+18 | Conteúdo Comercial | Aplicam-se termos e condições | Jogue com responsabilidade | Princípios editoriais
Nicolas Jackson Chelsea Bayern Munich GFXGOAL

Flamengo, Fluminense e até João Pedro! Como a sorte de Nicolas Jackson acabou no Chelsea e sua busca de vingança, agora no Bayern de Munique, no reencontro pela Champions League

Na reta final da última janela de transferências, o Bayern vasculhava a Europa em busca de um atacante versátil para reforçar o setor ofensivo. Após perder a disputa por Nick Woltemade, que acabou no Newcastle depois de os ingleses aceitarem as altas exigências do Stuttgart, o clube bávaro voltou as atenções para Nicolas Jackson, que havia sido jogado na lista de dispensas do Chelsea.

Isso apesar de o senegalês ter dado conta do recado nas duas temporadas como profissional em Stamford Bridge, se consolidando como uma das fontes mais confiáveis de gols do time.

Depois de uma novela de idas e vindas, Jackson acabou assinando com o Bayern por empréstimo, em um acordo com cláusulas para a compra obrigatória no futuro. Embora ainda esteja registrado como jogador do Chelsea, ele pode enfrentar o ex-clube nesta quarta-feira (17) graças às regras da UEFA, um detalhe que já causou dor de cabeça para os londrinos em outros anos.

Jackson pode até não assumir publicamente que busca vingança e diz ser grato pela oportunidade de ter vestido a camisa de um clube do tamanho do Chelsea. Mas, no fundo, terá a chance de dar um recado claro para a diretoria que o dispensou ao primeiro sinal de turbulência.

📱Veja a GOAL direto no Whatsapp, de graça! 🟢
  • FBL-ENG-LCUP-CHELSEA-BLACKBURNAFP

    Um novo atacante em um novo projeto

    A ascensão de Jackson como um dos atacantes jovens mais promissores do futebol mundial não foi linear. Sem conseguir se firmar no Villarreal, ele chegou a acertar com o Bournemouth em janeiro de 2023. Porém, uma lesão atrapalhou os exames médicos e os ingleses desistiram do negócio de £ 22,5 milhões.

    A frustração pareceu servir como combustível. Jackson terminou a temporada 2022/23 com nove gols nos últimos oito jogos da La Liga, garantindo a vaga do Submarino Amarelo na Europa League. O desempenho chamou a atenção de clubes maiores, e o Chelsea desembolsou £ 32 mi para levá-lo. Curiosamente, o anúncio oficial não trouxe declarações nem do jogador, nem do técnico Mauricio Pochettino, mas sim dos diretores esportivos Paul Winstanley e Laurence Stewart.

    “Estamos empolgados em receber Nicolas no Chelsea”, dizia a nota. “Ele é um jovem jogador com muito potencial, como mostrou no Villarreal na última temporada. Acreditamos que está pronto para o próximo passo em sua carreira e esperamos vê-lo trabalhando com nosso novo técnico, Mauricio Pochettino, e seus companheiros.”

    Depois do fiasco da temporada 2022/23, em que o Chelsea contratou veteranos em fim de carreira e jovens ainda muito crus, a chegada de Jackson sinalizava uma guinada de estratégia: investir em talentos com mais rodagem. Na mesma janela, chegaram Cole Palmer, Moisés Caicedo, Romeo Lavia e Robert Sánchez. Mas, para a posição de centroavante, a concorrência direta era apenas Armando Broja. Em resumo, a vaga de titular era dele para perder.

  • Publicidade
  • West Ham United v Chelsea FC - Premier LeagueGetty Images Sport

    Indisciplina sempre foi um problema

    O que ficou claro logo de cara é que Jackson não conseguia ficar fora de confusão. Nos seis primeiros jogos da Premier League, ele já tinha somado os cinco cartões amarelos que resultaram em suspensão automática. Quatro desses cartões foram por reclamação, e o quinto veio porque ficou na frente de uma cobrança rápida de falta do adversário.

    Pochettino, já pressionado em Stamford Bridge por causa do passado no rival Tottenham, chamou o atacante para conversar ainda em setembro de 2023.

    “Um atacante levar quatro cartões só por falar com o árbitro não pode acontecer. Se fosse por entradas duras ou outros lances, tudo bem, mas não por isso”, disse o argentino na época. “Ele é jovem, precisa evoluir. Vai ser um grande jogador, mas precisa de tempo. Tem que ser mais calmo na frente do gol, a confiança vai chegar. Mas também precisa ser esperto para não reclamar tanto. Talvez seja o jeito dele em campo, ou talvez porque as regras aqui ficaram mais rígidas nesta temporada. Ele veio da Espanha, e na Inglaterra a sensibilidade é diferente.”

    Jackson terminou sua primeira temporada na Inglaterra com 10 cartões amarelos, escapando por pouco de uma segunda suspensão porque o último veio após o limite estabelecido. Já na segunda temporada, recebeu sete amarelos, mas também o primeiro cartão vermelho da carreira.

  • FBL-ENG-PR-LIVERPOOL-CHELSEAAFP

    Gols não conseguiram salvar a reputação

    A percepção pública sobre Jackson é de que ele é um centroavante que precisa de muitas chances para marcar, além de ser duramente ridicularizado por alguns gols incríveis que perdeu. Ele chegou a ser comparado ao ex-Liverpool Darwin Núñez, que também vivia se posicionando bem para finalizar, mas desperdiçava diversas oportunidades.

    As discussões sobre o nível de Jackson viraram quase uma guerra cultural entre torcedores do Chelsea. Por um lado, ele fechou as últimas três temporadas com dígitos duplos em gols, sem cobrar pênaltis.

    Por outro, virou alvo da narrativa de que “qualquer outro centroavante teria feito o dobro de gols”, muito por conta da má fase que se arrastou por 12 jogos no fim de 2024/25. Até a virada do ano, havia balançado as redes nove vezes, mas depois marcou apenas uma.

    Vale lembrar, no entanto, que apenas Cole Palmer (43) marcou mais do que Jackson (30) pelo Chelsea desde a sua chegada, vindo do Villarreal dois anos atrás. Ele foi peça importante em um elenco jovem que poderia ter desmoronado com a pressão imposta pelos donos gastadores, mas conseguiu corresponder e conquistou dois títulos.

  • CR Flamengo v Chelsea FC: Group D - FIFA Club World Cup 2025Getty Images Sport

    A gota d'água para Maresca

    Jackson já estava por um fio no Chelsea quando a temporada doméstica de 2024/25 caminhava para o fim. A expulsão por uma entrada dura no início da derrota por 2 a 0 para o Newcastle quase custou ao clube uma vaga na Champions League. Felizmente para os Blues, seus companheiros reagiram sem ele e venceram os dois últimos jogos da Premier League, garantindo o quarto lugar.

    Mesmo assim, a diretoria seguiu no mercado atrás de outro atacante. Trouxe Liam Delap, do Ipswich, a tempo do Mundial de Clubes, e João Pedro, que se juntou na fase eliminatória.

    No começo da fase de grupos, Jackson ainda foi titular, mas logo perdeu espaço. No fatídico segundo jogo, a derrota por 3 a 1 para o Flamengo, ele entrou no segundo tempo e, apenas quatro minutos depois, foi expulso novamente. Tirando uma participação de 30 minutos contra o Fluminense na semifinal, nunca mais vestiu a camisa do Chelsea.

    Quando o clube iniciou os preparativos para 2025/26, o técnico Enzo Maresca confirmou que já não contava com o senegalês. “Ele está treinando conosco [no elenco principal], mas não vai ser utilizado. Vocês já sabem a situação. A janela está aberta. Ele pode sair, e vamos ver o que acontece”, disse o italiano em agosto.

  • FBL-EUR-C4-REAL BETIS-CHELSEAAFP

    Contratos de oito e nove anos

    O fim da passagem de Jackson serve como alerta para qualquer jogador do Chelsea: ninguém está a salvo do modelo de negócios do clube. O primeiro contrato do atacante ia de 2023 a 2031, mas após apenas uma temporada ele topou uma extensão até 2033.

    Qualquer outro clube talvez tivesse considerado um simples empréstimo o caminho mais sensato naquele momento. Jackson tinha acabado de completar 24 anos e não pode ser considerado uma contratação fracassada. O fato de ter recebido dois contratos longuíssimos em tão pouco tempo mostra que havia gente dentro de Stamford Bridge que ainda acreditava nele.

    Na época da renovação, em 2024, Jackson falou sobre a confiança da diretoria em comunicado oficial: “Estou me sentindo muito bem e muito feliz por renovar contrato e ficar no clube. É ótimo saber que o clube confia em mim. Estou trabalhando muito duro e muito contente por estender meu vínculo e seguir aqui por muitos anos.”

    Um ano depois, quem poderia imaginar que ele estaria do outro lado, enfrentando o Chelsea em um jogaço de Champions League?

  • FBL-GER-BUNDESLIGA-BAYERN MUNICH-KOMPANYAFP

    A novela maluca com o Bayern

    No fim de agosto, o Bayern topou levar Jackson por empréstimo com obrigação de compra em um pacote total de £ 70,5 milhões. O atacante viajou para Munique junto com seus agentes para fechar tudo, já sem espaço no Chelsea.

    Mas veio a reviravolta. Delap sofreu uma lesão muscular logo no início da vitória por 2 a 0 sobre o Fulham, na véspera da primeira Data Fifa da temporada. De repente, Maresca precisava de outro centroavante. A primeira ordem foi: chamar Jackson de volta, quando o jato particular dele estava pousando na Alemanha. O negócio tinha melado.

    Só que Jackson e sua equipe não aceitaram. Eles queriam o Bayern, e o Bayern também queria o jogador, já que o Chelsea não. Uma lesão não deveria mudar o rumo da história. Depois de alguns dias de negociação, no apagar das luzes da janela, os Blues liberaram Jackson, mas tiveram de acionar Marc Guiu, de volta de empréstimo no Sunderland, para tapar o buraco.

    Apesar de Bayern e Jackson planejarem uma relação longa, o clube já precisou lidar com uma polêmica. Uli Hoeness, presidente honorário e lenda bávara, detonou os termos da obrigação de compra. “O jogador e o agente dele contribuem com € 3 milhões, então nós pagamos € 13,5 milhões de taxa de empréstimo. Mas não vai haver contrato em definitivo. Isso só aconteceria se ele fosse titular em 40 jogos, e isso nunca vai acontecer”, disparou.

    Jackson, no entanto, preferiu baixar a poeira. “Sei que [Hoeness] é uma grande lenda do clube e tenho muito respeito por ele. Já o conhecia de antes. Meu trabalho é apenas jogar e ajudar o time a vencer. Não estou pensando no número de jogos. Quero conquistar coisas grandes aqui”, respondeu.

  • SV Wehen Wiesbaden v FC Bayern Muenchen - DFB Cup: Round OneGetty Images Sport

    Selo de aprovação de Kane

    O técnico do Bayern, Vincent Kompany, menos envolvido em negociações do que a maioria dos treinadores na Inglaterra, mostrou satisfação em receber mais uma peça útil para o elenco e que se encaixa na sua visão de jogo.

    “[Jackson] é um jogador jovem, com muita qualidade. Vai ser uma grande ameaça com sua velocidade e capacidade ofensiva”, disse na semana passada. “Nós somos sempre muito flexíveis no ataque, e eu acho isso positivo. É por isso que o perfil de Nicolas Jackson se encaixa perfeitamente. Ele terá um papel importante na próxima temporada.”

    Além do treinador, o astro Harry Kane também se mostrou animado para jogar ao lado de Jackson, elogiando o senegalês após a goleada por 5 a 0 sobre o Hamburgo, no último sábado: “Se você acompanha a Premier League, sabe que ele tem muitas qualidades. Cria muitas chances. E está aqui para ajudar o time. Já estamos trabalhando juntos nos treinos e finalizando juntos.

    “Acredito que ele pode ter um grande impacto para nós nesta temporada, com sua velocidade, movimentação e gols. É uma ótima adição ao grupo. Eu não o conhecia muito bem. Jogamos contra ele no meio do ano [Inglaterra x Senegal], e ele deixou uma ótima impressão, fez uma grande partida.”

  • FBL-ENG-PR-BRENTFORD-CHELSEAAFP

    Chelsea deve ficar atento

    Historicamente, o Chelsea já sofreu contra jogadores emprestados. Na semifinal da Champions League 2013/14, por exemplo, enfrentou o Atlético de Madrid de Thibaut Courtois. O time de Diego Simeone venceu por 3 a 1 no agregado e avançou à final, com o goleiro belga sendo decisivo nos dois jogos.

    Hoje, os Blues enfrentam outros problemas. No fim de semana, tropeçaram em um empate com o Brentford e parecem cada vez mais dependentes de duas peças-chave: Cole Palmer, que voltou recentemente de lesão muscular, e Moisés Caicedo.

    Maresca já culpou a participação no Mundial de Clubes pela lista crescente de jogadores no departamento médico. E, ao contrário da temporada passada, quando pôde rodar bastante o elenco na Conference League, agora terá de ser muito mais criterioso na Champions League.

    Para boa parte do elenco, será a primeira experiência na principal competição de clubes da Europa. E seria até simbólico se justamente um jogador descartado sem cerimônia pela diretoria fosse o responsável por dar a lição mais dura neste palco.

0