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Mundial HICGOAL

Como o Mundial foi de palco da consagração de ídolos brasileiros a "aborrecimento" para europeus desmotivados

A conquista do Manchester City na Arábia Saudita crava a 11ª taça consecutiva de europeus no Mundial de Clubes. Desde o triunfo do Corinthians sobre o Chelsea em 2012 que a América do Sul não sabe o que é conquistar o planeta. E a coisa não vai ficar mais fácil. Mudanças no futebol - novos formatos, abismo financeiro e êxodo de jogadores, entre elas - fazem com que seja quase impossível um brasileiro ou outro time de fora do Velho Continente vencer a competição.

Um campeão da Champions League chega ao Mundial tendo no torneio uma obstáculo em meio às temporadas locais. No caso de ingleses, vira mais uma etapa de uma maratona de partidas já comum em finais de ano no Reino Unido. E mesmo a falta de prestigio junto aos europeus não impede que a conquista vá para outro continente.

Claro, não era assim. O Mundial era um sonho possível e parte da história de alguns dos maiores clubes do País. Agora, até mesmo as conquistas do passado estão sob ameaça.

Não é raro ver torcedores e até jornalistas menosprezando as competições ocorridas antes da administração Fifa. Títulos que ajudaram a cravar o Santos de Pelé (1962 e 1963) como o auge do futebol na década. As taças que eternizaram Zico (1981) e Renato Portaluppi (1983) como os maiores ídolos de Flamengo e Grêmio, respectivamente. O bicampeonato (1992 e 1993) que fez Telê Santana ser eterno no São Paulo.

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  • Estátua Telê Santana, no MorumbiRubens Chiri/São Paulo FC

    O problema do revisionismo

    As duas últimas décadas viram uma onda revisionista no futebol brasileiro. A unificação de títulos brasileiros criou algumas confusões, já que considerou torneios de formatos bem diferentes - e mais de um no mesmo ano em algumas situações - como equivalentes ao Brasileirão. A discussão foi curta por questões políticas, mas isso pouco importa para torcedores. Se teve seu time beneficiado, é comemorar. Se teve seu clube ignorado, é desprezar todos os títulos entre 1959 e 1970.

    Não precisaria ser assim, e a tendência revisionista seguiu para o Mundial. Seja Palmeiras ou Fluminense buscando uma confirmação das conquistas das Copas Rio de 1951 e 1952, seja com a Fifa frequentemente colocando pesos inferiores para os títulos mundiais disputados entre 1960 e 2004.

    Aquelas partidas ocorreram. Eram duelos de escolas diferentes e de grandes equipes, em um momento em que o abismo América do Sul x Europa era inexistente. Põs Pelé e Eusébio frente a frente. Fez o Cruzeiro encarar o Bayern de Franz Beckenbauer. Colocou Telê Santana como vitorioso contra Johan Cruyff.

    Essas taças eram há décadas chamadas de "Mundial Interclubes" no Brasil. Por influência gringa, não é raro ouvir termos como "Copa Intercontinental" para descrever jogos que são pedras fundamentais de gigantes do País. Pode até ser uma tentativa bem intencionada para diferenciar nos torneios regidos pela Fifa, mas acaba por diminuir a história do futebol brasileiro para baixar a cabeça diante da opinião estrangeira.

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  • Julian Alvarez celebrates Manchester City 2023-24Getty

    O futebol pós-Lei Bosman

    A missão quase impossível de conquistar um Mundial foi um processo longo, mas que tem um grande divisor de águas. Aprovada em 1995, a Lei Bosman deu mais liberdade a jogadores de futebol para trocar de times. Ao mesmo tempo, significou que um clube endinheirado teria a possibilidade de formar um elenco cada vez mais forte, enquanto equipes formadoras teriam que se preparar bem para segurar suas promessas.

    E não só times menores ou menos protegidos na Europa sofreram. Jogadores começaram a sair com cada vez mais frequência do Brasil para a Europa. O abismo econômico é fácil de notar na diferença de títulos mundiais: antes de 1995, os sul-americanos tinham 20 conquistas contra 14 europeias. Desde então, foram seis taças de equipes da Conmebol e 23 para a Uefa.

    A disparidade é notada até em conquistas brasileiras. O São Paulo superou o Liverpool em 2005 precisando se defender muito no segundo tempo e contando com a atuação perfeita de Rogério Ceni, algo bem diferente dos triunfos da era Telê, quando o Tricolor foi amplamente superior aos poderosos Barcelona e Milan. O Corinthians sofreu menos contra o Chelsea, mas pegou os Blues em crise, recém-eliminados da fase de grupos da Champions League. As conquistas na "era Fifa" vieram sob condições perfeitas, em que não foi possível permitir erros.

  • Gianni InfantinoGetty

    Os planos confusos da Fifa

    A Fifa já confirmou seus planos para as versões futuras do Mundial. Uma versão "super" acontecerá a cada quatro anos e contará com 32 equipes, entre elas 12 da Europa. Também haverá uma "Copa Intercontinental" que contará com formato bem simular ao atual Mundial de Clubes, mas sem a presença de um campeão do país anfitrião.

    A questão é que a Fifa nunca soube muito bem o que fazer com o torneio. A entidade que rege o futebol tentou primeiro em 2000 a sua própria versão, aquela conquistada pelo Corinthians, que criou a confusa situação de ter também naquele ano o Boca Juniors como vencedor do Interclubes clássico.

    A competição seria repetida no ano seguinte, mas a falência da empresa parceira ISL adiou os planos até 2005. Naquele ano começaria um Mundial mais próximo àquele que o Fluminense participou, mas ainda sem o campeão local. O São Paulo venceu o Liverpool na final para cravar sua terceira estrela vermelha na camisa.

    Entretanto, o Mundial nunca fez tanto sucesso como entre torcedores brasileiros. Frequentemente se via espaços vazios nos estádios, além de pouca atenção do público europeu. A esperança da Fifa é que seu torneio com um mês de duração e premiação alta mude esse cenário. Pode ser melhor para europeus, mas a esperança para sul-americanos só diminui.