Muitos técnicos, nenhum título - Aventura de Cristiano Ronaldo pela Arábia Saudita é fracasso em taças e apenas as estatísticas individuais ajudam CR7

Mesmo com Cristiano Ronaldo, o Al Nassr ficou atrás do Al Ittihad no Campeonato Saudita em 2022/23 e foi superado pelo Al Hilal na temporada seguinte. Agora, a história se repete: o Al Ittihad lidera com 68 pontos, seguido por Al Hilal (62) e Al Nassr (60). Mesmo com chance de diminuir a diferença na próxima rodada, tirar o título dos líderes parece improvável.

Ronaldo, no entanto, deve ganhar um prêmio individual: já marcou 23 gols em 27 jogos na liga e lidera a corrida pela Chuteira de Ouro, engtregue ao artilheiro da competição, à frente de Toney (19), Hamdallah (19) e Benzema (18). Mas o francês do Al Ittihad deixou claro o que valoriza mais.

“Eu não ligo pra isso, meu amigo”, disse Benzema após marcar na vitória sobre o Al Ettifaq. “O mais importante é o troféu da liga.” A declaração viralizou e evidenciou a diferença de mentalidade entre os dois.

Cristiano Ronaldo sempre deu grande importância aos prêmios individuais. Basta lembrar o orgulho com que subiu ao palco para receber suas cinco Bolas de Ouro, algo que ele usa com frequência para reforçar sua posição na disputa com Messi.

No Al Nassr, parece que a maior motivação de Cristiano Ronaldo tem sido aumentar seu número de gols na carreira. Ele chegou ao gol de número 899 em uma vitória por 4 a 1 sobre o Al Fayha, em agosto, e depois revelou, em entrevista a Rio Ferdinand, que seu grande objetivo é alcançar os mil gols.

"Para mim, é a melhor marca que posso ter no futebol: primeiro chegar aos 900, depois buscar os 1.000 gols", disse o craque português. Na mesma conversa, ele alfinetou Pelé, que dizia ter feito 1.279 gols — incluindo jogos não oficiais. “Todos os meus gols têm vídeo. Eu posso provar”, afirmou Ronaldo. “Se eu não tiver lesões, quero esse número.”

Atualmente, ele soma 933 gols — número atualizado jogo a jogo pela GOAL (veja os números atualizados clicando aqui). Mas, até agora, Ronaldo não falou com a mesma empolgação sobre os objetivos coletivos do Al Nassr.

A cada partida, o foco maior acaba sendo se Ronaldo vai marcar novamente e se aproximar da meta dos mil gols. Sem querer, ele criou um show à parte que muitas vezes ofusca o trabalho do resto do time comandado por Pioli.

Chegar aos mil gols não é algo garantido para Cristiano Ronaldo. Para isso, ele provavelmente vai precisar jogar por mais duas temporadas — o tempo da renovação que, segundo a imprensa, ele já teria acertado com o Al Nassr. Mas não dá pra saber se ele vai conseguir manter o ritmo atual de gols.

Até agora, Ronaldo está a 11 gols de igualar os 44 que marcou na temporada passada. Isso mostra que ele ainda tem faro de gol, e o grau de dificuldade menos elevado da liga saudita ajuda. Mas é fato que ele não tem mais a mesma velocidade e mobilidade de antes.

Talvez o próprio Cristiano Ronaldo esteja percebendo isso. Após marcar dois gols na vitória por 3 a 1 contra o Al Hilal no mês passado, ele surpreendeu ao dizer: “Pessoal, vamos aproveitar o momento. Não estou correndo atrás dos 1.000 gols. Se acontecer, ótimo. Se não, tudo bem.”

Não é que Ronaldo tenha virado um cara modesto da noite pro dia — essa fala soa mais como um sinal de que ele mesmo começa a ter dúvidas sobre o futuro.

Até agora, CR7 não conquistou nada realmente importante na Arábia Saudita — exceto pelo aumento no salário. Para alguém do tamanho dele, isso é constrangedor, principalmente vendo o sucesso de outros astros que foram para lá.

Benzema, Fabinho e Kanté estão perto de um título com o Al Ittihad. Já Milinkovic-Savic, Mitrovic e Malcom brilham no Al Hilal. O Al Nassr também investiu forte, com nomes como Mané, Brozovic, Laporte e Jhon Durán, mas não teve o mesmo progresso.

Um motivo pode ser o foco excessivo no português.

No Manchester United, algo semelhante aconteceu em 2021: apesar dos gols, o time caiu de rendimento ao girar tudo ao redor dele. No Al Nassr, o cenário se repete. Técnicos como Rudi Garcia, Luís Castro e agora Pioli têm dificuldade para montar um time equilibrado, já que Ronaldo é sempre titular — e isso atrapalha o coletivo.

Para piorar, Ronaldo pode ter que ver Ivan Toney, ex-Brentford, levantar o troféu da Liga dos Campeões da Ásia neste fim de semana. Toney marcou na vitória do Al Ahli por 3 a 1 sobre o Al Hilal na semifinal. Se ele também brilhar na final contra o Kawasaki, terá feito mais em uma temporada do que Ronaldo em três pelo Al Nassr.

A eliminação do Al Nassr na semifinal foi desastrosa, especialmente porque a nova Champions League asiática — reformulada para 2024/25 — criou condições ainda mais favoráveis para os sauditas.

Antes, o torneio era dividido em duas regiões: Leste e Oeste. Agora, a partir das quartas, todos os times jogam entre si em partidas únicas, todas disputadas em Jedá, na Arábia Saudita — o que abriu até a chance de uma final entre clubes do mesmo país.

Isso não aconteceu nesta edição, mas o Al Ahli ainda pode ser apenas o segundo clube saudita campeão nos últimos 19 anos. Três times da liga chegaram às semifinais, mostrando o quanto o novo formato favoreceu os sauditas. Ainda assim, o Al Nassr desperdiçou a oportunidade.

O Al Nassr ainda corre risco de não se classificar para a próxima Liga dos Campeões da Ásia. Só os três primeiros da liga saudita garantem vaga, e o time de Ronaldo está na terceira posição. Uma derrota para o Al Ittihad pode abrir espaço para o Al Ahli, que vem logo atrás.

Ficar fora do principal torneio asiático seria mais um golpe para Ronaldo, às vésperas de outra Copa do Mundo com Portugal. Mas, pelo desempenho atual, não seria surpresa. O jogador que antes decidia jogos com talento e garra já não é o mesmo.

Hoje, Ronaldo segue competitivo, mas parece mais preocupado com seus próprios números. Suas atitudes em campo — muitas vezes explosivas — chamam mais atenção que seus gols. E como os títulos pararam de chegar, suas falhas ficaram mais evidentes.

Talvez o momento ideal para parar tenha sido a Copa de 2022. Ainda assim, seu legado como um dos maiores da história está garantido. Mas, se não conquistar nada por lá, o fim da carreira pode ser lembrado mais pelas frustrações do que pelas glórias.