Importante destacar que não é apenas dentro de campo, nas boas transições, na construção, criação e finalização, que o Nova Iguaçu deu aula neste Campeonato Carioca. O lado humano é outro aspecto a ser muito elogiado.
Bill e Carlinhos, os dois grandes destaques do time, representam muito bem tudo isso. O primeiro, revelado pelo próprio Nova Iguaçu antes de sair para jogar ao lado de Vinícius Júnior na base do Flamengo, tentou a carreira na Europa e jogava na Ucrânia, pelo Dnipro, quando a guerra com a Rússia estourou.
Bill precisou voltar ao Brasil às pressas e não conseguiu mostrar, em campo, estar à altura de toda a expectativa que lhe cercava. Rodou o país, na maioria das vezes em times de menor destaque, até retornar para a sua primeira casa: “Eu cheguei no Nova Iguaçu disposto a trabalhar, ser feliz, e ninguém acreditou em mim (...) Entrei aqui, assumi a responsabilidade”, disse, com os olhos ainda lacrimados de emoção pelo gol sobre o Vasco que levou o time para a grande decisão.
A história de Carlinhos também foi de altos e baixos. Campeão da Copa São Paulo em 2017, e artilheiro daquela edição com 11 gols marcados, o atacante era uma das sensações da base do Corinthians. Mas não conseguiu levar todo o hype para o profissional.
Além de disputar posição com Jô, o jovem teve problemas com o técnico Fábio Carille, que o rotulou como indisciplinado – rótulo que Carlinhos refuta veementemente. Pelo Nova Iguaçu, Carlinhos encontrou no acolhimento e confiança duas bases para lhe ajudar a brigar pela artilharia do Campeonato Carioca.
“O professor Cal (Carlos Vitor), Andrezinho (ex-jogador)... me trataram como ser humano. Todo dia tinha uma conversa, me chamavam de canto para perguntar como estava a minha mãe. Você trabalha mais feliz, contente. Está sendo importante ter esse acolhimento”, disse o jogador em relato publicado pelo jornal O Globo.
O professor Cal, Carlos Vitor, é outro grande personagem. Trabalhando no clube há 32 anos, ele foi de ex-jogador a técnico do Nova Iguaçu. A inspiração no Flamengo de 1981 pode ser notada no 4-2-3-1 de sua equipe, de dinâmica rápida e que busca privilegiar o melhor da individualidade de cada um para compor um grupo coeso. Mas o aspecto humano também é fundamental.
“Sempre fui uma pessoa de ler muito. Li Mahatma Gandhi, Ayrton Senna, Bernardinho... Daí você vai tendo conotações que, com as ideias que você tem, propiciam que você seja fidedigno com essas questões (que valorizam a saúde mental). Se você não tiver com a mente boa, não vai conseguir produzir e performar. É importante ser equilibrado independente do que está passando. É difícil? Muito. Mas esse é o grande segredo”, afirmou também em entrevista para o jornal O Globo.