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Antony Ten Hag GreenwoodGetty

Caso Antony põe nova responsabilidade sobre o Manchester United. Erro com Mason Greenwood não pode ser repetido

Quando Mason Greenwood deixou o Manchester United para assinar com o Getafe por empréstimo na última semana, minutos antes do fim da janela de transferências, um sentimento muito grande de alívio deve ter tomado o clube.

Nas palavras de uma fonte, a situação deixou o United "à beira do precipício" durante toda a janela. E quando informações do interesse do time em reintegrar Greenwood seis meses após as acusações de tentativa de estupro, agressão e violência sexual serem retiradas emergiram, a imagem e reputação do clube foi afetada. Mesmo que, depois, tenham vindo a definir que o futuro da carreira do atleta não seria no Old Trafford.

O atacante, que nega todas as acusações, agora é problema do Getafe, e é o técnico José Bordalás quem deve responder questionamentos ao seu respeito - não Erik ten Hag.

Mas, justamente quando o United achou que tivesse saído bem da situação e pudesse, enfim, focar no futebol, outro vulcão entrou em erupção no lado vermelho de Manchester: sérias alegações de violência doméstica contra o ponta brasileiro Antony por Gabriel Cavallin, sua ex-namorada.

O caso do brasileiro é diferente do de Greenwood, mas não menos chocante - e apresenta um novo grande dilema aos Red Devils. Eles permitem Antony continuar jogando ou o removem do elenco até que o caso seja resolvido?

O United vive um início de temporada ruim, com duas derrotas em quatro jogos da Premier League, e, mesmo não tendo ainda justificado o investimento de 85 milhões de libras (por volta de R$ 527,4 milhões) por seus serviços, vinha sendo recorrentemente titular e um dos jogadores mais importantes do esquema de Ten Hag. Mas, após problemas na resolução do 'caso Greenwood', agora é preciso mostrar liderança e agir decisivamente. Os holofotes recaem sobre o time, mais uma vez - e é hora de fazer a coisa certa.

  • Mason Greenwood Manchester UnitedGetty

    Ação mais lenta do que com Greenwood

    Com base no precedente da situação com Greenwood em janeiro do ano passado, Antony já deveria ter sido suspenso da equipe. Embora o Unted tenha enfrentado repúdio na tentativa de reintegrá-lo ao elenco no mês passado, eles agiram de maneira sutil.

    O clube liverou uma nota oficial em seu website reconhecendo as acusações logo depois de serem publicadas. Mais tarde naquele dia, depois de Greenwood prestar depoimento à polícia, confirmaram que o atacante não iria retornar "para treinamentos ou jogos até segunda ordem".

    Quando as acusações sobre Greenwood foram retiradas pela promotoria, eles conduziram uma investigação interna de seis meses antes de definirem que o atacante seria negociado, seguindo protestos de torcedores e repúdio do público geral.

    Eles realizaram grandes erros durante aquela investigação, como não consultando instituições contra o abuso doméstico. Mas tomaram o problema como algo muito sério.

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  • Antony Manchester United 2023-24Getty

    Nenhum comentário por três meses

    A reação inicial ao 'caso Greewood' contrasta com a maneira a qual eles responderam às acusações a Antony. Quando as notícias de que Cavallin havia feito a denúncia em São Paulo, o United não soltou nenhuma nota oficial e apenas anunciou que não faria "comentários oficiais até a resolução dos fatos".

    O mesmo silêncio foi mantido quando Cavallin veio a público pela primeira vez a respeito do comportamento de Antony, em junho, e quando o ponta negou as acusações, através do Instagram, mais tarde naquele mês. O brasileiro atuou normalmente na pré-temporada do clube, nos EUA, e foi titular em todos os quatro primeiros confrontos da Premier League. Ten Hag nunca foi questionado sobre a situação nesse período pela mídia.

    Mesmo quando o United enfrentou críticas por tentar reintegrar Greenwood, havia pouca discussão sobre Antony. Embora as acusações fossem de domínio público, o fato destas terem sido reportadas em São Paulo, e não em Manchester, parece ter deslocado a discussão e 'blindado' um pouco o jogador.

    E diferentemente de Greenwood, havia poucas evidências publicamente dispostas sobre os malfeitos de Antony. Apesar da torcida saber da situação, a maioria não sabia detalhes. Isso permitiu com que o United ficasse sem comentar oficialmente o caso até esta quarta-feira (06), exatamente três meses depois da primeira acusação.

  • Gabriela CavallinGetty

    Entrevista chocante

    A entrevista de Cavallin ao portal UOL - publicada na última segunda-feira (04) e contendo detalhes sobre três casos de incidentes abusivos entre a DJ e Antony - trouxe o caso de vez à tona.

    Cavallin afirmou que a primeira agressão aconteceu em 1° de junho de 2022, quando estava grávida e de férias no Brasil. Ela afirmou que Antony, que estava no Ajax à época, a colocou em um carro e a ameaçou de jogá-la do veículo em alta velocidade.

    "Ele disse que, se eu não ficasse com ele, não ficaria com ninguém", disse, na entrevista. "Eu estava tremendo de medo".

    A DJ ainda alegou que, em janeiro de 2023, Antony deu-lhe uma cabeçada e deslocou um de seus implantes nos seios. Ainda, disse que, em maio de 2023, foi trancada em casa após ser atacada por uma peça de louça, cortando seu dedo.

    A Polícia de Manchester confirmou, na segunda, que estava acompanhando o caso. Ainda assim, nada de resposta do United.

  • Man United fans protest 2023Getty

    "Cultura de impunidade"

    "O mundo está de olho no Manchester United, aguardando os próximos passos de um dos maiores clubes perante mais um caso de abuso doméstico", disse Andrea Simon, diretor da coalizão pelo fim da violência contra a mulher.

    "Mais uma vez, pedimos à Premier League e à Associação de Futebol da Inglaterra (FA, em sigla) que tomem ações devidas, dado que tais incidentes não são isolados, mas fazem parte de um padrão de comportamento de uma cultura que permite que jogadores de futebol propaguem a violência contra as mulheres de maneira impune".

    A Refuge, grande instituição na Inglaterra contra o abuso doméstico, lamentou a maneira com a qual os clubes lidaram com casos semelhantes no passado.

    "A Refuge está profundamente preocupada com o número de alegações de abusos domésticos envolvendo figuras do esporte profissional, como jogadores de futebol, que têm emergido na mídia ao longo dos últimos meses e como os clubes têm reagido a estas", disse Tracy Blackwell, diretora de estratégias e parcerias.

    "É importante que a FA, a Premier League e seus clubes tornem claro às suas torcidas que não toleram nenhum tipo de violência contra meninas ou mulheres. O abuso doméstico é um crime e deve ser tratado como tal. Ações rápidas precisam ser tomadas a fim de adotar uma política de tolerância-zero a esses abusos e a esta cultura de violência contra mulheres dentro do futebol", concluiu.

  • Mason Greenwood Manchester UnitedGetty

    As lições do 'caso Greenwood'

    O United publicou sua curta e vaga nota oficial um dia depois das respostas mais firmes de iniciativas de caridade, mas ainda sem suspender Antony de treinamentos ou jogos. O ponta, aliás, foi cortado da convocação da seleção brasileira para a estreia das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026 por conta das acusações, mas ainda não está claro se ele estará à disposição de Ten Hag para o próximo jogo pelo Inglês, contra o Brighton, no dia 16.

    Ninguém quer estar na pele do United. Uma fonte disse à GOAL que o clube foi aconselhado a abordar a situação com cautela à medida em que a polícia investiga o caso tanto no Brasil quando no Reino Unido. Inocente até que se prove o contrário é o pensamento principal.

    Esta fonte também disse que o clube enfrenta a situação com bastante seriedade e acatou as lições do caso de Greenwood, também indo atrás das posições do Women's Aid, um grupo de caridade do páis, e da PFA (Associação de Jogadores de Futebol Profissionais da Inglaterra e País de Gales)

    E o United não é a única equipe a entrar nesse campo nos últimos meses. Benjamin Mendy, lateral esquerdo, atuou pelo Manchester City depois de ser questionado acerca de acusações de estupro e só foi suspenso quando oficialmente indiciado, em agosto de 2021, dias depois de entrar em campo na derrota por 1 a 0 para o Tottenham que abriu a campanha 2021/22. No final das contas, Mendy acabou não sendo culpado por uma série de supostos estupros e tentativas de estupro em julho. Em janeiro, já havia sido inocentado de outras seis acusações.

    Um jogador não identificado da Premier League foi preso por conta também de um indício por estupro, mas foi liberado. Em fevereiro deste ano, foi ouvido sob sigilo. Ele atuou durante toda a temporada passada e já foi a campo nesta campanha.

  • Avram Glazer Manchester United Carabao Cup finalGetty Images

    É preciso mais liderança

    É preciso mais liderança no comando do United - e no futebol, no geral. Rachel Riley, celebridade torcedora que afirmou que deixaria de torcer pelo clube caso Greenwood fosse reintegrado, afirmou logo depois dos detalhes das alegações contra Antony irem ao ar: "Alguém está tratando sobre isso com os jogadores? Coisas hediondas são descritas nessas acusações. Peritos nesse tipo de situação precisam estar envolvidos nos processos internos do clube".

    O United procurando o Women's Aid é um passo dado na direção certa, mas ainda é preciso mais. Não dá para prever se um jogador terá esse tipo de problema logo quando é contratado, claro, ainda mais se tratando de jovens. Mas eles podem educar seus atletas mais novos nesse sentido.

    Os líderes do clube também precisam ser mais responsabilizados. O chefe-executivo, Richard Arnold, publicou uma nota após a decisão no caso de Greenwood, mas deveria ter concedido uma entrevista coletiva para colocar um ponto final e explicar o que exatamente aconteceu. Os pouquíssimo populares donos do clube, os Glazers, assim como em todos os seus 18 anos à frente do time, se ausentaram das discussões.

    A Premier League e a FA também deveriam ter um plano para ser seguido quando sérias acusações forem feitas contra um jogador. É natural que os clubes relutem em cortar logo de cara ativos de 100 milhões de libras (cerca de R$ 620 milhões, atualmente) por conta de uma única acusação - mas problemas de abuso doméstico e violência sexual são muito importantes para serem deixados à mercê dos clubes.