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De "melhor que Harry Kane" a barrado no Flamengo: a queda de Pedro explicada e a única resposta possível

Não havia muita discussão quando, até semana passada, se perguntava quem era o melhor centroavante em ação no futebol brasileiro. Pedro, do Flamengo, aparecia quase sempre no topo da lista. E tudo bem. Estamos falando do segundo maior artilheiro rubro-negro deste século, um jogador dotado de habilidade destacável para concluir jogadas e que, sempre que entra em campo, carrega consigo a expectativa de marcar gols.

Mas alguma coisa parecia fora do lugar quando, em meio à expectativa para o duelo das oitavas de final do Mundial de Clubes de 2025, entre Flamengo e Bayern de Munique, vimos gente — e gente séria, famosos ex-jogadores e até alguns comentaristas — praticamente equiparando o futebol de Pedro ao do craque inglês Harry Kane. E ainda teve quem atestasse que o Queixada era melhor.

Como se fosse num contra-ataque fulminante, a discussão evaporou. Parece nem mais existir. Pedro não teve muitas chances no Mundial de Clubes e sequer entrou em campo na derrota por 4 a 2 contra o time alemão, partida na qual Harry Kane guardou duas bolas nas redes. O Bayern viria a cair para o PSG logo depois. Já a grande queda de Pedro demorou um pouco mais: na sala de imprensa do Maracanã, após vitória por 2 a 0 do Flamengo sobre o São Paulo, já no retorno das atividades do Brasileirão.

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  • Flamengo v Sao Paulo - Brasileirao 2025Getty Images Sport

    "Beirou o ridículo..."

    Pedro havia sido barrado pelo técnico Filipe Luís. Algo impensável um ano antes, quando Filipe sequer havia assumido o comando do Rubro-Negro. Pouco a pouco, notícias apontando que o comportamento do camisa 9 era a grande justificativa, em vez de algum eventual desconforto físico, estavam pipocando em todos os lugares. O jogador, inclusive, havia abandonado uma das atividades de treinamento ao longo da semana.

    Sem precisar subir o tom de voz, mas com discurso firme e palavras para qualquer um entender, Filipe Luís não fugiu da dividida ao ser perguntado sobre o tema.

    “O comportamento e a atitude do Pedro durante a semana... Foi lamentável, beirou o ridículo (...) não é de agora que ele vinha treinando muito mal. Só que, esta semana, ele rompeu, para mim, com um princípio claro que nós temos como comissão e grupo de jogadores, que é a cultura de treino. O que ele fez foi uma falta de respeito, a atitude dele nos treinamentos. E não duvidei em nenhum momento de deixá-lo fora da lista de relacionados, porque esse tipo de comportamento pode contagiar”, afirmou o treinador.

    Como se fosse um habilidoso jogador de xadrez ou um Rui Chapéu na sinuca, Filipe deixou Pedro sem saída. E sem justificativa válida perante sua torcida.

    “Não precisa me dar abraço, me dar a mão, me dar bom-dia. Precisa ser profissional e resolver no campo. Tenho certeza de que, quando ele fizer isso aí, eu vou estar esperando o abraço. Mas, se ele não quiser me dar, não tem problema nenhum. Eu quero ganhar. Se o Pedro quiser comigo, vamos juntos. Se ele não quiser, outros vão querer”, finalizou.

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  • Pedro Flamengo 2025Adriano Fontes/Flamengo

    Pior temporada desde 2020

    Poucas vezes se viu um treinador sendo tão direto ao cobrar um jogador que é protagonista de seu time. Com tamanha clareza, calma e razão, só não é inédito porque, no futebol, sempre existe um exemplo anterior. Nada é novo.

    A decisão de Filipe Luís foi justificada pelo comportamento de Pedro e pelo desempenho bem abaixo nos treinos. Mas até mesmo dentro de campo o desempenho não é aliado do camisa 9, que hoje apresenta sua pior média de gols por partida (0,29) desde que chegou ao Flamengo em 2020 — e uma das piores desde que virou jogador profissional, em 2016.

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    A comparação com Harry Kane

    Impossível não imaginar que uma queda desse tamanho possa ser explicada pela grave lesão que ele sofreu em setembro de 2024, durante um treino da seleção brasileira. A ruptura de ligamento em seu joelho esquerdo encerrou o que vinha sendo, até aquele momento, uma grande temporada: 30 gols em 43 jogos, faltando apenas cinco tentos para igualar seu recorde pessoal em um ano. Parecia questão de tempo para subir o próprio sarrafo, mas o que acabou virando questão de tempo — muito tempo — foi o processo de recuperação até seu retorno aos gramados, somente em abril de 2025.

    Pedro voltou a estufar as redes fazendo dois gols em goleada sobre o Juventude, resultado meio que esperado dentro do Brasileirão, mas a exibição nos 4 a 0 sobre o Corinthians, com dois gols e uma assistência, parecia marcar definitivamente o seu retorno após a lesão. Ali, em um grande jogo, contra um grande clube, o Queixada voltava a mostrar todas as suas capacidades futebolísticas. Jogador digno de buscar espaço na seleção brasileira? Claro. Um dos melhores do esporte jogado no Brasil? Sem dúvida.

    Mas daí a surgir, tão rápido, comparações realistas com Harry Kane, um dos melhores centroavantes do mundo em quase uma década, soou como delírio coletivo. No estalar dos dedos, Pedro (que não fez gols no Mundial de Clubes) saiu desse nível de comparação para memes de “preguiça de trabalhar nesta segunda-feira”. Entrevistas anteriores de técnicos que passaram pelo Flamengo, fazendo críticas que até então eram vistas como meio veladas em relação ao atacante, foram recuperadas e deixaram a situação ainda mais devassada. E aí, é impossível não se perguntar: por quê?

  • Palmeiras v Flamengo - Brasileirao 2025Getty Images Sport

    A única resposta possível

    Por que Pedro estaria insatisfeito, a ponto de não entregar o seu melhor nos treinamentos, se joga no clube de seu coração, disputando títulos e tendo seu futebol às vezes até mais exaltado do que deveria (no caso das comparações com Kane)? Impossível não imaginar que esta também seja uma história longa, que vem desde as várias vezes em que abaixou a cabeça para ser reserva de Gabigol, em sua chegada, ou quando lamentou a não liberação do Flamengo para sua participação na seleção olímpica que ganhou o ouro nos Jogos de Tóquio em 2021.

    A impressão é de que, no fundo de sua alma, Pedro possa ter achado que o Flamengo lhe devia algo. Alguma garantia de que, para ele, que passou por tantas coisas difíceis dentro do clube, a partir de agora as coisas lhe seriam facilitadas. Um devaneio. O seu azar foi ter acreditado nisso justamente tendo Filipe Luís, discípulo de Jorge Jesus e Diego Simeone, como técnico. Mas, no futebol, as coisas mudam muito rápido, vale lembrar. O azar de hoje pode ser a sorte de amanhã: a única opção que sobra agora para Pedro, após a exposição a qual permitiu ser submetido, é treinar sério, jogar como sabe e marcar gols como um dia esteve acostumado. Ele tem capacidade técnica para isso e está rodeado de grandes jogadores que podem lhe ajudar.