Messi chega ao topo, enquanto CR7 mingua: os vencedores e perdedores da Copa

Gianni Infantino falou algumas polêmicas no Qatar. Ele tinha razão em relação a uma coisa, porém: a Copa do Mundo de 2022 teve a maior fase de grupos da história do torneio.

A terceira rodada gerou um nível de drama sem precedentes, com quase todos os jogos produzindo reviravoltas tardias. Isso nem sempre é o caso, é claro, mas a fase de grupos das 32 equipes apenas funcionou. Ela reduz o risco de partidas para cumprir calendário e aumenta a probabilidade de finais emocionantes. Além disso, permite uma forma conveniente de reduzir a competição para 16 equipes.

O único problema é que a Fifa só se deu conta disso agora. Em sua infinita sabedoria, eles já decidiram aumentar a Copa do Mundo para 48 equipes em 2026, portanto, agora, há um problema para ser resolvido. O plano era ter 16 grupos de três, mas até Infantino percebeu que precisava rever esse plano, porque grupos de quatro equipes é o que torna grande a primeira rodada.

No entanto, a solução mais óbvia, tal como está, é a reintrodução do formato horrível que permite que alguns dos "melhores" terceiros colocados avancem para a fase de mata-mata. E mesmo isso não vai resolver a questão de jogos mais insignificantes na terceira rodada. É uma bagunça. E uma de todas as criações da Fifa.

O garoto é uma aberração da natureza, um fenômeno natural, um talento enviado pelo céu destinado a reescrever os livros de história. Quando Didier Deschamps diz que a Copa do Mundo é a competição de Mbappé, ele está falando sério.

Este é o maior palco do esporte, mas ele está completamente à vontade nos holofotes. Ele simplesmente não se abala. Nunca.

Pense nisso: em algum momento você pensou que ele ia perder algum dos três pênaltis que sofreu contra a Argentina? E mais, quando aquela bola caiu para ele apenas 95 segundos depois de seu primeiro pênalti, você sabia que ele iria fazer um lindo gol, tal como foi em sua batida de voleio.

Mbappé é inevitável. Se ele se mantiver nessa forma, ele será um dos maiores jogadores da história.

Bem, pelo menos Fernando Santos foi demitido. Esse é o único ponto positivo a sair da Copa do Mundo de 2022 para Cristiano Ronaldo.

Entretanto, não há garantia de que o próximo treinador não chegará à mesma conclusão que o homem que o levou ao Qatar (e Erik ten Hag antes de Santos no Manchester United): uma equipe que tenta jogar de uma forma moderna de futebol está melhor sem um jogador que não pode (ou não quer) pressionar.

Este torneio era para ser sobre a redenção de Ronaldo. Era para lembrar a todos o que ele ainda tem a oferecer ao mais alto nível. Em vez disso, ele forneceu provas de seu dramático declínio, mas não precisava ser desta maneira.

Ronaldo não chegou ao bom nível no Qatar porque há algum tempo ele havia queimado sua reputação no Manchester United. Ele então imediatamente ateou fogo em sua relação com Santos e toda sua renomada carreira como esportista se transformou em fumaça.

Para um homem que fala muito sobre respeito, foi interessante que ele não teve meios para cobrar ninguém no Catar - nem seu treinador, nem seus companheiros de equipe, nem seus adversários e nem mesmo seus próprios torcedores.

Os melhores torcedores da Copa do Mundo? Os mais educados foram definitivamente os do Japão, que até ajudaram os voluntários a limpar depois dos jogos. Provavelmente deveríamos dar uma menção especial aos torcedores da Inglaterra. Nenhuma prisão é uma conquista histórica para os apoiadores dos Três Leões.

Enquanto isso, quem assistiu a um jogo do Marrocos dirá que houve um zumbido em seus ouvidos durante horas depois. Eles assobiaram em uníssono por cada segundo que sua equipe não tinha a bola, o que somou um pouco de tempo, dado que os jogadores de Walid Regragui se divertiram em sua abordagem de contra-ataque.

Em termos de apoio, porém, este torneio pertenceu à Argentina. Eles não apenas tomaram conta dos estádios por 90 minutos, mas os ocuparam até muito tempo depois de um período integral. O triunfo da Argentina no torneio realmente foi tanto deles quanto dos jogadores. Eles inspiraram visivelmente uns aos outros.

Arsene Wenger costumava ser uma das figuras mais respeitadas no futebol. Não mais. Um homem que costumava reclamar do congestionamento das partidas está agora pressionando para a expansão dos torneios existentes e a criação de outros.

Ainda esta semana, o lendário ex-treinador do Arsenal, que se tornou funcionário da Fifa, chegou a criticar a "negatividade" do debate em torno do bem-estar dos jogadores, apesar do fato de que aqueles que estão sendo instruídos a carregar a carga de trabalho extra estão mortos contra a introdução de mais e mais jogos.

Pior ainda, Wenger fez figura de tolo ao afirmar que os lados que fizeram declarações políticas no Qatar tiveram pior desempenho em campo, referindo-se às saídas antecipadas de Dinamarca e Alemanha, ignorando completamente o progresso histórico que está sendo feito pelo Marrocos, que aproveitou todas as oportunidades para destacar a situação do povo palestino. Foi um argumento tão absurdo quanto sua proposta anterior para uma Copa do Mundo a cada dois anos, mas ainda mais patético.

A Croácia, uma nação de quatro milhões de pessoas, acompanhou um vice-campeonato na Rússia em 2018, reivindicando o bronze no Qatar 2022. Luka Modric é o homem por trás do milagre. O meio-campista tem 37 anos e, no entanto, ele estava, como o técnico Zlatko Dalic salientou, jogando com a energia de um jogador de 20 anos.

Na verdade, Modric não é apenas incrível do ponto de vista técnico, ele também continua sendo um homem imparável, ganhando bola após bola no meio-campo. "Algumas pessoas pensam que este é o fim", disse Dalic, "mas eu acho que Luka Modric permanece conosco por muito tempo". Espera-se que sim, pois ainda é um privilégio observá-lo.

O que deu errado para a Alemanha no Qatar 2022? Bem, praticamente tudo.

"Nós concedemos gols muito facilmente", admitiu Ilkay Gundogan, "perdemos bolas facilmente e, na frente, perdemos chances de gol muito facilmente. É claro que, como Alemanha, temos que ter aspirações diferentes, por isso temos que olhar bem para nós mesmos. Simplesmente não conseguimos fazer o nosso melhor como um grupo, ou talvez até individualmente. Temos que questionar quais foram as razões e todos têm que se olhar no espelho e dizer a si mesmos que não foi o suficiente".

Esse período de auto-reflexão já está bem encaminhado, tendo a Alemanha voltado para casa há cerca de duas semanas, após uma segunda saída consecutiva da primeira fase da Copa do Mundo. Hansi Flick manteve seu trabalho como técnico para a Euro de 2024, mas Oliver Bierhoff já se demitiu do cargo de diretor administrativo da seleção alemã e da academia do país, sublinhando que os problemas são mais estruturais do que qualquer outra coisa.

O sistema futebolístico do país precisa claramente de uma revisão semelhante à que abriu caminho para o triunfo mundial de 2014 no Brasil, 14 anos depois de sua embaraçosa exibição na Euro de 2000.

Roy Keane definitivamente não era um torcedor do Brasil dançando para passar pela Coréia do Sul e chegar às quartas de final, sentindo que teria sido melhor se concentrarem no futebol. Ele vai argumentar que também estava certo, já que a seleção brasileira foi prejudicada pela Croácia nas quartas de final.

No entanto, Tite fazendo a "Dança do Pombo" com Richarlison continua sendo uma das imagens duradouras do torneio. Não foi nada, porém, comparado com a visão de Sofiane Boufal e sua mãe dançando em campo após a sensacional vitória do Marrocos sobre Portugal.

Foi uma expressão calorosa de pura alegria e uma lembrança oportuna do que todo este jogo deve ser: diversão. Como Roger Milla, o homem que trouxe o Makossa para a Copa do Mundo, memoravelmente disse, "jogar futebol e comemorar são a mesma coisa - isso é dançar". E ninguém - nem mesmo os "faladores" como Keane - vão expulsar isso do esporte.

Kevin De Bruyne estava certo sobre a Bélgica ser velha demais para ganhar a Copa do Mundo? Uma eliminação na primeira fase certamente confirma sua frase. Mas será que ele deveria ter dito isso? Absolutamente não.

Que De Bruyne assinou a publicação daquela entrevista após a Bélgica ter jogado - e vencido - seu jogo de abertura foi espantoso. Seus comentários se tornaram imediatamente uma distração para Roberto Martinez, e um osso de discórdia entre seus companheiros de equipe.

Ele evocou memórias da dramática retirada de Roy Keane da seleção da República da Irlanda antes da Copa do Mundo de 2022 com comentários feitos em um artigo de jornal. No entanto, Keane tinha apenas - e com razão - batido o padrão das instalações em Saipan. De Bruyne jogou seus companheiros de equipe para debaixo do ônibus. Uma amarga reação foi inevitável, particularmente porque De Bruyne provou ser uma decepção maior no Qatar do que qualquer outro jogador belga.

A campanha do Marrocos terminou com duas derrotas frustrantes, mas o desapontamento logo cedeu lugar ao orgulho. Como Kylian Mbappé disse a Achraf Hakimi: "Não fique triste, mano, todos estão orgulhosos de você. Você fez história".

E esse é o ponto. Nenhum time africano havia passado das quartas de final anteriormente. Bem, eles quebraram absolutamente o teto de vidro, redefinindo o que é possível para as nações subvalorizadas do futebol internacional quando o talento é combinado com organização, espírito de luta e muito apoio.

Walid Regragui afirmou antes deste jogo que sua equipe era a derradeira história de azar, o equivalente futebolístico de Rocky Balboa, e que o mundo inteiro havia se apaixonado por sua equipe. E ele está certo. Dima Maghreb!

Durante 90 minutos, parecia que o "tiki-taka" estava de volta. A Espanha anunciou sua chegada ao Qatar com uma aula de 7 a 0 sobre a Costa Rica que era tão enfática quanto fácil de ser vista.

No entanto, isso foi tão bom neste torneio, tanto para a La Roja quanto para o futebol de posse de bola. A Espanha caiu nas oitavas de final depois de ter a bola durante 78% do jogo com o Marrocos. Depois disso, jogadores como Rodri reclamaram que seus adversários não tinham feito nada de remotamente positivo durante o jogo. Na realidade, no entanto, foi a Espanha que não contribuiu com nada para a competição, a não ser mil passes.

Esta foi a posse com penetração zero e eles pagaram um preço pesado pela total ausência de variação em seu jogo. Naquele momento, já estava muito claro que este torneio tinha tudo a ver com transições rápidas e jogo rápido dos alas.

Não é por acaso que tanto a França quanto a Argentina chegaram à final depois de terem apenas 39% de posse de bola em suas respectivas semifinais contra o Marrocos e a Croácia, respectivamente.

Não importava muito quem ganharia a final de domingo. O Qatar já havia vencido esta Copa do Mundo. E isto apesar do fato de que eles se tornaram a primeira nação a cair na fase de grupos sem ganhar um único jogo, depois que seus supostos torcedores tinham desistido deles no intervalo de sua partida de estreia contra o Equador.

Para o estado do Golfo, o único objetivo era realizar uma competição bem disputada que permitisse aos torcedores e jornalistas se concentrarem no futebol. E eles alcançaram esse objetivo com a ajuda de Lionel Messi e Kylian Mbappé, dois futebolistas empregados pelo Paris Saint-Germain, que são propriedade da Qatari Sports Investments (QSI), que é uma subsidiária da Qatar Investment Authority (QIA), o fundo soberano do estado.

Nessas circunstâncias, em meio a todas as críticas e alegações de corrupção, isto não poderia ter corrido melhor para os organizadores do torneio. França contra Argentina, Mbappé contra Messi, foi a final dos sonhos. E eles até conseguiram um bisht para a apresentação do troféu (roupa utilizada por Messi quando levantou a taça).

O rosto de David Beckham esteve em toda parte no Qatar, mas sua voz nunca foi ouvida, o que era bastante esperado. Em meio a constantes apelos para que ele expressasse seu apoio à comunidade LGBTQ+ que o considerava um aliado há tanto tempo, o ex-capitão da Inglaterra permaneceu estranhamente silencioso.

Talvez seu lucrativo papel de embaixador do Qatar 2022 tenha tido algo a ver com isso. Ele pode ter ganho milhões como resultado de seu trabalho promocional, mas isso lhe custou muitos fãs.

Eles podem não admitir isso agora, mas muitos torcedores argentinos estavam contra a nomeação de Lionel Scaloni como técnico permanente da seleção nacional. Ele estava bem como treinador de manutenção, mas eles achavam que ele não tinha as credenciais necessárias para o cargo superior.

Bem, Scaloni agora ostenta um dos currículos mais impressionantes da história do futebol internacional. Na verdade, ele é apenas o terceiro técnico a ganhar tanto a Copa do Mundo quanto a Copa América, depois de Mario Zagallo e Carlos Alberto Parreira. Que história!

Quanta mágoa na Copa do Mundo um homem pode suportar? Neymar não experimentou quase nada além de dor física e emocional neste torneio.

Ele quase foi deixado paralisado por um duelo de fim de torneio no Brasil, em 2014. Ele foi fortemente criticado por sua atuação, após a saída chocante da seleção na Rússia, em 2018. E aqui, no Qatar, ele sofreu uma lesão na partida de abertura, contra a Sérvia.

No entanto, ele parecia ter folheado a narrativa nas oitavas, tendo marcado em seu retorno contra a Coreia do Sul e depois novamente contra a Croácia, com um belo gol, para se tornar o maior artilheiro de todos os tempos do Brasil. No entanto, um tento de Bruno Petkovic resultou em uma disputa de pênaltis que Neymar nem chegou a participar.

Mais uma vez, sua campanha na Copa do Mundo terminou em enchentes de lágrimas. "Seu legado está longe de estar completo", disse Pelé a Neymar. Foi uma tentativa de reafirmação, mas, dadas as circunstâncias, na verdade, foi mais como uma admissão de que este jogador supremamente dotado está condenado a nunca realizar todo o seu potencial.

Sejamos francos, a França não teve um desempenho completo na Copa do Mundo de 2022. Eles não dominaram um único adversário durante 90 minutos. Eles jogaram apenas em momentos, o que se mostrou suficiente para vê-los passar pela Inglaterra, além de forçar a prorrogação e penalidades contra a Argentina.

Houve circunstâncias atenuantes, no entanto. O plantel de Didier Deschamps foi abalado pela perda de vários jogadores de classe mundial, incluindo N'Golo Kanté, Paul Pogba e Karim Benzema, antes mesmo de o torneio ter começado.

Então, na abertura da Copa do Mundo, a campanha de Lucas Hernández terminou com uma lesão no joelho, enquanto o grupo foi duramente atingido por um vírus durante sua última semana no Qatar. É uma prova da força da França em profundidade, mas também do seu espírito de luta e da sua resistência ultrajante, que lhes foi negado um segundo triunfo consecutivo justamente nos pênaltis.

Deschamps e seus jogadores podem não ter levado para casa o troféu desta vez, mas continuam sendo uma equipe de campeões.

A Inglaterra trouxe um gato para casa. E um prêmio de fair play. Mas o futebol permanece frustrantemente fora de alcance para os Três Leões.

A boa notícia é que eles estarão entre os favoritos para ganhar a Euro 2024. Como sublinharam no Qatar, eles têm uma quantidade enorme de jovens talentos ofensivos. A decisão de Gareth Southgate de se manter no cargo também deve ser bem-vinda. O que quer que se pense sobre suas táticas conservadoras, ele fez um bom trabalho até este ponto e claramente mantém a confiança e o apoio de um esquadrão estelar.

Também não houve vergonha em perder para os atuais campeões, que tiveram a infelicidade de enfrentar nas quartas de final. Entretanto, isso não altera a realidade de que a Inglaterra desperdiçou sua melhor chance de ganhar a Copa do Mundo pela primeira vez desde 1966.

Eles dominaram a França em grande parte do jogo, assim como a Argentina fez para a maioria da final, mas simplesmente não conseguiram finalizar o trabalho. Mais uma vez. A Inglaterra teve inegavelmente os jogadores para ganhar um grande torneio, mas eles ainda não têm coragem ou convicção para vencer as melhores equipes nos maiores jogos.

É fácil entender por que Lionel Messi quer continuar jogando futebol internacional. Ele está desfrutando disso mais do que nunca, e isso se deve não apenas ao sucesso que desfrutou nos últimos 18 meses, mas também ao vínculo incrível que formou com Lionel Scaloni e seus irmãos.

No entanto, não há realmente necessidade de Messi continuar. Ele venceu tudo e fez tudo. Apesar de todas as suas incríveis conquistas em nível de clube, os poucos céticos que restaram costumavam colocar Messi sobre a sua falta de honras internacionais. Bem, ele agora acompanhou um sucesso na Copa América com uma vitória na Copa do Mundo. Messi completou o futebol.