Konstantinos Karetsas: quem é a promessa grega comparada a Martin Odegaard que rejeitou o Manchester City

Karetsas nasceu na pequena cidade flamenga de Genk em 19 de novembro de 2007. Assim como muitos de seus atuais companheiros de seleção, ele nem havia nascido quando a Grécia viveu seu maior momento no futebol: a conquista da Euro 2004, uma surpresa que chocou o mundo.

Ele começou sua trajetória no futebol no Racing Genk, time local, subindo pelas categorias de base até se transferir para o Anderlecht, em Bruxelas, aos 13 anos. Mesmo ainda nas divisões juvenis, Karetsas logo se destacou como uma das maiores promessas da Bélgica no clube roxo e branco. Por isso, quando decidiu voltar ao Genk em janeiro de 2023, com apenas 15 anos, a imprensa local criticou duramente o Anderlecht por perdê-lo.

“A base do Anderlecht já viveu dias melhores”, escreveu o Le Soir na época. “Após o anúncio bombástico da saída do diretor Jean Kindermans, foi a confirmação da ida de Konstantinos Karetsas para o Genk — onde começará a treinar na segunda-feira — que realmente feriu os Mauves.”

Segundo relatos, Karetsas recusou assinar contrato profissional com o Anderlecht, repetindo o caminho de Romeo Lavia, que também deixou o clube rumo ao Manchester City anos antes. A decisão foi estratégica, abrindo caminho para seu retorno ao Genk.

O retorno de Karetsas ao Genk teria sido feito sob a promessa de que ele teria oportunidades tanto na equipe principal quanto na reserva antes de completar 16 anos. E isso se confirmou: em setembro de 2023, aos apenas 15 anos, ele estreou pelo Jong Genk, que disputa a segunda divisão belga, tornando-se o jogador mais jovem a atuar no futebol profissional do país. E mais — logo na estreia, deu a assistência da vitória por 1 a 0 contra o Beveren.

Durante a maior parte da temporada, Karetsas atuou pelo Jong Genk, registrando seis gols e cinco assistências em 20 jogos, até ser chamado para o time principal nos playoffs de fim de ano. Sua estreia no elenco profissional veio numa derrota por 4 a 1 para o Cercle Brugge, quando entrou no lugar de Bilal El Khannouss — jogador que ele naturalmente substituiria como principal criador da equipe após a transferência do marroquino para o Leicester City no verão. Depois de ficar no banco contra seu ex-time, o Anderlecht, na semana seguinte, Karetsas foi titular pela primeira vez contra o Royal Antwerp, então campeão nacional, e ainda deu sua primeira assistência pelo time principal.

Já para a temporada 2024/25, Karetsas recebeu a camisa 20 e foi oficialmente integrado ao elenco principal, mesmo ainda com 16 anos. O Genk sabia que tinha em mãos um talento especial e queria mantê-lo em evidência — e, o mais importante, o próprio jogador estava determinado a continuar no clube para lapidar seu jogo.

Em maio de 2024, o pai do jovem, Vaios, disse à imprensa:
“RB Leipzig, Milan e até o Manchester City nos convidaram várias vezes para ir conhecer os clubes. Mas não gostamos. O único time fora do Genk com quem conversamos foi o Ajax — apenas porque é perto e temos muito respeito por eles. Mas foi só uma conversa. A segunda conversa seria sobre questões esportivas e financeiras, mas nessa altura já havíamos dado nossa palavra ao Genk.”

Em nível pessoal, Karetsas teve uma primeira temporada completa bastante positiva atuando entre os experientes profissionais do Genk. Foi titular em parte considerável dos jogos durante a fase regular da liga, na qual o clube terminou na liderança. E embora a disputa pelo título tenha desmoronado nos playoffs, o jovem de 17 anos esteve longe de ser o responsável por essa queda — o Genk venceu três das cinco partidas em que ele começou jogando, mas não venceu nenhuma das quatro em que ele ficou no banco.

O grande enredo da temporada de Karetsas, no entanto, veio no cenário internacional. Depois de ser convocado para a seleção sub-21 da Bélgica, muitos esperavam que ele fosse promovido rapidamente ao time principal. Mas ele surpreendeu ao rejeitar a Bélgica e optar por defender a Grécia. O jornalista Stephen Kountourou disse à BBC Scotland:
“Tivemos que lutar com unhas e dentes com a federação belga para impedir que ele os representasse. Foi visto como uma grande conquista para o futebol grego, porque Karetsas não é apenas um bom talento — ele é considerado um dos principais nomes do futuro no cenário internacional.”

O próprio Karetsas explicou sua decisão:
“Se eu tivesse jogado pelos Diabos Vermelhos, sempre me arrependeria por não poder representar a Grécia. Eu me sinto realmente grego. Meu coração bate apenas pela Grécia — meu país me completa.”

A escolha foi rapidamente justificada. Em sua segunda partida com a Grécia, ele se tornou o jogador mais jovem a marcar um gol pela seleção, balançando as redes na vitória por 3 a 0 sobre a Escócia na Liga das Nações, em pleno Hampden Park.

Ao refletir sobre seus primeiros jogos com a camisa grega, Karetsas disse:
“Já sinto que pertenço a esta seleção. Estou muito feliz por ter tomado essa decisão. Enfrentei o Andy Robertson. Ele é um grande jogador, mas quando estou no um contra um, não vejo quem está na minha frente.”

Uma das principais vantagens de Karetsas ter apenas 1,70m de altura é a capacidade de se mover com leveza entre as linhas e deixar os defensores para trás com facilidade — mesmo que ele não seja particularmente veloz em longas distâncias. Defensores sabem do perigo que esse tipo de jogador oferece, mas quando ele é inteligente e escorregadio como Karetsas, torna-se extremamente difícil contê-lo. Apesar de ainda ter mais três anos como adolescente, o jovem já demonstra um entendimento de jogo muito acima da média e tem sido um verdadeiro pesadelo para as defesas da liga belga.

Apesar da estatura baixa — e da tendência comum de jogadores canhotos dependerem demais do pé dominante — Karetsas tem mostrado uma impressionante capacidade de finalização com ambos os pés. Ele consegue chutar com força e precisão, seja com a esquerda ou a direita, o que o torna perigoso em qualquer ponto do terço final do campo. Já é muito mais do que um atacante previsível — seu repertório é vasto e desafiador para quem o enfrenta.

Embora atue principalmente como meia central, Karetsas também pode ser escalado em qualquer uma das pontas, tamanha é sua facilidade para conduzir a bola da zona central para as laterais e vice-versa. Um papel mais livre permite que ele mostre o melhor do seu jogo, e sua imprevisibilidade com a bola nos pés faz dele um dos jovens mais empolgantes de se assistir no futebol europeu.

Embora o perfil físico de Karetsas traga vantagens claras, ele também apresenta algumas limitações. A principal delas é sua adaptação às exigências físicas do futebol profissional. Em certos momentos, ele evita o contato ou perde duelos físicos contra defensores mais fortes e experientes. Mas é preciso colocar isso em perspectiva — estamos falando de um jovem de apenas 17 anos.

Sua ascensão meteórica das categorias de base ao time principal também trouxe um certo grau de complacência. Acostumado a ser o melhor entre os colegas de idade, Karetsas nem sempre precisou se esforçar ao máximo para se destacar. Agora, no entanto, ele precisa começar a se doar mais pelo time, cobrir mais terreno em campo e demonstrar maior senso de urgência se quiser atingir todo o seu potencial.

Ainda assim, Karetsas é um jogador com inteligência de jogo acima da média para sua idade, e tudo indica que essa parte de seu desenvolvimento virá naturalmente com o tempo. Com maturidade e experiência, ele deve corrigir essas arestas — e um futuro longo e promissor o aguarda.

Existem várias semelhanças entre Karetsas e Martin Odegaard, tanto no perfil dos jogadores quanto no início de suas carreiras. Odegaard foi considerado o salvador da Noruega aos 15 anos e logo se tornou um dos maiores prodígios da história do futebol. Sua transferência do Stromsgodset para o Real Madrid logo após completar 16 anos não foi surpresa, mas apesar de passar seis anos no Santiago Bernabeu, ele não conseguiu se firmar, passando por diversos empréstimos bem-sucedidos antes de se juntar ao Arsenal em 2021.

Na Bélgica e na Grécia, um burburinho semelhante envolve Karetsas, ainda que o restante da Europa esteja apenas começando a acompanhar essa expectativa. A trajetória de Odegaard é a prova de que, mesmo que o desenvolvimento desacelere ou que o jogador chegue a um clube grande cedo demais, ainda há espaço para uma carreira brilhante no mais alto nível.

Dentro de campo, Karetsas e Odegaard compartilham as características típicas de um criador canhoto que atua no terço final. No entanto, Odegaard conseguiu superar sua estatura modesta e se firmar como um maestro de elite na intensidade física da Premier League. Isso deve servir de inspiração e modelo para Karetsas seguir.

Como Karetsas também saiu da academia do Genk, Kevin De Bruyne é frequentemente citado como ponto de referência, pelo menos do ponto de vista da carreira. Contudo, é improvável que Karetsas desenvolva a mesma potência e intensidade necessárias para se aproximar do estilo do lendário jogador do Manchester City que está de saída.

O Genk incluiu uma cláusula de rescisão de £35 milhões de libras no contrato de Karetsas, que ainda tem dois anos de duração. O jovem talento já foi ligado a gigantes da Premier League como Manchester United, Liverpool, Arsenal, Chelsea e Newcastle, enquanto clubes europeus de peso como Bayern de Munique e Napoli também demonstraram interesse. Caso Karetsas queira sair imediatamente, certamente não faltariam interessados dispostos a pagar esse valor.

No entanto, por ora, a melhor opção pode ser permanecer no Genk. Ele pode tentar novamente o título da Pro League belga na próxima temporada e garantir uma vaga nas competições europeias para continuar aprimorando suas habilidades. O tempo está ao seu favor, e se a Grécia garantir a vaga para a Copa do Mundo de 2026, será ainda mais importante para ele seguir acumulando minutos em um ambiente competitivo. O futuro é promissor para Karetsas, mas não há pressa para chegar ao destino final. “Os próximos passos serão dados com cautela”, confirmam pessoas próximas a ele.