. O técnico estava previamente demitido antes de um dos jogos mais difíceis do campeonato, com a pressão de precisar ganhar do atual campeão do Brasil e da América. Faz parte do jogo, claro. Mas a impressão é de que a eloquência do mandatário teve a capacidade de desviar o real tom de sua publicação.

Por mais que Roger Machado tenha tido um trabalho até longo, de um ano e meio, e tenha sido respaldado num segundo turno ruim do ano passado e na frustrante Copa do Nordeste deste ano, a partida em Salvador era de sobrevivência, pura e simples. Parece claro que o time tinha problemas e a torcida vinha perdendo a esperança de reviver um bom futebol com o técnico depois de uma série de desempenhos ruins em jogos importantes. Nesse sentido, encerrar o ciclo parece justo.

Agora, por mais contextualizada e bem articulada que seja a fala de Bellintani, numa coisa a semana do Bahia se assemelha a de todo e qualquer clube de futebol no Brasil. É a lei do se ganhar, fica; se perder, está fora. A desenvoltura nas palavras e a reação instantânea das redes sociais pregou uma peça. Afinal de contas, o presidente bancou Roger ou antecipou sua queda? Fico com a segunda opção.

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