“Se eu ficasse, provavelmente morreria”: a triste queda de Andy van der Meyde, antigo parceiro de Zlatan Ibrahimovic

Van der Meyde puxou o freio de mão, talvez ainda a tempo. Dez anos antes, o futebol do holandês ainda era promissor. Ele era um talento em ascensão no Ajax, um produto da famosa base dos holandeses. Rápido, tecnicamente forte, bom no um contra um, tinha cruzamentos afiados e precisos em plena corrida - van der Meyde era o epítome de um ponta moderno, e comparações com o grande Luis Figo não eram incomuns.

No entanto, o que a maioria e provavelmente ele mesmo considerou na época como o auge provisório de uma carreira gloriosa, mais tarde se revelou definitivo. Na temporada 2002/03, Ajax jogou inesperadamente bem, quase como aquele time do meio da década de 90 que contava com nomes como Clarence Seedorf, Edgar Davids, Patrick Kluivert, Marc Overmars e Jari Litmanen. 

Van der Meyde, com apenas 23 anos e já jogador da seleção principal, era a grande arma na ponta, conseguindo marcar onze gols e dar 14 assistências na Eredivisie.

No meio-campo, o jovem Wesley Sneijder e o jovem Rafael van der Vaart proporcionavam momentos de brilho; Nigel de Jong fazia a limpeza, e na frente atacavam Mido e um certo Zlatan Ibrahimovic. Especialmente com estes dois últimos, van der Meyde se dava muito bem. Porque ele sempre foi um pouco diferente dos outros garotos da escola do Ajax, que mal conseguiam lidar com os dois "Bad Boys".

"Éramos um grupo, os caras loucos", disse Ibrahimovic uma vez sobre ele, Mido e van der Meyde. "Andy me entendia e era fácil se tornar amigo dele. Parecia que ele vinha de um lugar onde estava constantemente em contato com pessoas como eu e Mido. Ele era um de nós e não era tão arrogante quanto os outros garotos holandeses."

Esportivamente, as coisas estavam indo muito bem naquela época. Em 2002, van der Meyde conquistou o campeonato e a copa com o Ajax, e em 2003, os jovens selvagens de Amsterdã chegaram às quartas de final da Liga dos Campeões. Eles só foram eliminados pelo futuro vencedor, o Milan, porque Jon Dahl Tomasson marcou o gol decisivo para os italianos no jogo de volta, em San Siro, aos 90 minutos.

Talvez por isso não tenha sido um bom presságio para van der Meyde voltar ao local dessa decepção poucos meses depois. Por 12 milhões de euros, ele se transferiu em 2003 para a Inter de Milão, a então aclamada terra prometida da Série A, que era visto como o próximo passo rumo ao Olimpo do futebol. "Eu fui o segundo melhor ponta do mundo atrás de Luis Figo. Às vezes penso que desperdicei meu talento", diz van der Meyde em retrospectiva. 

Apesar de ter marcado um gol admirável em um dos seus primeiros jogos pela Inter na vitória por 3 a 0 contra o Arsenal, na Liga dos Campeões, o primeiro ano na Itália foi bastante irregular. Embora houvesse momentos de destaque, ele passava a maior parte do tempo no banco, não havia um lugar certo para ele no sistema, já que queria constantemente criar pressão pelas laterais com sua imensa velocidade. Além disso, o treinador Hector Cuper, que o havia contratado, foi logo demitido, e as coisas pioraram sob o comando de seu sucessor, Alberto Zaccheroni.

Os poucos minutos em campo frustravam van der Meyde. E como ele não tinha uma verdadeira pessoa de referência em Milão e sentia falta do ambiente familiar de Amsterdã, acabou se entregando à vida noturna: "Antes da minha segunda temporada na Itália, eu praticamente nunca saía. Mas em algum momento percebi que, de qualquer forma, não jogaria mais. Então, comecei a sair e beber, era como uma fuga do futebol. Também apostava regularmente."

No meio de 2005, o Everton lhe ofereceu uma saída aparentemente lógica do mal-entendido com a Inter. Embora estivesse lesionado na época da transferência, os Toffees pagaram-lhe 37.000 euros de salário por semana. "O dobro do que eu ganhava em Milão", revelou mais tarde. "Comprei um Ferrari e a primeira parada era sempre o Newz Bar, um local badalado em Liverpool. Depois de algumas horas de bebida, dirigia-me ao clube de strip mais próximo. Claro, embriagar-se num clube de strip em Liverpool não era realmente inteligente. Mas eu tinha uma queda por mulheres nuas", disse ele ao Times.

De qualquer forma, van der Meyde teve bastante tempo para tais escapadas em sua primeira temporada na Inglaterra. Primeiro, ficou afastado entre o início da temporada até o final de outubro devido a uma lesão, depois novamente de dezembro até março. Apenas dez aparições na Premier League marcaram o ano de estreia dele no Everton. Nenhum gol, nenhuma assistência - mas muita frustração.

Os problemas com o álcool de van der Meyde tornaram-se cada vez mais graves; e, além disso, um caso com uma stripper fez seu casamento desmoronar. Ele não conseguiu lidar com o dinheiro todo e os contratempos esportivos. "Eu podia fazer o que quisesse, não havia mais limites. Então você logo se desvia do caminho certo e perde a noção da realidade." Sua esposa na época o fez ser seguido por um detetive particular em Liverpool, que acabou descobrindo o caso com a stripper. Já no clube, haviam brigas frequentes com o treinador David Moyes, e seu único consolo acabou virando o copo de whisky.

Andy van der Meyde: "Eu não conversava com ninguém sobre isso, andava por aí com uma máscara e fingia que tudo estava bem. Eu não sou do tipo que confia em outras pessoas e fala sobre seus problemas, nunca fui assim", explica van der Meyde. Em quatro anos no Everton, o jogador que era visto anteriormente como um dos mais promissores do mundo jogou apenas 24 partidas oficiais no total. Nas temporadas 2007/08 e 2008/09, foram apenas três participações. Seu contrato, logicamente, não foi renovado, e no verão de 2009, van der Meyde estava diante de um fracasso total. E piorou ainda mais, pois além do álcool, agora - sem ter absolutamente nada para fazer e vivendo sozinho em Liverpool - ele também se envolveu com drogas.

"Eu usei cocaína, bebi álcool e saía para festejar sete dias por semana", confessou ele mais tarde. "Eu não conseguia mais me concentrar no futebol ou em qualquer outra coisa. Minha vida girava apenas em torno de festas. Liverpool é perigoso quando você não consegue se controlar. Eu entendi que Liverpool me mataria. Então eu tinha que sair de lá."

E eis que chega a manhã em que Andy van der Meyde acorda do pesadelo dos últimos anos. Ele volta para Amsterdã, treina por um tempo com o Ajax. Na primavera de 2010, se junta ao PSV Eindhoven, querendo dar um novo impulso à sua carreira aos 30 anos. Afinal, ele ainda não estava tão velho. Mas o experimento falhou, e após alguns meses e nenhuma partida, ele já estava fora do PSV novamente.

Na primavera de 2011, o jogador que foi jogou 17 vezes pela seleção da Holanda encerrou finalmente sua carreira profissional, que poderia ter ido muito mais longe do que foi. Atualmente, ele conseguiu encontrar paz, construiu uma família e mora em sua terra natal.

Hoje ele aconselha jovens profissionais para que não cometam os mesmos erros que ele. Ele teria, por exemplo, avisado seu compatriota Royston Drenthe, no verão europeu de 2011, sobre uma transferência para o Everton. "Liverpool oferece muitas tentações para caras como nós", diz van der Meyde em um áudio vazado. "Antes que você perceba, os clubes noturnos te pegaram. O Bacardi flui e você está esquiando em cocaína. E as mulheres, Royston... Oh, cara! Essas mulheres inglesas com suas saias curtas..."

Hoje em dia, van der Meyde não tem muito a ver com o futebol. Em vez disso, ele é bem-sucedido no YouTube, com mais de 370.000 inscritos, e seu formato de entrevista "Bij Andy in de auto" é popular na Holanda. Ele já entrevistou estrelas como Romelu Lukaku, Hakim Ziyech e Dusan Tadic, enquanto seu velho amigo Mido, dos tempos de Ajax, também foi outro convidado. Inclusive, neste episódio eles detalham as vezes que sairam juntos e falam da parceria com Zlatan, que, ao contrário de van der Meyde, sempre buscou uma carreira ilustre no futebol. "É muito perigoso ganhar muito dinheiro quando você é tão jovem", diz Mido. "Você ainda é uma criança e, de repente, tem milhões no banco", concorda van der Meyde.

E ele sabia exatamente do que estava falando.