Leva cerca de cinco segundos para ver porque tantas pessoas envolvidas com o futebol dos Estados Unidos estão encantadas com Cade Cowell.
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Não acredita nisso? Basta ver seu gol, marcado recentemente, contra o D.C. United. E não pisque.
Nesses cinco segundos, ele cruza a linha do meio de campo, em um movimento rápido pelo lado direito. Ele ganha do adversário na corrida, deixando-o para trás antes de cortar no para dentro. Ele então recolhe calmamente a bola, olha para cima, e chuta colocado, passando pelo goleiro, que até tenta a defesa.
Esse ritmo e essa objetividade que fazem de Cowell um jogador tão especial. Ele é um atleta de outro nível, mesmo para os padrões estadunidenses.
Com apenas 17 anos de idade, ele já tem o tamanho de homem adulto; 1,82m de altura, com uma forte parte superior do corpo e pernas que aparentemente não param de se mover uma vez que atingem velocidade warp.
Mas ser um atleta não é o suficiente para realmente se tornar uma força. Cowell sabe disso, assim como o seu clube, o San Jose Earthquakes.
E é aí mesmo que entra a parte assustadora. Cowell está começando a descobrir todo o resto fora desses momentos de destaque.
Cowell, que se tornou o mais jovem jogador dos Earthquakes - assinando seu contrato inicial com 15 anos de idade em 2019. Mas, foi só na última temporada, que ele realmente começou sua descoberta.
Ele fez 17 partidas para o clube em sua temporada de estreia - sendo que em quatro destas foi titular-, além de ter marcado um gol, dado uma assistência e muitos vislumbres de seu infinito potencial.
Mas, nesta temporada, algo está diferente. Em apenas cinco jogos, Cowell já tem dois gols marcados e três assistências.
E eles vieram de diversas maneiras. Tem havido corridas que mais parecem labirintos, cruzamentos em loop e bolas ao estilo de Kevin De Bruyne, que poucos no jogadores americanos poderiam sequer sonhar em acertar.
Se você prestar atenção ao futebol de Cowell nesta temporada, há algo nele que é muito melhor.
"Muito disso é fruto das repetições", disse Cowell em entrevista exclusiva à Goal. "Muitas vezes, sozinho, durante o meio de temporada. Eu realmente queria [marcar mais]. Eu poderia ter feito muitos gols um contra um no ano passado, durante minha primeira temporada. Este ano, isso não vai acontecer de novo".
"Tem que ser assim; tem que ser um resultado diferente. Quero causar um impacto. Eu quero que a bola entre".
Para entender como Cowell se transformou no atacante que é hoje, é preciso entender a sua criação.
Filho mexicano-americano de uma mãe poliesportiva e de um pai jogador de futebol universitário, Cowell naturalmente foi apresentado ao esporte durante seus primeiros anos de vida. Mas foi seu avô que o levou ao futebol, iniciando um time quando Cowell tinha quatro anos de idade.
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Cowell logo se destacou nas categorias infantis no sul da Califórnia, jogando por times como Modesto Ajax e Ballistic United. Ele e sua família percorreram toda a Bay Area, horas a fio, permitindo que ele finalmente chegasse à academia Earthquakes depois de marcar 33 gols em 32 jogos pelo Ballistic sub-15s em 2017-18.
"Mesmo assim, eu fiquei tipo, 'Sim, isso é legal'", diz ele. "Após a temporada, lembro que o Real Salt Lake, o Galaxy, os Quakes, assim como cinco grandes clubes queriam que eu fosse até suas instalações para conversar sobre um contrato profissional".
"Era simplesmente uma loucura. Eu nunca tinha pensado nisso, então foi quando fiquei tipo 'OK, talvez esta possa ser minha vida'".
Mas, ao longo do caminho, ele passou por dificuldades notáveis. Quando criança, Cowell lutou contra a doença de Osgood-Schlatter, um problema de joelho, que aflige as crianças com surtos de crescimento. A doença lhe rendeu muita dor durante toda a adolescência, o que o manteve fora de cena para as seleções juvenis dos Estados Unidos em momentos cruciais.
Mas, por causa disso, ele desenvolveu um amor pelo exercício, ao aprender a passar seu tempo levantando peso no ginásio improvisado no quintal de sua família.
"Fisicamente, foi bom, mas mentalmente, foi muito duro", diz ele sobre a dor do crescimento. "Aí está aquela barreira que você tem que superar".
"Para mim, foi fácil, porque eu sabia que o futebol seria minha vida, mas levar o futebol a sério, é difícil. Em alguns momentos eu chorava, não queria ir ou não queria jogar, mas meu pai me obrigava a ir. Esse primeiro passo é difícil, mas, depois disso, você adora".
Ele acrescenta: "Quando eu era mais jovem, tudo era sobre [Cristiano] Ronaldo, e, então, conforme eu começava a entender o futebol, mais eu assistia [Lionel] Messi e Neymar. É tão divertido vê-los jogar. É uma loucura."
"Adoro a ética de trabalho de Ronaldo, é uma loucura, mas só de ver Neymar e Messi, eles são tão divertidos de se ver".
Enquanto esses três gigantes ajudaram Cowell a seguir uma carreira no futebol, é uma lenda da MLS que provavelmente teve o maior impacto sobre o jovem até agora.
Em alguns aspectos, Cowell é tudo o que o colega de equipe Chris Wondolowski não é. Cowell é um atleta de elite e, por todas as suas conquistas, Wondolowski não é. O veterano atacante seria o primeiro a admitir isso.
Embora as habilidades físicas de Cowell sejam sua maior força, foi o cérebro de Wondolowski que o tornou o melhor marcador de gols da história da MLS. Durante anos, Wondolowski construiu uma carreira encontrando aquele espaço que ninguém mais pode e se colocando em posições que ninguém mais poderia ver chegar.
E isso faz dele o mentor perfeito para Cowell. As maiores fraquezas de Cowell são as maiores forças de Wondolowski e, se você assistir Cowell jogar, não é difícil ver a influência de 'Wondo' em seu futebol.
"É enorme porque é o que me falta", diz Cowell. "Ele me ajuda todos os dias nos treinos, como se vir algo que eu não estou fazendo, ele vai falar comigo e me orientar em cada pequeno detalhe".
"Ele vai me dizer, já que sou tão rápido, para esperar e esperar e esperar, então, quando eu chegar lá, estarei atacando a bola a toda velocidade. Coisas como essa ajudam muito".
"O tempo de tudo, como quando correr perto do gol, quando pular. Essa ainda é a parte mais difícil, mas é a coisa mais perfeita. O tempo é tudo, e para mim, ele sabe o tempo das coisas perfeitamente, e é por isso que ele se coloca nessa situação".
O gol de Cowell contra o FC Dallas, por exemplo, em que ele superou e driblou vários zagueiros em vez de apenas, espera-se, rasgar um chute.
Ou uma jogada que deveria ter sido um gol contra o Seattle Sounders, em que Cowell se colocou de volta naquele pequeno e espaço, o necessário para encontrar um bom chute, que acabou sendo apenas uma defesa ridícula de Stefan Frei.
Esse tipo de jogada tem muitos dedos de Wondolowski e, para Cowell, essa influência está começando a surgir.
"Eu acho que o mundo deste garoto", disse Wondolowski, em março. "Eu ainda posso chamá-lo de criança, isso também é algo meio alucinante, mas você apenas veja o trabalho que ele está fazendo".
"Eu treinei [com ele] apenas algumas vezes, e isso porque eu mal conseguia acompanhá-lo. Eu certamente me orgulho da minha ética de trabalho, mas a o quanto ele trabalhou neste meio de temporada, eu estou extremamente orgulhoso dele".
O jogador de 38 anos acrescentou: "Ele fala bem, é pensativo, carinhoso e é assim que ele se comporta fora do campo também. Acho que ele vai assim para vestiário, por isso quero que ele tenha sucesso. É divertido ver pessoas assim prosperando e acho que ele vai conseguir".
"Estou literalmente admirado a cada dia apenas com o exemplo que ele é e com ciúme puro dos atributos que ele tem. Mas sua ética de trabalho é o que vai levá-lo a esse próximo nível".
Wondolowski não é o único que quer o melhor para Cowell, o treinador dos Quakes, Matias Almeyda, também tem muita o que ensinar ao jovem jogador.
Jogador de duas Copas do Mundo pela Argentina, Almeyda desenvolveu uma reputação como um dos melhores do hemisfério quando se trata de trabalhar com jovens jogadores.
Almeyda se interessou particularmente por Cowell, mostrando vídeos de seu ex-colega argentino, Claudio Caniggia, um jogador que o treinador dos Quakes comparou ao seu jovem atacante.
Apesar da idade de Cowell, Almeyda acrescentou que ele acredita que o jovem tem um futuro brilhante na Europa. Ele já esteve ligado ao Barcelona, mas, apesar de toda a atenção que está começando a vir graças ao seu início na MLS, Cowell diz que está fazendo o melhor para se concentrar em si mesmo e em seu próprio futebol.
"Eu nunca penso nisso", diz ele quando perguntado sobre suas ambições na Europa. " Vou pensar sobre isso se chegar a hora. Então, se tudo for real, talvez seja a hora de pensar sobre isso, mas neste momento, não penso sobre isso, nunca. Eu só me concentro no aqui e agora".
Ele, no entanto, tem alguns objetivos a longo prazo em mente.
Depois de ser convocado para a seleção nacional em janeiro, tanto para o time sub-23 quanto para o principal, Cowell quer tentar aproveitar mais oportunidades na seleção para o futuro. Ele disse ter ficado supreso com a velocidade com que jogam neste nível e, depois de ter sentido o gosto, está determinado a sentir de novo.
Mas, antes disso, o maior objetivo de Cowell é continuar mostrando que ele pode fazer mais do que simplesmente passar pelos adversários. Ele está determinado a mostrar sua movimentação, o elemento que levará seu jogo para o próximo nível. Além disso, está esperando a a chance de mostrar que tem trabalhado seu pé esquerdo.
"Eu só não uso", disse ele rindo, "Mas eu posso! Posso usá-lo perfeitamente, às vezes".
Se essas peças se juntarem, as defesas da MLS têm um problema em suas mãos. Cowell já demonstrou a capacidade de atormentar uma linha defensiva, de mudar o jogo quase que instantaneamente com sua velocidade e força de jogo.
Mas Cowell quer mostrar que pode ser muito mais do que aqueles cinco segundos, para provar que pode ser um jogador que pode impressionar de maneiras diferentes nos próximos anos.
"Neste momento, eu sou um ponta. Gosto de driblar os jogadores um a um", disse. "De costas para o gol, ainda é um desafio para mim, mas assim que eu aprender a fazer isso, serei um camisa 9, acho eu".
"[Até agora tudo] pareceu uma grande conquista", acrescentou, "porque sinto que trabalhei muito duro neste meio de temporada para tentar melhorar. Acho que está tudo indo bem até agora".
"Eu só tenho que continuar para poder ser ainda melhor".


