O declínio de Virgil van Dijk: o zagueiro de Liverpool e Holanda vai voltar a ser temido como antes?

Infelizmente, surgiram brechas no jogo de Van Dijk no último ano - e alguns diriam que elas já eram evidentes antes mesmo da final da Liga dos Campeões do ano passado, desde o momento em que sofreu uma lesão no joelho em 2020. Antes disso, até mesmo lendas como Franco Baresi estavam proclamando Van Dijk como o melhor zagueiro do mundo.

"Ele é quem realmente se destaca", disse o ícone italiano à FIFA, "Mostrou a qualidade, o caráter e a força que um zagueiro precisa para ser um líder bem-sucedido de uma equipe como o Liverpool".

No entanto, as coisas estão diferentes agora. A certeza deu lugar à dúvida. Hoje em dia, Van Dijk não é mais considerado um dos grandes nomes do esporte.

É claro que as comparações com jogadores como Paolo Maldini sempre foram absurdas. Só para contextualizar rapidamente, Van Dijk ainda jogava pelo Southampton aos 26 anos de idade; nessa fase da carreira de Maldini, ele já havia conquistado quatro títulos da Série A e três Copas da Europa com o Milan, além de ter sido vice-campeão da Copa do Mundo com a Itália.

Ainda assim, Van Dijk, no auge de suas forças, era algo realmente impressionante. Era quase impossível derrotá-lo no ar - ou no chão. Em um determinado momento, mais de um ano se passou até que alguém conseguisse driblá-lo em um jogo. Era melhor desistir e se poupar em vez de ser humilhado pela facilidade com que Van Dijk os ultrapassava antes de se virar e mandar a bola com frieza para um companheiro de equipe.

Ele também foi quase totalmente reverenciado por seus colegas. Em 2019, ano em que o Liverpool venceu a Liga dos Campeões e terminou em segundo lugar para o Manchester City em uma disputa épica pelo título da Premier League decidida por um único ponto, Van Dijk foi nomeado Jogador do Ano da PFA e também recebeu o prêmio de Defensor da Temporada da UEFA. Ele também recebeu a primeira de três inclusões sucessivas na Equipe do Ano da UEFA.

Mas então veio a lesão.

Em 17 de outubro de 2020, Van Dijk foi substituído aos seis minutos do clássico de Merseyside, no Goodison Park, depois de um choque com o goleiro Pickford, do Everton.

Van Dijk não voltou a jogar naquela temporada, e o Liverpool entrou em colapso sem seu principal jogador defensivo, deixando de ganhar um único troféu depois de ganhar quatro nos dois anos anteriores juntos. Somente uma incrível recuperação no final da temporada fez com que o time se classificasse para a Liga dos Campeões.

Aqueles foram dias ruins para Van Dijk. Ele passou incontáveis horas na academia para recuperar a forma física, mas depois admitiu que estava em uma "situação ruim" durante os nove meses de inatividade, compreensivelmente atormentado por dúvidas sobre se voltaria a ser o mesmo jogador.

Nesse sentido, a campanha de 2021-22 foi um triunfo pessoal para Van Dijk, que desempenhou um papel fundamental na tentativa corajosa do Liverpool de conquistar um tetracampeonato histórico depois de precisar de "três ou quatro meses" para voltar ao ritmo.

"Estou me sentindo muito bem agora", disse ele ao programa Between the Lines, antes da final da Liga dos Campeões com o Real Madrid. "E o mais engraçado é que posso ficar ainda melhor do que estou agora."

Van Dijk, como Owen havia previsto, teve poucos problemas com Benzema em Paris, mas o Liverpool perdeu um jogo que havia dominado com um gol de Vinicius Jr. Nem Van Dijk nem o Liverpool foram os mesmos desde então - e a forma do holandês não se tornou motivo de preocupação apenas em Merseyside.

A diferença é que, embora continue sendo idolatrado em Anfield, Van Dijk foi alvo de críticas no ano passado em sua terra natal, a Holanda. Ruud Gullit o acusou de arrogância e de defender "passivamente" desde que voltou de uma lesão, insinuando que ele não está mais se empenhando totalmente nos desafios. "É claro que ele pode ter um período ruim", disse o ex-jogador ao Ziggo Sport, "mas ele precisa ser um líder".

Mas esse é um papel para o qual Marco van Basten, lenda holandesa de Gullit, não acredita que Van Dijk seja adequado."Ele faz barulho, mas não diz nada", disse o atacante aposentado ao Ziggo Sport. "Ele não é claro [em suas instruções]."

"Um bom capitão pensa em voz alta, deixa claro o que está acontecendo, mas Van Dijk simplesmente cria o caos. Isso leva a mal-entendidos, que é o que você, como capitão, deve evitar."

Mais uma vez, Gullit concorda, argumentando que, se tanto a Holanda quanto o Liverpool têm problemas na defesa, "a responsabilidade é de Van Dijk".

Certamente, como capitão das duas equipes, ele deve assumir sua parcela de culpa pela instabilidade defensiva, e certamente não há como negar que o Liverpool está mais uma vez sofrendo muitos gols.

Os Reds mantiveram apenas um jogo sem sofrer gols até agora nesta temporada, e Van Dijk admitiu que mais uma "falha de comunicação" da linha defensiva foi a culpada pelo gol de empate do Brighton no último fim de semana, que terminou em 2 a 2.

No entanto, há um sentimento inegável de que a defesa foi exposta em todos os sentidos; que Van Dijk não só perdeu o controle da defesa que antes comandava de forma tão majestosa, mas também o seu próprio ar de invencibilidade.

Van Dijk sempre foi seu próprio crítico mais feroz. Ele mesmo admitiu que sua forma oscilou tanto quanto a do Liverpool no ano passado, admitindo que sua campanha teve "altos e baixos". No entanto, o início desta temporada não foi melhor. Houve vislumbres do antigo Van Dijk, mas ofuscados pelo tipo de erros que nunca vimos nele antes.

Ao assumir total responsabilidade pela suspensão de dois jogos que acumulou por reagir com tanta raiva à sua expulsão contra o Newcastle, ele ressaltou que aquele foi o primeiro cartão vermelho da sua carreira no Liverpool e confessou que a frustração havia lhe tirado o controle.

Foi uma admissão admirável, mas que apenas destacou a vulnerabilidade de Van Dijk. Em seu melhor momento, ele nunca teria feito uma dividida tão desajeitada contra Alexander Isak. Ou ter sido intimidado por Aleksandar Mitrovic. Ou ter sido atropelado por Gabriel Jesus.

Van Dijk está convencido de que pode voltar ao seu melhor, no entanto, tanto com o Liverpool quanto com a Holanda, que ainda luta para se garantir na Eurocopa de 2024.

No duelo dos holandeses contra a França de Mbappé, na última sexta-feira, a presença de Van Dijk não foi o suficiente para parar o camisa 10 adversário, que marcou os dois gols da vitória dos franceses por 2 a 1.

De fato, o restante desta temporada - que anuncia o início da fase final da carreira de alto nível de Van Dijk - terá uma grande influência sobre como ele será lembrado.

Ele nunca será considerado o melhor zagueiro de todos os tempos, como Owen também reconheceu. Mas levar o Liverpool ou a Holanda à conquista de um título importante lhe daria pelo menos uma chance de ser mencionado no mesmo tom de Maldini - e, sem dúvida, não há elogio maior do que esse para qualquer zagueiro.