AUSTIN, Texas – Lionel Messi significa tudo para Jesus Rodriguez.
Para o jovem de 22 anos, que tem paralisia cerebral e deficiências de desenvolvimento, o astro argentino é um farol em meio a uma vida cheia de desafios. Ao vê-lo driblar defensores ou vencer goleiros com precisão em cobranças de falta, Jesus encontra inspiração para seguir lutando. A admiração é tão grande que sua mãe, Tanya Jasso, decidiu realizar o sonho do filho: vê-lo de perto.
Ela já havia tentado na temporada passada e estava pronta para levá-lo, junto do marido e padrasto de Jesus, Javier Partida, a Columbus, Ohio, para assistir Messi no Jogo das Estrelas da MLS em 2024. Mas, durante a final da Copa América, Messi sofreu uma lesão no tornozelo e o plano precisou ser cancelado. Em março deste ano, veio a notícia que reacendeu a esperança: o All-Star Game de 2025 seria em Austin.
Para a família, que mora em Alamo, no Novo México, a viagem de carro até a capital do Texas parecia possível. Eles economizaram durante meses e gastaram milhares de dólares para garantir ingressos na seção VIP – fileira 3, bem atrás do banco da equipe das Estrelas da MLS. Tudo estava pronto. Quando Jesus soube da novidade, não cabia em si de tanta alegria.
Mas, então, chegou a fatídica quarta-feira.
Messi e Jordi Alba, companheiro de Inter Miami, não participaram dos treinos do time das estrelas no início da semana. Na manhã do jogo, às 11h15 (horário local), a MLS confirmou o que já parecia inevitável: nenhum dos dois entraria em campo. Ambos foram retirados da lista final.
A notícia caiu como uma bomba para a família. Jesus ficou imóvel, cabeça baixa, sentado na calçada. Tanya, indignada, não escondeu a frustração com o timing do anúncio e a forma como, na visão dela, tanto a liga quanto Messi lidaram com a situação.
"Estou muito triste porque fiz de tudo para que meu filho pudesse ver o Messi, ainda mais porque ele tem uma deficiência — desabafou Tanya à GOAL, antes do jogo. — Sinto o coração partido por ele. Esse sempre foi o sonho do Jesus. Fiz tantos sacrifícios... Dirigimos dez horas de Alamo até aqui. Estamos exaustos."
Ela não entende por que a MLS esperou até o dia da partida para confirmar a ausência do jogador mais esperado.
"Eles deveriam ter sido mais honestos. Assim os fãs não passariam por tudo isso à toa. Fico triste porque [Messi] deveria pensar nos fãs – e dessa vez não pensou. Acho que ele também tem responsabilidade, assim como a liga. Ele poderia ter feito um esforço para estar aqui."
Tanya não foi a única a se sentir enganada. Nas redes sociais, torcedores criticaram a postura da MLS e exigiram mais transparência, acusando a liga de esconder informações para inflar a promoção do evento. Alguns chegaram a sugerir que a ausência de Messi já era conhecida bem antes.
O jornal The Austin Chronicle também fez duras críticas à liga e ao jogador. “A decisão de Messi de não aparecer por uma noite em Austin é um grande desrespeito à MLS e a seus fãs”, escreveu o colunista Eric Goodman.
No mesmo dia, em sua coletiva de meio de temporada, o comissário Don Garber evitou confirmar se Messi e Alba seriam punidos. Disse apenas que a liga deveria ter sido mais proativa em relação à disponibilidade dos atletas. Em meio às respostas evasivas, aproveitou para reforçar a importância de Messi para a liga, destacando sua influência nas redes sociais e a visibilidade que trouxe ao campeonato.
Ainda assim, a postura do dirigente foi vista como insensível. Para muitos torcedores, a omissão soou como um recado de que a opinião dos fãs e o próprio voto para o Jogo das Estrelas pouco importam.
Dois dias depois, na sexta-feira, a MLS finalmente anunciou a punição: Messi e Alba foram suspensos da partida do Inter Miami contra o Cincinnati. Garber voltou a elogiar a contribuição do argentino para a liga, mas disse que era preciso aplicar as regras.
"O mais importante é que sei que Leo Messi ama esta liga. A MLS é diferente desde que ele chegou, ajudando a mostrar ao mundo o que ela é e o que pode ser. Ninguém fez mais pela MLS do que ele", afirmou ao The Athletic. "Mas temos uma política antiga sobre participação no All-Star e tivemos que aplicá-la. Foi uma decisão muito difícil, mas espero que todos entendam e respeitem. Ele tem se entregado ao clube, aos companheiros e à liga repetidamente. Eu respeito isso."
Garber prometeu rever a regra.
"Vamos reavaliar essa política. É importante termos uma regra que faça sentido para os jogadores e para os fãs. Quero trabalhar junto com Messi para ajustar isso para o futuro."
Jorge Mas, dono do Inter Miami, também criticou a medida e revelou que Messi ficou “extremamente chateado” com a punição. Para ele, a ausência foi uma decisão do clube visando preservar os atletas em meio a um calendário intenso.
"Acho que é uma regra ruim porque obriga os jogadores a escolher entre participar de uma partida festiva, que não vale nada, ou jogar um jogo de temporada regular, que realmente importa. E admiro Messi e Alba por pensarem no clube em primeiro lugar."
Messi é o primeiro titular da MLS em 30 anos a perder um All-Star Game por motivos não relacionados a lesão – antes dele, apenas Zlatan Ibrahimovic havia feito o mesmo. Em outras grandes ligas dos EUA, como NBA, MLB, NHL e NFL, seria impensável que um atleta desse calibre faltasse a um evento desse porte sem estar contundido.
Como a MLS chegou a esse ponto com a maior estrela que já teve?
A GOAL conversou com jogadores do time das estrelas, ex-executivos e pessoas próximas à liga para entender as consequências dessa ausência e o que ela revela sobre o presente e o futuro da Major League Soccer.
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