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Pep Guardiola Jose Mourinho GFX 16:9Getty/GOAL

Pep Guardiola virou um "novo" José Mourinho? Manchester City só vai regredir se o seu técnico ficar copiando o antigo rival

Ter perdido por 5 a 1 no mesmo estádio, em fevereiro, diante de um Arsenal menos forte que o atual, explica por que o City voltou a Londres com o freio de mão puxado. Outra derrota naquele nível poderia significar o adeus precoce às ambições de título na Premier League.

Para evitar isso, Guardiola armou um time mais conservador do que nunca. Como Mikel Arteta também escolheu uma escalação que demonstrava respeito, o City foi recompensado com a vantagem de 1 a 0 no intervalo, após contra-ataque mortal concluído por Erling Haaland. Mas a jogada, aos nove minutos, praticamente marcou o fim de todo o ímpeto ofensivo da equipe: dali em diante, criou-se apenas mais uma chance de perigo. No fim, não tem como reclamar do empate decretado por Gabriel Martinelli, com um lindo toque por cobertura nos acréscimos.

Fica a dúvida sobre para onde o City está indo. Será que ainda é um candidato real ao título ou está longe de concluir sua reconstrução? Guardiola conseguirá se reinventar para acompanhar a nova geração de técnicos?

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  • FBL-ENG-PR-ARSENAL-MAN CITYAFP

    Recorde negativo no empate com o Arsenal

    Não foi apenas a impressão ruim que o City deixou em campo: os números confirmam a estranheza. A posse de bola de 32,3% foi a menor já registrada por um time comandado por Guardiola, e com 11 jogadores em campo durante os 90 minutos.

    Na coletiva, o técnico afirmou que não foi proposital recuar tanto, mas sim um mérito do Arsenal, que teria imposto esse cenário: “Não aguento mais recordes nesse país!”, brincou Guardiola.

    “Estou orgulhoso. Temos que dar muito crédito ao Arsenal. Uma vez em dez anos não é ruim, né? Agora tenho um time em transição. Disse que não me importo com os resultados, quero ver o espírito de volta nos treinos, ver a equipe se divertindo. Depois vêm as táticas. Perdemos isso na última temporada e precisávamos recuperar. Nesta semana, recuperamos. Temos que continuar. A partir daí, aprender o processo, a tática, a forma como nos sentimos mais confortáveis para vencer jogos e termos orgulho de nós mesmos.”

    Perguntado se havia prazer em conseguir um resultado jogando de forma tão pragmática, Guardiola foi sincero: “Eu sofri! Quero a bola perto do [David] Raya, não do Gigi [Donnarumma].”

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  • Manchester City v Manchester United - Premier LeagueGetty Images Sport

    O papel de Donnarumma

    Falando em Donnarumma, é importante lembrar o motivo da sua contratação. Ele é um goleiro seguro e imponente, mas de perfil completamente oposto ao de Ederson. O brasileiro era talvez o melhor do mundo jogando com os pés, capaz de iniciar jogadas curtas ou longas, a ponto de muitos questionarem se teria nível para atuar como meio-campista.

    A escolha por Donnarumma não foi acidental. Em teoria, Guardiola sabia que teria em mãos um goleiro pouco confortável com a bola nos pés, uma das razões pelas quais o Paris Saint-Germain não fez esforço para segurá-lo, mesmo após o título da Champions League.

    “Não vou exigir que o Gigi faça o que não gosta”, disse Guardiola em sua apresentação. “Não pedimos que ele repita o que o Ederson fazia. Eles são diferentes.”

    Na prática, o City deixa para trás a era em que iniciava todas as jogadas pelo goleiro. Donnarumma não pode mais ser considerado um “jogador de linha” extra, e seu uso obriga a equipe a atrair pressão rival dentro da própria área.

    Algo parecido se vê na insistência do treinador em escalar o limitado Abdukodir Khusanov como lateral direito. Ainda assim, o usbeque foi um dos destaques do City no primeiro tempo contra o Arsenal, antes de ser substituído no intervalo.

  • Arsenal v Manchester City - Premier LeagueGetty Images Sport

    Elenco inadequado para novas táticas e adaptações

    Ainda assim, o City segue como um time em construção. Não apenas pela reformulação do elenco, mas também pela adaptação a uma forma completamente diferente de jogar. É verdade que conseguiram limitar o Arsenal a poucas chances no fim de semana, especialmente nos minutos finais, quando buscaram gastar o máximo de tempo possível, mas, mesmo assim, acabaram punidos. O instinto das estrelas de avançar as linhas deu o espaço que Martinelli precisava para empatar, e o brasileiro não perdoou. Historicamente, esse tem sido justamente o antídoto contra os times de Guardiola. Agora, é curioso ver os papéis invertidos.

    Talvez mais do que qualquer outro jogador do elenco, Rodri, vencedor da Bola de Ouro de 2024, nunca teve receio de criticar o que chama de “futebol negativo”. Após a eliminação para o Real Madrid, nos pênaltis, nas quartas de final da Champions League 2023/24, o espanhol desabafou: “Pra ser sincero, só vi um time. Em termos de defesa, eles defenderam bem. Souberam sofrer, e a gente sabe como o Real Madrid é duro. Mas, na minha opinião, deveríamos ter passado com a quantidade de chances que tivemos. Essa é a armadilha da competição”.

    Um ano antes, declarações ainda mais duras viralizaram quando a Espanha perdeu para a Escócia nas Eliminatórias da Euro. Na ocasião, Rodri criticou: “É o jeito que eles jogam, pra mim é uma porcaria. Sempre gastando tempo, provocam, caem toda hora. Pra mim, isso não é futebol. O árbitro deveria ter interferido, mas não fez nada. É frustrante, porque a gente quer ganhar, mas é difícil quando eles só perdem tempo. É o que é”.

    Contra o Arsenal, a saída de Haaland e a opção por jogar com até seis defensores em determinados momentos soou tão negativa que até surpreendeu o artilheiro norueguês. Não sabemos exatamente o que todo o elenco pensa da estratégia, mas talvez nem importe: a impressão é de que o grupo não tem o encaixe necessário para colocá-la em prática.

  • Manchester City v West Ham United - Premier LeagueGetty Images Sport

    Queda desde 2023/24

    Ironicamente, a ausência de Rodri por uma grave lesão no joelho (LCA) foi apontada como a principal razão para a queda do City na temporada passada. Sem o volante, coroado como melhor jogador do mundo, o time perdeu equilíbrio e virou presa fácil sem a bola. A avaliação tem fundamento, mas é difícil acreditar que apenas um atleta seja responsável pela derrocada de um elenco que havia conquistado quatro títulos seguidos.

    Hoje, já é possível dizer com clareza que o City está longe do nível das suas versões campeãs. Kevin De Bruyne, envelhecido e em outra fase da carreira, já não tem o mesmo impacto, e não surgiu ninguém à altura para suprir o vácuo criativo deixado por ele.

    O City costumava ser implacável, comparável apenas ao Liverpool de Jurgen Klopp em intensidade. Agora, perdeu esse diferencial. Após o empate com o Arsenal, Guardiola e Bernardo Silva reclamaram do calendário. É verdade que a maratona de jogos compromete a intensidade de qualquer equipe, mas isso levanta outra questão: por que o técnico decidiu reduzir o elenco de mais de 20 jogadores para pouco mais de uma dezena? O time se acostumou tanto a vencer que esqueceu como se reinventar, e a mudança tardia para um modelo mais reativo é reflexo disso.

  • FBL-ENG-PR-ARSENAL-MAN CITYAFP

    Fora da briga pelo título?

    Com cinco jogos disputados na Premier League, o City tem os mesmos pontos do Manchester United de Rúben Amorim. O time mais frustrado com o empate no domingo foi justamente aquele que marcou no último minuto. A diferença para o líder Liverpool já é de oito pontos, um cenário que, por si só, indica que os comandados de Guardiola dificilmente terminarão a temporada em primeiro lugar.

    Mesmo com Haaland em forma, tendo marcado 13 gols pelo clube e pela seleção em 2025/26, Rodri recuperado e Donnarumma trazendo mais segurança ao gol, o City nunca pareceu tão distante do topo logo no início de uma temporada. O histórico do clube mostra força em disputas diretas contra um rival, mas não em corridas a três cavalos. Além de superar e segurar o Arsenal, ainda terão de lidar com o Liverpool de Arne Slot, que conta com £ 240 milhões investidos em Florian Wirtz e Alexander Isak, e os dois ainda nem engrenaram juntos.

    A versão de auge do City de Guardiola engatava longas sequências de vitórias para atropelar rivais e conquistar títulos. O problema é que essa era já ficou para trás, e seria uma grande surpresa se conseguissem terminar como reis da Inglaterra novamente.

  • FBL-POR-LIGA-AVS-BENFICAAFP

    Declínio à la Mourinho?

    A grande questão que o City não consegue esconder é o próximo capítulo de Guardiola como estrategista. O técnico construiu uma carreira vitoriosa em menos de duas décadas e já figura entre os maiores da história.

    Mas quase ninguém consegue se manter no topo para sempre. Basta olhar para o seu antigo rival, José Mourinho, para entender como até os grandes podem se tornar obsoletos. O nível de competitividade e diversidade entre os técnicos da Premier League nunca foi tão alto, e qualquer queda de rendimento pode custar caro.

    O estilo de Mourinho sempre foi o de vencer a qualquer custo, geralmente protegendo o resultado. Nos primeiros anos, essa mentalidade trouxe taças e títulos incontestáveis. Com o tempo, o futebol evoluiu, e aquilo que antes era moderno passou a ser criticado como ultrapassado.

    As conquistas recentes de times que valorizam o jogo ofensivo, como PSG, Barcelona, Liverpool, além de Argentina e Espanha falando de seleções, mostram como o futebol atual privilegia o ataque. Defender a qualquer preço tornou-se um caminho muito mais arriscado diante da quantidade de talento ofensivo em campo hoje.

    Guardiola sabe que precisa se reinventar para manter o City competitivo contra Liverpool e Arsenal. Mas se buscar inspiração em Mourinho, corre o risco de acelerar, na verdade e sem querer, o declínio de um grande trabalho.

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