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Tottenham no longer in big six GFX 16:9GOAL

De finalistas da Champions League a brigar para não cair: como o Tottenham deixou de merecer ser chamado de membro do "Big Six"

Quem torce para o Tottenham pode até achar que há implicância aqui, como se fosse coisa de rival. Não é o caso. Trata-se de alguém que acompanha o clube há mais de 20 anos e cobre os Spurs profissionalmente há sete temporadas, desde o início da trajetória no Tottenham Hotspur Stadium.

Chegou a hora de encarar a realidade. O Tottenham deixou escapar a chance de se firmar entre os gigantes da Inglaterra. Hoje, não é mais o “outsider” que desafia a elite, mas um clube que corre o risco de se acomodar no meio da tabela — ou até cair ainda mais.

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    Base sólida

    Mesmo sem um histórico recente de grandes títulos, o Tottenham passou boa parte do século XXI brigando por vagas europeias. Foram sete participações na Champions League, número inferior apenas aos outros clubes do chamado big six desde a reformulação da Premier League, em 1992. No século XX, os Spurs já tinham fama de time copeiro e ofensivo — às vezes até ingênuo —, algo que a torcida, em geral, aceitava.

    Fora de campo, o clube construiu uma base sólida. Em 2012, deixou o antigo e limitado Spurs Lodge para inaugurar o moderno Hotspur Way, um dos melhores centros de treinamento do futebol mundial. Em 2019, abriu as portas do novo estádio, avaliado em bilhões de libras, considerado um dos mais modernos do esporte. Ainda assim, o contraste é grande: o clube viveu o pior ano em número de vitórias em casa na liga desde 1915, em pleno período da Primeira Guerra Mundial.

    Quando a ENIC assumiu o controle em 2001 e nomeou Daniel Levy como presidente, a prioridade foi clara: investir pesado em estrutura. A ideia sempre foi potencializar o clube fora de campo para, com o tempo, colher resultados dentro dele. Esse era o plano.

    Na primeira metade da longa gestão de Levy, o Tottenham virou um destino para talentos emergentes. O modelo era simples: comprar barato e vender caro. Críticos viam isso como foco excessivo em lucro, mas a realidade é que o clube não tinha força financeira nem apelo esportivo suficientes para bater de frente com Arsenal, Chelsea, Liverpool e Manchester United. O Manchester City só entrou nesse grupo após a compra pelo Grupo Abu Dhabi, em 2008. Já os Spurs cresceram de forma mais orgânica — com planejamento, estratégia e uma dose de sorte.

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  • Separação do "DESK"

    Em 2011, o Tottenham voltou a sentir o gosto da Champions League e tinha três dos melhores jogadores da Premier League: Gareth Bale, Luka Modrić e Rafael van der Vaart. Bale e Modrić seguiram a lógica de comprar barato e vender caro. Van der Vaart foi uma oportunidade de mercado, custando 11 milhões de libras (R$ 82,4 milhões).

    Demorou cinco anos para o clube retornar à principal competição europeia, mas um novo núcleo se formava. Christian Eriksen chegou do Ajax por 11,5 milhões de libras (R$ 86 milhões). Dele Alli veio do MK Dons por apenas 5 milhões de libras (R$ 37,5 milhões). Son Heung-min custou 22 milhões de libras (R$ 165 milhões). E Harry Kane, revelado em casa, saiu do anonimato para virar o maior nome da história recente do clube. O quarteto ficou conhecido como “DESK”.

    Eles foram cercados por jogadores de alto nível, como Hugo Lloris, Alderweireld, Vertonghen, Kyle Walker, Danny Rose e Mousa Dembélé. O resultado foi histórico: quatro classificações seguidas ao top 4, recorde de 86 pontos em uma temporada e a chegada à final da Champions League de 2019, perdida para um Liverpool muito superior.

    Mas aquele time já estava no limite. Um ano antes da final, Mauricio Pochettino alertou que seria necessária uma “reconstrução dolorosa”. A resposta da diretoria foi não contratar ninguém por 18 meses. O elenco envelheceu, caiu de rendimento e desmoronou.

    Eriksen saiu em 2020. Dele Alli nunca mais recuperou o bom nível e acabou vendido. Kane e Son ficaram, mas cercados por um elenco bem mais fraco, carregando o time sozinhos.

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    Melancolia pós-Pochettino

    Na véspera da final da Champions League, Pochettino indicou que sairia se fosse campeão. O desgaste era claro. Sua demissão meses depois causou surpresa, mas o desempenho já não era o mesmo.

    O que realmente não fez sentido foi a mudança de rota de Levy. Apostando que o elenco ainda estava pronto para títulos, ele contratou José Mourinho, mesmo quando já era evidente que o treinador não vivia mais seu auge. Mourinho estava acostumado a orçamentos gigantes — algo que o Tottenham não podia oferecer.

    Na prática, o projeto fracassou. Mourinho caiu antes mesmo de disputar a final da Cops da Liga Inglesa. Depois veio Nuno Espírito Santo, uma escolha temporária, até a chegada de Antonio Conte. Conte até levou o time ao top 4, mas novamente o clube falhou em cercar Kane e Son com qualidade. O italiano saiu em meio a críticas públicas e desgaste total.

    No verão europeu seguinte, Kane foi vendido ao Bayern de Munique. Diante do contexto, poucos torcedores o culparam.

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  • Manchester City v Tottenham Hotspur - Premier LeagueGetty Images Sport

    Gastos imprudentes

    A saída de Kane demorou a ser sentida. Ange Postecoglou trouxe energia, identidade e resultados rápidos. O início foi empolgante, mas, com o tempo, a falta de alternativas ficou clara.

    O clube demorou um ano para contratar um substituto para Kane e gastou 60 milhões de libras (R$ 450 milhões) em Dominic Solanke. Foi o único reforço experiente. O elenco precisava de liderança, mas recebeu jovens promissores.

    Segundo o Swiss Ramble, o Tottenham teve a menor relação salário/faturamento da Premier League: 42%. Isso ajuda a explicar por que o clube tem dificuldade para atrair estrelas. Levy sempre quis “vencer” cada negociação — mesmo quando isso custava competitividade.

    Os valores pagos por Solanke, Richarlison e Tanguy Ndombele (todos na casa dos 60 milhões de libras) levantam dúvidas sobre o trabalho de scouting. Neste ano, o clube tentou mudar o padrão ao gastar 106 milhões de libras (R$ 794 milhões) em Mohammed Kudus e Xavi Simons, mas o retorno ainda é limitado.

  • AS Monaco v Tottenham Hotspur - UEFA Champions League 2025/26 League Phase MD3Getty Images Sport

    Agitação no andar de cima

    A relação entre diretoria e torcida já era ruim antes mesmo da saída de Levy. Ingressos caros, resultados ruins e a participação na tentativa de criação da Superliga Europeia aprofundaram a crise.

    A chegada de Vinai Venkatesham como CEO e a saída de Levy sinalizaram uma “nova era”, reforçada por um aporte de 100 milhões de libras (R$ 749 milhões). Mas, até agora, tudo parece mais mudança de discurso do que de prática.

    Internamente, o clube segue instável, com disputas de poder e pouca clareza no comando esportivo.

  • FBL-ENG-PR-BRENTFORD-TOTTENHAMAFP

    Últimas vítimas

    Thomas Frank chegou cercado de expectativa, mas enfrenta dificuldades. O Tottenham é hoje um time previsível, frágil emocionalmente e pouco competitivo. O salto do Brentford para um clube sob pressão constante parece grande demais.

    Da 17ª posição para a 13ª, a evolução é mínima. O elenco atual não se compara nem aos tempos de Mourinho, Conte ou Pochettino. O Tottenham voltou ao meio da tabela e, em uma Premier League cada vez mais equilibrada, corre o risco de ficar preso ali — ou até lutar contra o rebaixamento.

    Mesmo com um título europeu recente e histórico na Champions League, o Spurs vive de aparência. E esse disfarce de clube de elite pode não se sustentar por muito mais tempo.

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