Mesmo sem um histórico recente de grandes títulos, o Tottenham passou boa parte do século XXI brigando por vagas europeias. Foram sete participações na Champions League, número inferior apenas aos outros clubes do chamado big six desde a reformulação da Premier League, em 1992. No século XX, os Spurs já tinham fama de time copeiro e ofensivo — às vezes até ingênuo —, algo que a torcida, em geral, aceitava.
Fora de campo, o clube construiu uma base sólida. Em 2012, deixou o antigo e limitado Spurs Lodge para inaugurar o moderno Hotspur Way, um dos melhores centros de treinamento do futebol mundial. Em 2019, abriu as portas do novo estádio, avaliado em bilhões de libras, considerado um dos mais modernos do esporte. Ainda assim, o contraste é grande: o clube viveu o pior ano em número de vitórias em casa na liga desde 1915, em pleno período da Primeira Guerra Mundial.
Quando a ENIC assumiu o controle em 2001 e nomeou Daniel Levy como presidente, a prioridade foi clara: investir pesado em estrutura. A ideia sempre foi potencializar o clube fora de campo para, com o tempo, colher resultados dentro dele. Esse era o plano.
Na primeira metade da longa gestão de Levy, o Tottenham virou um destino para talentos emergentes. O modelo era simples: comprar barato e vender caro. Críticos viam isso como foco excessivo em lucro, mas a realidade é que o clube não tinha força financeira nem apelo esportivo suficientes para bater de frente com Arsenal, Chelsea, Liverpool e Manchester United. O Manchester City só entrou nesse grupo após a compra pelo Grupo Abu Dhabi, em 2008. Já os Spurs cresceram de forma mais orgânica — com planejamento, estratégia e uma dose de sorte.