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Harry Kane Bayern strikers GFXGetty/GOAL

Harry Kane no meio-campo? Bayern deveria vender o capitão da Inglaterra se não quiser aproveitá-lo no ataque

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Harry Kane marca gols. Essa tem sido a única constante em sua vida. Desde que foi dispensado pelo Arsenal ainda na escola primária, ele carrega um desejo incontrolável de mandar a bola para o fundo das redes.

Poucos jogadores na história — do esporte ou da humanidade — foram tão habilidosos em qualquer coisa quanto Kane é em colocar uma bola entre as traves. Por toda a vida, ele será lembrado principalmente por isso, especialmente agora que conquistou seu primeiro troféu, tirando esse peso das costas.

Apesar disso, o atual clube de Kane, o Bayern de Munique, parece ter outros planos. Notícias da Alemanha, divulgadas na última semana, indicam que há conversas nos bastidores na Baviera sobre a possibilidade de movê-lo para a função de camisa 10 — o que abriria espaço para a chegada de um atacante mais jovem para assumir o comando do ataque.

Mas considerar seriamente tirar Kane de sua posição natural é um erro. É uma leitura equivocada de quem ele é como jogador. E, se o Bayern realmente cogita colocar outra pessoa no comando do ataque, talvez devesse considerar vender o capitão da seleção inglesa.

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    Garantia de gols

    Desde o momento em que Harry Kane conquistou uma vaga regular no time principal do Tottenham — por volta do fim da temporada 2013/14, sob o comando de Tim Sherwood, curiosamente — ele se tornou uma das fontes mais consistentes de gols no futebol mundial. Até aqui, Kane soma 451 gols em 699 partidas por clubes e seleção.

    Se restringirmos esse recorte ao período em que se firmou como titular, a partir da campanha 2014/15, seus números impressionam ainda mais. Desde então, ele mantém uma média de 0,66 gols por jogo — ou seja, quase dois gols a cada três partidas. Nesse intervalo, terminou como artilheiro da Premier League ou da Bundesliga em cinco temporadas, incluindo a mais recente, conquistou a Chuteira de Ouro na Copa do Mundo de 2018 e na Euro 2024, venceu a Chuteira de Ouro Europeia e dividiu o Troféu Gerd Müller — o equivalente à Bola de Ouro para atacantes, entregue pela France Football — com Kylian Mbappé.

    Resumindo: Kane continua sendo um dos, senão o mais prolífico goleador do futebol de elite. Não há muito o que pensar quando se trata do papel que ele deve exercer em campo.

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    Potencial de armador

    Com Mauricio Pochettino, Harry Kane começou a dar os primeiros sinais de que podia expandir seu jogo. O atacante ocasionalmente recuava para distribuir passes e ajudar na construção das jogadas, embora isso ocorresse, na melhor das hipóteses, uma vez por partida — às vezes nem isso. Foi só com a chegada de José Mourinho ao Tottenham que sua atuação em campo se diversificou de forma significativa.

    O time de Pochettino era baseado em princípios de pressão alta e passes progressivos. No entanto, longas lesões sofridas por Kane em 2017, 2018 e 2020 acabaram comprometendo sua mobilidade e sua eficiência em liderar essa pressão ofensiva. Já a abordagem reativa de Mourinho, baseada em linhas recuadas e contra-ataques rápidos, passou a fazer ainda mais sentido com a mudança no perfil físico do camisa 10. Se Kane conseguisse atrair os defensores e afastá-los da linha de fundo, abriria espaço para seus companheiros infiltrarem pelas costas da zaga adversária.

    Após a vitória por 2 a 0 sobre o Manchester City, em novembro de 2020 — resultado que colocou o Tottenham na liderança da Premier League —, Kane explicou qual era sua função sob o comando de Mourinho:

    “Principalmente segurar a bola, especialmente quando estamos sob pressão. Ganhar faltas, trazer os outros para o jogo. No contra-ataque, se eu recuar, sei que há corredores atrás de mim. Felizmente, conseguimos aproveitar isso.”

    Naquele jogo, os gols foram marcados por Son Heung-min e Giovani Lo Celso, mas Kane foi eleito o Jogador da Partida pela Sky Sports. Gary Neville, inclusive, chegou a dizer que havia “tons de Zidane” em sua atuação. Após a partida, Mourinho comentou:

    “Talvez ele seja responsável por mudar a maneira como as pessoas veem um atacante. Normalmente, avaliam-se os gols — você é tão bom quanto o número de gols que marca. Há até uma Chuteira de Ouro para isso. Mas um atacante pode ser o melhor em campo mesmo sem balançar as redes. Não sei quem deu o prêmio a ele hoje, mas os parabenizo.”

    Kane terminou a temporada 2020/21 como apenas o segundo jogador na história da Premier League, depois de Andrew Cole, a liderar o campeonato tanto em gols quanto em assistências. Levou para casa a Chuteira de Ouro e o prêmio de Melhor Jogador.

    É fácil entender por que a ideia de recuar Kane permanentemente parece tentadora. Mas essa mudança também ignora o que ele tem de mais valioso: a capacidade de criar espaço para si e para os outros — e, claro, marcar gols com uma frequência que poucos na história conseguiram igualar.

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    Mudando mentes

    A determinação de Harry Kane em provar que todos estavam errados ao longo da vida conseguiu convencer até as mentes mais teimosas. Basta perguntar ao ex-treinador do Tottenham, Antonio Conte.

    Durante a Euro 2020 (disputada em 2021), enquanto trabalhava como comentarista na TV italiana, Conte elogiou Kane como um atacante completo, mas afirmou que, se o treinasse, imporia diretrizes rígidas:

    “Muitos elogiam Harry Kane por sua capacidade de buscar o jogo e participar da construção, como no gol de empate contra a Dinamarca. Claro, ele é bom nisso também, mas é dentro da área que ele é letal. Como treinador, eu sempre o manteria por ali, porque ele é devastador.”

    Mas quando Conte assumiu o comando do Tottenham no mesmo ano, a prática acabou desafiando sua própria teoria. Kane marcou 16 gols em 28 jogos da Premier League sob seu comando, mas quem terminou com a Chuteira de Ouro foi Son Heung-min, com 23 gols — empatado com Mohamed Salah, do Liverpool. Conte percebeu rapidamente que a parceria entre Kane e Son era mais produtiva justamente quando Kane recuava, atraindo defensores e abrindo espaço para que o sul-coreano atacasse os espaços.

    Restringir Kane à área, como inicialmente sugerido, teria diminuído seu impacto no jogo. Ele é um jogador que precisa participar ativamente da construção; do contrário, corre o risco de desaparecer em campo.

    Ainda assim, Conte nunca tentou transformar radicalmente a função de Kane. O atacante seguia sendo a principal peça ofensiva ao redor da qual a equipe era construída. Como Mourinho, o treinador italiano entendia que Kane rendia mais quando livre das amarras do papel tradicional de centroavante, mas também que isso só funcionava em um sistema bem estruturado, que permitisse explorar suas qualidades.

    Essa compreensão ficou evidente quando Cristian Stellini, técnico interino no fim da temporada 2022/23, decidiu improvisar e colocar Kane no meio-campo como uma espécie de “quarterback” na derrota por 3 a 2 para o Bournemouth. A experiência não funcionou. Sem outras ideias, Stellini tentou algo fora de contexto, e acabou facilitando a vida do adversário. A verdade é que o futebol não é tão simples quanto dizer: “Kane sabe fazer bons passes, então deve jogar mais recuado.”

  • FBL-EURO-2016-ENG-SWZAFP

    Aviso de Rooney

    Não é preciso ir muito longe no tempo para entender por que deslocar um atacante completo para o meio-campo não é uma equação simples. O exemplo mais emblemático disso é Wayne Rooney em sua fase final de carreira.

    Por 11 temporadas consecutivas, até 2015/16, Rooney atingiu dígitos duplos em gols na Premier League com a camisa do Manchester United. No entanto, quando Louis van Gaal assumiu o comando e implementou ajustes táticos que tornaram os Red Devils uma das equipes mais monótonas da elite inglesa, o ex-atacante do Everton passou a receber menos bolas em condições de finalizar. A solução improvisada de Van Gaal foi recuar Rooney para o meio-campo, transformando-o em um armador. Jogadores como Anthony Martial e Marcus Rashford passaram a explorar os espaços à frente, mas o plano raramente funcionou. Isso porque os adversários dificilmente concediam esses espaços ao United, e o alcance de passes do "novo meio-campista" se limitava, na prática, a inverter bolas para os laterais.

    Embora Rooney e Kane sejam comparáveis como dois dos jogadores mais técnicos da história recente da Inglaterra, há diferenças importantes. Rooney superou a marca de 20 gols em uma temporada da Premier League apenas duas vezes — e o United não foi campeão em nenhuma delas —, o que reforça a ideia de que ele funcionava melhor como segundo atacante do que como referência ofensiva. Além disso, o camisa 10 criado em Liverpool era fisicamente mais baixo, o que o tornava menos ameaçador no jogo aéreo, e já estava em queda de rendimento quando Van Gaal decidiu mudar sua função em campo.

    Ainda assim, esse caso mostra de forma clara que a teoria de recuar atacantes para aproveitar seus outros atributos técnicos nem sempre se sustenta na prática. Rooney e Kane são, respectivamente, os maiores artilheiros da história de Manchester United e Tottenham. E isso diz muito: no fim das contas, o que realmente importa são os gols.

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    Tentação Woltemade

    A posição única do Bayern de Munique como o maior clube da Bundesliga — com ampla vantagem — faz com que o time seja frequentemente o destino dos sonhos para jogadores do futebol alemão. Dentro das fronteiras do país, o Bayern é praticamente uma fusão entre Real Madrid e Barcelona, o que significa que toda jovem estrela em ascensão acaba, inevitavelmente, sendo ligada a uma possível transferência para a Allianz Arena — algo que, por si só, é quase um selo de qualidade.

    Depois de Benjamin Sesko, do RB Leipzig — que chegou a ser sondado por clubes da Arábia Saudita, mas demonstrou preferência pelo Arsenal —, o nome da vez nos jornais bávaros é o de Nick Woltemade, atacante do Stuttgart. O jogador de 23 anos começou a temporada 2024/25 fora dos planos da equipe, a ponto de sequer ter sido inscrito para a Champions League. Mesmo assim, encerrou a campanha com 17 gols em 33 partidas por todas as competições e atualmente comanda a seleção alemã na Euro Sub-21, onde já soma quatro gols e duas assistências em apenas dois jogos da fase de grupos.

    Com impressionantes 1,98 metro de altura, Woltemade tem sido comparado a Harry Kane, embora com um estilo diferente: no lugar dos passes longos característicos do inglês, ele aposta em dribles no estilo "slalom". Segundo os analistas estatísticos do FBRef, Woltemade está no 96º percentil mundial em dribles bem-sucedidos entre atacantes — e sua comparação estilística mais próxima é com Alexander Isak, do Newcastle.

    É possível que o Bayern esteja apenas fazendo sua lição de casa ao observar Woltemade, de olho em uma eventual transferência no futuro. Ignorar essa possibilidade seria negligente. Por outro lado, começar a preparar um sucessor para Kane neste momento soa precipitado. Aos 31 anos, o inglês ainda não dá sinais de declínio físico ou técnico — e, caso o plano seja escalar os dois juntos, é inevitável que um deles acabe sendo sacrificado em termos de rendimento ou protagonismo.

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    Manter ou vender?

    Parte da reportagem do jornal BILD sobre o suposto plano do Bayern de recuar Harry Kane para o meio-campo destaca um ponto-chave: a mudança já seria difícil de implementar, pois forçaria o extremamente talentoso Jamal Musiala a atuar fora de sua posição ideal. As dúvidas sobre como ele se encaixaria no mesmo time com Florian Wirtz, caso o meia tivesse optado pelo Bayern em vez do Liverpool, já eram suficientes — agora, essa ideia parece ainda mais complicada.

    Os vínculos do clube com possíveis reforços pelas pontas, como Nico Williams, Rafael Leão, Cody Gakpo e Kaoru Mitoma, fazem muito mais sentido do que investir em outro centroavante puro. É verdade que Kane talvez precise de mais descanso aqui e ali, mas ele continua sendo um jogador que exige estar em campo a todo momento — e deixa claro, repetidamente, que pretende competir em alto nível bem depois dos 30 anos.

    Se o Bayern está realmente disposto a gastar uma parte significativa do seu orçamento em outro camisa 9 apenas para deslocar Kane para o meio, faria mais sentido vendê-lo logo. Não há lógica em tentar forçar uma peça quadrada em um buraco redondo de maneira tão imprudente, especialmente quando ainda podem obter uma grande quantia por ele no mercado.

    Por outro lado, por que os campeões da Alemanha — e, talvez, do mundo no próximo mês — se desfariam voluntariamente de seu melhor jogador? Qualquer que seja o caminho que o Bayern decida trilhar, ele precisa começar com Harry Kane como centroavante titular. Se isso significar deslocar Woltemade ou qualquer outro talento promissor para outra função, que assim seja. Kane é a constante. Todo o resto se adapta a ele — e não o contrário.