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Fernando Diniz, Fluminense x Cuiabá, Brasileirão, 07082022Getty Images

Fernando Diniz na seleção brasileira e Fluminense nunca será unanimidade

O primeiro encontro de Fernando Diniz com a torcida do Fluminense, depois de aceitar acumular a função de técnico tampão da seleção brasileira, foi bastante didática sobre o que esperar do tratamento dado ao comandante tricolor e canarinho neste novo período.

Embora não falte exemplos de treinadores que, ao mesmo tempo, comandaram o Brasil e um clube, estamos falando de uma situação bastante rara e que hoje mexe com emoções conflitantes.

  • Vaias para Fernando Diniz

    A recepção dada pela torcida tricolor ao técnico, no primeiro encontro após a oficialização do "relacionamento aberto" com Diniz e CBF, não foi boa. Sob o contexto de resultados ruins nas costas, Fernando Diniz foi vaiado antes de a bola rolar contra o Internacional, dentro do Maracanã.

    "Entendo a torcida, mas tentei fazer tudo respeitando o Fluminense e a Seleção Brasileira. Acho que tomei a decisão certa", afirmou Diniz posteriormente. Escutar vaias de torcidas, seja a sua -- caso os resultados clubísticos estejam ruins -- ou, com ênfase maior que o habitual, de adversários, promete ser rotina para Fernando.

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  • Fernando Diniz, como técnico da seleção brasileira em 2023Rodrigo Ferreira/CBF

    Revolta certa nas convocações

    A certeza da vaia está na própria contradição que cerca o pensamento geral dos torcedores. Diniz deixou de convocar algum destaque de determinada equipe? O torcedor do clube em questão vai chiar. Diniz convocou o destaque de determinada equipe? Haverá reclamação ainda maior que o comum, neste caso até justa: o atleta em questão terá que fazer viagens e chegar cansado antes de algum jogo que pode ser importante. Imagine se este jogo, eventualmente, for contra... o Fluminense treinado por Fernando Diniz?

  • Coutinho em um Flamengo x Vasco

    É uma situação que já aconteceu, segundo relatado pelo jornalista Paulo Vinícius Coelho, em sua coluna para a Folha de São Paulo. Em 1979, Cláudio Coutinho acumulava funções na seleção e no Flamengo. Apenas quatro dias separavam uma semifinal de Copa América, contra o Paraguai, de uma semifinal de Campeonato Carioca contra o Vasco.

    Coutinho não convocou Zico porque o Galinho estava lesionado, mas optou por não chamar os rubro-negros Júnior, Carpegiani e Tita. Para o gol da seleção, o vascaíno Leão marcou presença. Apenas Toninho, lateral, e o zagueiro Rondinelli representaram o Flamengo entre os atletas na lista do selecionado.

    O Brasil perdeu por 2 a 1 em Assunção. Poucos dias depois, um descansado Tita fez três gols sobre Leão na vitória rubro-negra por 3 a 2. PVC lembra, em sua coluna, que na época o conflito de interesses não chegou a ser um tema abordado. Tempos diferentes, em que a relação do público com a própria seleção nacional tinha um tipo de reverência que não existe hoje.

    Coutinho agiu de má fé ou não? Ninguém sabe, nem nunca vai saber. Talvez não, assim como é difícil imaginar Fernando Diniz deliberadamente desenhando algum plano maquiavélico, como se fosse um vilão caricato de desenho, para prejudicar algum clube através de seu papel na seleção. Mas, quer queira ou não, este assunto será pauta importante. É uma saia-justa que existe justamente pela forma como a CBF trata a Data Fifa de jogos de seleções.

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  • André, Fluminense 2023Marcelo Gonçalves/Fluminense

    Atenção especial dos boleiros

    Um momento que chamou atenção após a vitória por 2 a 0 do Fluminense foi a cena de Alemão, atacante do Inter, dando sua camisa para Diniz. O presente foi um pedido do próprio Diniz para o jogador, um presente para o seu filho. Questionado sobre uma futura convocação, o centroavante colorado esboçou um tímido sorriso: "Quem sabe mais para frente..."

    A troca de camisas é algo comum, e respeito deveria ser regra no esporte, mas vai ser interessante ver como será o tratamento dos jogadores adversários em relação a Diniz. Será que cenas como a de Gabigol discutindo com o técnico tricolor, meses atrás, irão se repetir ou o jogador brasileiro já irá tratar o técnico do Fluminense como técnico da seleção, mesmo enquanto Diniz defende em campo o Fluminense?

    E os jogadores do próprio Tricolor? Convocado pelo agora ex-interino Ramón Menezes neste ano, o meio-campista André, destaque do Flu, falou sobre o tema: "Eu não vejo um cara acima dele, com todo respeito a todos os treinadores. Quem está no dia a dia sabe do esforço, do tanto que ele trabalha, é muito merecedor. A gente está sabendo dividir bem isso. Não foi à toa que jogamos bem. Tenho certeza de que ele vai dar conta do Fluminense e da seleção (...) Vai ser um momento de muita felicidade se ele me convocar. Mesmo se não convocar, eu o considero um pai. Me ajudou bastante desde quando chegou. Mesmo se não me convocar, muito sucesso para ele", completou.

    Até Richarlison, atual camisa 9 do Brasil e ex-jogador do Fluminense, esteve no Maracanã, enquanto curte período de férias, e já trocou algumas palavras com o novo técnico interino da seleção...

  • Fernando Diniz, Fluminense 2023Mailson Santana/Fluminense

    Jogo do Fluminense, pergunta sobre seleção

    Outra situação que vai entrar para a rotina e pode irritar o torcedor tricolor: o Fluminense joga, mas na entrevista coletiva o tema será a outra equipe de Diniz. O técnico do Brasil gostou de determinado jogador adversário? Tem chances na próxima convocação? O acerto ou erro em determinado lance do time vai se repetir com a camisa canarinho?

  • Fernando Diniz, técnico do Fluminense, após a conquista do Campeonato Carioca 2023Getty Images

    Os aplausos

    Nem só de conflitos e coisas chatas cercam Fernando Diniz dentro desta situação. Como o Fluminense venceu, ao final do jogo contra o Internacional o técnico foi aplaudido e beijou o escudo do clube.

    "Sou grato para a torcida do Fluminense. A torcida me abraçou de uma maneira muito grande, desde 2019. Isso da seleção, queria que a torcida ficasse feliz junto comigo. Se ela não tivesse me acolhido como acolheu. A torcida tem sido uma grande aliada do time e minha. Nunca quis sair do Fluminense, queria continuar o projeto. A mim pessoalmente, a torcida consegue enxergar no meu trabalho coisas que nem a imprensa reconhece. Tenho muita gratidão por ela", disse o treinador.

    Os aplausos também irão existir. Mas serão ora no Fluminense, quando a fase for boa, e eventualmente na seleção, se o Brasil conseguir bons resultados. É praticamente impossível imaginar aplausos em uníssono. Nesta excêntrica situação, não haverá a unanimidade (que, segundo o tricolor Nelson Rodrigues, é uma das coisas que definem burrice).

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