Vaias. Mais uma vez a insatisfação do torcedor em relação à seleção brasileira foi um dos principais temas depois de um jogo nesta Copa América 2019. Para piorar, o resultado da última terça-feira foi empate sem gols contra a Venezuela. O torcedor baiano manifestou a sua insatisfação com a equipe de Tite em quatro ocasiões dentro da Fonte Nova. Mais uma vez ficou evidenciado o divórcio entre quem está na arquibancada e os que estão em campo.
A primeira destas vaias foi ao final do primeiro tempo. Mas naquela ocasião elas foram respondidas com aplausos. A segunda foi quando Tite colocou Fernandinho em campo, com o agravante do aumento no barulho que traduz insatisfação. Mesmo assim, um certo tempo depois surgiram da arquibancada uma tímida, mas ainda assim existente, manifestação de apoio: quando o volante tocava na bola, era aplaudido. Chegou a ter o nome gritado um pouquinho também. O que reforça um lado pouco falado: o apoio. O torcedor também o demonstrou.
O que sobrou deste apoio, contudo, foi embora no período final depois que o gol marcado por Philippe Coutinho foi anulado. Houve gritos de “olé” a cada toque venezuelano e as vaias que surgiram após o apito final do juiz. Uma das reações de Filipe Luís, lateral-esquerdo do Brasil, foi marcante. Visivelmente contrariado, ele aplaudiu a minoria que manifestou o seu apoio. Nas entrevistas concedidas para a imprensa depois, o jogador deixou claro o quanto não gostou das vaias e o quanto elas atrapalham quem está em campo.
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“Eu entendo perfeitamente. O torcedor é assim, ele expressa o desejo dele, o sentimento dele. Claro que tem que aceitar essas coisas da partida: vaias, aplausos, pode vir tudo. O que muitas vezes a torcida não entende é que os maiores prejudicados somos nós, os jogadores em campo, com as vaias, e a própria torcida né? Quanto mais vaiar, pior o time vai render. Não é fácil jogar com vaia, por mais que todo mundo já tenha sido vaiado na vida, todo mundo já tenha passado por dificuldades e saiba jogar com pressão”, disse um dos principais nomes do Atlético de Madrid nos últimos anos. Um clube historicamente acostumado ao sofrimento, mas que tem uma das torcidas que mais apoiam o time durante os 90 minutos.
As vaias para Fernandinho, os gritos de “olé” e as vaias do finalzinho da partida provavelmente foram o que mais irritou o lateral, que defende a ideia de que vaiar seria aceitável somente após o término da partida.
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“A única mensagem é que eu posso dar é que eles vejam que todo mundo lutou e deu o máximo e o melhor que podia dentro do campo. Que não foi o nosso melhor jogo, com certeza não. Mas que a gente precisa deles do nosso lado, que eles apoiem no jogo, que depois do jogo que eles possam vaiar tudo o que eles quiserem”.
Filipe Luís e Richarlison fazem um diagnóstico certeiro do divórcio
Getty(Foto: Getty Images)
O momento mais interessante desta conversa foi quando Filipe Luís contextualizou o que dá força às vaias: o péssimo histórico recente da seleção brasileira, seja em Copas do Mundo ou Copas América. Richarlison também chegou a falar sobre o preço elevado do ingresso – já que mais uma vez o estádio não ficou completamente cheio. O lateral-esquerdo também fez um grande apelo ao dizer que o apoio é vital para as chances do Brasil nesta caminhada no torneio realizado aqui no Brasil.
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“Claro que a torcida está muito exigente pelo que aconteceu na última Copa América [eliminação ainda na fase de grupos], na última Copa [do Mundo]. O torcedor quer expressar também esta frustração que ele tem com a seleção, mas é uma outra geração e a gente precisa do apoio da torcida para poder render e para poder dar o nosso melhor no campo. Sem o torcedor vai ser impossível a gente ganhar”.
Getty Images(Foto: Getty Images)
Não é fácil: entre a cobrança do torcedor carente de resultados, que também deseja espetáculo, e o time que precisa entregar isso mas sente tanto as vaias ao ponto de cair de rendimento, quem vai mudar primeiro para quebrar este ciclo? Dar o primeiro passo é quase sempre a solução para resolver relações complicadas.
