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Cuidado, Arsenal! A verdade desconfortável sobre trocar o Emirates Stadium por Wembley

E aí entra o Arsenal — que pode se considerar uma espécie de “pioneiro” dessas novas arenas modernas. Em 2006, o clube deixou sua antiga e charmosa casa em Highbury para se mudar para o moderno Emirates Stadium, em Ashburton Grove.

Quase 20 anos depois, os Gunners estudam a possibilidade de ampliar o estádio. Ao longo de 2025, o tema ganhou força nos bastidores, e The Telegraph revelou na última terça-feira (07) que o clube está realmente planejando uma “expansão significativa”. O problema é que isso traria impacto direto para os torcedores.

Para realizar as obras, o Arsenal precisaria deixar o Emirates temporariamente e mandar seus jogos em outro estádio por tempo indeterminado. O local mais cotado é Wembley, com capacidade para 90 mil pessoas e a cerca de 16 km do norte de Londres. À primeira vista, a mudança não parece ruim, mas um olhar mais atento revela os desafios e prejuízos que essa decisão traria.

A GOAL explica por que os planos do Arsenal para reformar o Emirates estão longe de ser simples — e quem mais pode ser afetado por essa mudança.

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  • Arsenal v Wigan AthleticGetty Images Sport

    Por que o Arsenal deixou o Highbury

    A geração mais jovem de torcedores talvez nem saiba o que foi o lendário Highbury. Muitos dos jogadores atuais do Arsenal — como Max Dowman, Myles Lewis-Skelly e Ethan Nwaneri — nasceram depois que o clube deixou sua antiga casa. Hoje, grande parte do terreno foi transformada em apartamentos, mas alguns ainda preservam elementos da arquitetura original por causa do valor histórico do estádio.

    O Arsenal começou a cogitar uma mudança de casa entre 1996 e 1998, quando Arsène Wenger assumiu o comando e conquistou seu primeiro título da Premier League. As novas regras que exigiam estádios com todos os assentos reduziram bastante a capacidade de Highbury, o que impactava diretamente as finanças do clube — especialmente em uma época em que a renda dos jogos se tornava um diferencial importante, como mostrava o sucesso do Manchester United e sua ampliação de Old Trafford.

    Curiosamente, o Arsenal chegou a considerar a compra de Wembley, que seria demolido e reconstruído na época. O clube poderia até ter mudado de bairro sem alterar o nome “Arsenal”, o que tornava a ideia viável — embora impopular entre os torcedores locais. O time, inclusive, mandou jogos da Champions League em Wembley entre 1998 e 2000 para aumentar a receita, mas a FA (Federação Inglesa) vetou o acordo.

    Pouco depois, o clube encontrou um novo local — a apenas 500 metros de Highbury — e começou o projeto do estádio que hoje é o Emirates. A aprovação final veio em 2001, com a exigência de o clube ajudar na modernização do bairro e realocar empresas locais. “Este é o projeto de estádio mais complicado do mundo”, disse o então diretor Danny Fiszman. Para Wenger, foi “a maior decisão da história do Arsenal”.

    A mudança definitiva aconteceu em 2006. A Emirates Airlines comprou os direitos de nome do estádio por 100 milhões de libras (R$ 725,6 milhões) o que cobriu cerca de um quarto do custo total da obra. Mesmo assim, o Arsenal só começou a sentir os benefícios financeiros da mudança em 2014, quando quitou as dívidas. Hoje, o clube tem a segunda maior arrecadação de bilheteria da Premier League, atrás apenas do United — mas Tottenham, Liverpool e Manchester City já ameaçam ultrapassá-lo, o que reacende a ideia de expansão.

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  • Arsenal FC v Liverpool FC - Premier LeagueGetty Images Sport

    Os desafios para expandir o Emirates Stadium

    Os obstáculos para ampliar o Emirates são parecidos com os que o clube enfrentou na época de Highbury. O terreno é limitado: há linhas de trem em dois lados, ruas movimentadas em outros e pouco espaço livre. Segundo The Telegraph, a opção mais viável seria reformar o estádio dentro da própria estrutura atual.

    Para aumentar a capacidade, o Arsenal teria de mudar a inclinação das arquibancadas, reduzir o espaço entre as fileiras e talvez fechar os cantos que hoje não têm assentos. É uma obra complexa, que certamente traria impactos diretos para os torcedores — e que exigiria que o clube jogasse temporariamente em outro estádio.

  • Tottenham Hotspur v Manchester United - Premier LeagueGetty Images Sport

    Tottenham e a maldição de Wembley

    O Arsenal já mandou partidas em Wembley no passado, entre 1998 e 2000, durante campanhas da Champions League. Na época, a mudança não trouxe bons resultados esportivos: o time venceu apenas dois dos seis jogos e caiu ainda na fase de grupos.

    Mais recentemente, o Tottenham passou por experiência parecida. Durante as obras do seu novo estádio, os Spurs jogaram três temporadas em Wembley. Mesmo com boas campanhas, o time sentiu os efeitos da mudança. A atmosfera fria e o ambiente impessoal do estádio nacional fizeram com que o clube perdesse parte da conexão com a torcida — algo que impactou o desempenho.

    Jogadores como Toby Alderweireld chegaram a dizer que tiveram dificuldade para se adaptar, já que usavam referências visuais de White Hart Lane para se posicionar em campo. Além disso, Wembley era longe de casa, e o clima de comunidade se perdeu.

    Para o Arsenal, esse histórico serve de alerta. Jogar em Wembley por um período prolongado — possivelmente por uma temporada inteira — pode causar uma quebra de ritmo e enfraquecer a relação com os torcedores. É um risco que o clube precisará considerar com cuidado antes de seguir adiante com a expansão do Emirates Stadium.

  • Arsenal v Manchester City - Carabao Cup FinalGetty Images Sport

    Não é só sobre público

    Na temporada em que mandou seus jogos da Premier League em Wembley, o Tottenham teve média de público de 67.953 torcedores — um recorde, que chegou a 83.222 em um clássico contra o Arsenal. Nos duelos da Champions contra Real Madrid e Juventus, o estádio recebeu mais de 83 mil pessoas. Mas quando o time precisou continuar lá em 2018/19, a média caiu para 52.584, e o técnico Mauricio Pochettino chegou a lamentar os jogos em que o anel superior do estádio precisou ser fechado.

    Esse é um dos problemas que o Arsenal também enfrentaria. O Tottenham teve que pedir autorização especial ao conselho local de Brent para vender todos os 90 mil ingressos na temporada 2017/18 — algo que gerou resistência entre moradores da região. Hoje, Wembley só pode receber um número limitado de eventos com capacidade total por ano. Por isso, o Spurs não buscou novamente essa permissão em 2018/19 e precisou aceitar o papel de “inquilino temporário”. Isso gerou vários transtornos: o clube teve que jogar uma partida da Copa da Liga em Milton Keynes, a mais de 80 km de distância; enfrentou o Manchester City em um gramado danificado após sediar um jogo da NFL; e precisou disputar três partidas em seis dias por problemas de calendário.

    É claro que o Arsenal também lotaria Wembley caso se mudasse temporariamente, arrecadando cifras parecidas com as do rival. A mudança daria chance a torcedores que não conseguem ingresso no Emirates, mas também traria um risco: a presença maior de turistas e torcedores de outros clubes poderia deixar o ambiente mais frio — um problema que já é apontado no estádio atual. Em Wembley, o Arsenal seria apenas um hóspede, sem controle total do próprio lar.

  • Arsenal Women Trophy LiftGetty Images Sport

    E o time feminino?

    Outro ponto pouco mencionado nos planos de expansão do Emirates é o impacto sobre o time feminino, que transformou o estádio em sua casa principal na última temporada. O time comandado por Renée Slegers é o mais popular da WSL e um dos mais acompanhados do mundo, com médias superiores a 30 mil torcedores por jogo.

    Mesmo assim, o foco das discussões segue no elenco masculino. A solução mais simples seria o retorno do time feminino a Meadow Park, em Borehamwood — mas o estádio tem capacidade para apenas 4.500 pessoas e fica fora de Londres, com acesso difícil por transporte público. Isso ficou evidente recentemente, quando o Arsenal precisou mandar seu jogo da Champions contra o Lyon lá, gerando frustração entre torcedores e jogadoras.

    Se o time masculino realmente for para Wembley, o clube também tentaria autorização para que o time feminino jogue lá em semanas alternadas? E o conselho de Brent aprovaria essa ideia? São dúvidas que seguem sem resposta.

  • Arsenal v West Ham United - Premier LeagueGetty Images Sport

    O maior clube de Londres precisa de um estádio à altura

    Gostem ou não, o Arsenal é o maior clube de Londres. O Chelsea pode ostentar dois títulos da Champions e um Mundial, mas os Gunners são o time mais popular e influente da capital. É difícil andar por Londres sem ver alguém vestindo vermelho. Se o Arsenal conquistasse a Premier League ou a Champions hoje, levaria o dobro de torcedores que o Tottenham reuniu em seu desfile do título da Europa League. O clube ainda tem mais de 100 mil pessoas na lista de espera por um carnê de ingressos da temporada.

    Quando o Emirates Stadium foi inaugurado, a ideia era refletir esse tamanho — mas o estádio já está ficando para trás. Hoje, é menor que outros dois estádios a poucos quilômetros dali e cairá para o sexto lugar da Premier League em capacidade assim que o Manchester City concluir a ampliação do Etihad.

    A ambição no Arsenal é clara: aproveitar ao máximo sua força, tradição e popularidade. Mesmo que o time de Mikel Arteta ainda não tenha conquistado grandes títulos, ele reacendeu a paixão da torcida. O risco é que esse entusiasmo esfrie caso o clube precise passar muito tempo longe de casa.

  • Real Madrid C.F. Training Session And Press Conference - UEFA Champions League 2024/25 Quarter Final First LegGetty Images Sport

    Um preço a pagar pela modernização

    Expandir o Emirates não é só adicionar alguns milhares de lugares — é reafirmar o poder financeiro e simbólico do Arsenal. O clube vê no projeto uma forma de se colocar novamente entre os gigantes da Europa também fora de campo.

    Dirigentes analisam exemplos como o do Real Madrid, que gastou cinco anos e mais de 920 milhões de euros (R$5,8 bilhões) reformando o Santiago Bernabéu, com um aumento mínimo de capacidade, mas um ganho enorme em estrutura e multifuncionalidade. O novo estádio do Tottenham também mostrou o potencial de transformar arenas em espaços de eventos variados, o que pode gerar novas receitas.

    Há ainda o olhar para o futuro. Quando o Arsenal deixou Highbury, chegou a estudar terrenos mais distantes, mas com maior espaço para expansão. Hoje, qualquer obra no Emirates precisa considerar esse planejamento de longo prazo. Se o clube deseja chegar a 70 mil lugares nas próximas décadas, é preciso pensar desde já.

    No fim das contas, o Arsenal e sua torcida terão de passar por um período de adaptação e sacrifício. Mas se o resultado for um Emirates moderno, vibrante e capaz de abrigar o maior clube de Londres em toda sua grandeza, talvez valha o esforço.