+18 | Conteúdo Comercial | Aplicam-se termos e condições | Jogue com responsabilidade | Princípios editoriais
Clauss Daronco Edina GFXGOAL

Não é VAR ou necessariamente um juiz: o pior na arbitragem do futebol brasileiro é a falta de critério

Foi com a certeza de um Sherlock Holmes que surgiu a acusação: uma grande tramoia no Campeonato Brasileiro de 2023. O sistema não gostaria que determinado time fosse campeão. Parte da torcida deu apoio às palavras acusatórias. Afinal de contas, quem gosta de ser vítima de uma grande trapaça, de um grande esquemão organizado apenas para prejudicar algo ou alguém? A acusação de prejuízo intencional veio sem provas, como acontece na grande maioria das vezes.

As rodadas foram seguindo, uma atrás das outras, e quase tão recorrente quanto os gols marcados foram as variações do verbo “roubar”. Ditos das mais diferentes formas, pelas mais diferentes bocas, mas sempre em tom de revolta. Mudam-se as camisas, passam os anos e muita coisa segue igual no futebol brasileiro. É verdade que as temporadas mais recentes viram alguns erros surreais diminuírem, crédito da presença do auxílio tecnológico para a arbitragem, mas decisões quase que absolutamente questionáveis seguem tão presentes quanto sempre.

Em comum, a alternância de clubes prejudicados/beneficiados. Na maioria das vezes, funciona como uma roleta russa. Apesar da tentação de acreditar em teorias de conspiração, a verdade é que a impressão passada, especialmente em jogos dos campeonatos brasileiros, é de que nem mesmo os árbitros estão sabendo o que fazer. E é aí, e não especificamente no VAR ou nos Daroncos/Claus/Wiltons/Edinas da vida, que mora o grande problema. Um problema que, se ainda não te irritou, pode apostar, vai te irritar: a falta de critério.

  • A regra mudou e mudou de novo. E de novo... quem sabe a regra?

    Parte desta falta de critério é, também, fruto das constantes mudanças nas regras do jogo – ou, mais especificamente, em como interpretar determinada situação que acontece em campo. Quando bola na mão deve ser pênalti agora? Num piscar de olhos, as orientações foram mudando tantas vezes a ponto de ser muito difícil para todos conseguirem acompanhar. E os erros aí são de todas as partes: de quem altera tantas vezes uma lei, e de quem não divulga insistentemente estas mudanças.

  • Publicidade
  • Lance interpretativo: carta branca para justificar erros

    Estão nestas entrelinhas os grandes erros que revoltam todo mundo que ama futebol, exceção talvez aos árbitros e ex-árbitros que de alguma forma trabalham no espetáculo. Face aos mais diferentes lances polêmicos, a justificativa fácil é quase sempre a mesma: lance interpretativo (exceção feita ao erro grosseiro de um pênalti não dado no Corinthians x Grêmio).

    Neste Brasileirão, jogador do Tralalá FC deu uma duríssima entrada no adversário do Trelelé FC. Mirou a bola, mas não acompanhou a velocidade do oponente e acabou lhe alçando aos ares. O VAR chamou a arbitragem, que viu o lance incontestável e, após longos minutos, decidiu, contestando o incontestável, não expulsar o atleta do Tralalá. Motivo? Interpretação pessoal, e ponto.

    Na partida entre o Teco Teco contra o Taco Taco, um jogador recebe amarelo por acertar o cotovelo no rosto do oponente em uma dividida. Pouco depois, Déjà vu: o lance se repete mas o árbitro decide, desta vez, não dar o segundo cartão para sacramentar a expulsão. Falta de critério dentro da própria atuação, claro. Jogadores e torcedores do Teco Teco comemoram, aliviados. Dias depois, contudo, reclamaram quando um de seus jogadores foi expulso depois de ter acertado o cotovelo no rosto de um atleta do Biro Biro FC.

    Teve time que, ao reclamar de impedimento em lance de gol sofrido, escutou uma coisa para justificar a não participação de quem indiretamente participou do gol em questão, mas semanas depois teve um gol seu anulado porque, desta vez, tiveram uma interpretação diferente em relação ao seu jogador. Interpretação, aliás, é a carta branca usada constantemente para se evitar o constrangimento de reconhecer um erro de arbitragem. E surge como grande problema a ser resolvido.

    Não é que o futebol não possa ter alguns lances interpretativos, mas a margem de interpretação não pode ser gigantesca, desconexa e aleatória como é hoje.

  • Definir critérios e insistir em sua divulgação

    Como resolver o problema? Se fosse fácil, obviamente nem estaríamos aqui. Mas, vamos lá: a organizadora do evento precisa não apenas definir critérios de fácil compreensão, mas insistir que tais critérios sejam mais vezes divulgados em programas esportivos especializados e, também, antes do início dos jogos. É o famoso “combinado, não sai caro”.

    Não custa nada o torcedor/jogador/treinador/dirigente e até juiz saber, de antemão, quando um atleta participa ou não de um lance de impedimento ou quando uma dividida mais intensa deve ser punida com cartão. Ou quando uma jogada acaba, para gerar outra. Quando mão na bola deve ser realmente pênalti? O critério possibilita grande amplitude interpretativa? Que se diminua isso, então. A tecnologia está bastante avançada para ajudar.

  • ENJOYED THIS STORY?

    Add GOAL.com as a preferred source on Google to see more of our reporting

  • Acabar com o “nós contra eles” é fundamental

    Diminuindo a margem interpretativa, pode-se até lamentar eventualmente a regra e a definição de sua interpretação, mas não a falta de critério. Entendendo que um critério sério e constante foi seguido, diminui-se a narrativa de teorias da conspiração. Todo mundo sairia ganhando aí, especialmente (por incrível que pareça!) os árbitros e o campeonato.

    O pior na arbitragem brasileira não é necessariamente os árbitros – que, humanos que são, acertam e erram. É a falta de critério que deixa todos (torcedores, jogadores, juízes e etc..) desprotegidos, confusos e raivosos.

0