Destaque do Shakhtar, Júnior Moraes recebe dicas de Shevchenko e se rende ao Santos de Cuca

Artilheiro do campeonato ucraniano nas últimas duas temporadas, Júnior Moraes também foi o brasileiro com mais gols na Europa, entre todas as ligas, superando nomes como Neymar, Gabriel Jesus e Roberto Firmino. Aos 33 anos, o ex-santista foi eleito pela torcida do Shakhtar Donetsk o melhor jogador do ano no clube. 

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Na temporada 2019/2020, Moraes anotou 26 gols em 41 jogos com a camisa do Shakhtar entre o campeonato nacional, a Champions e a Europa League. Em grande fase na carreira, o atacante naturalizado ucraniano bateu um papo exclusivo com à Goal e falou sobre a atual fase, o trabalho com o ídolo Andriy Shevchenko na seleção, o carinho pelo Santos e aprovou o trabalho de Cuca no Peixe. 

Goal: Você recebeu o prêmio de melhor jogador da temporada do Shakhtar, um clube cheio de brasileiros. Qual a sensação?

Júnior Moraes: Estou muito feliz, é um prêmio que me deixa muito orgulhoso, o Shakhtar tem tradição de ter vários brasileiros, vários brasileiros de sucesso como Willian, Fernandinho, Douglas Costa, atletas que fizeram história e ganhar esse prêmio me coloca entre os atletas que fizeram história no clube.

Goal: O Shakhtar é cheio de brasileiros, como é o dia a dia de vocês aí com um pedacinho do Brasil?

Júnior Moraes:  É um clube atípico, fora do normal. Além de ter doze brasileiros no vestiário nós temos a comissão técnica que é portuguesa. Então, logicamente eles dão a palestra em português e é traduzida para russo. Os dirigentes do clube falam que são obrigados a aprender português. Os jogadores ucranianos entendem boa parte do que a gente fala em campo. É positivo, o dia a dia, ter um pouco da resenha, do churrasco, da feijoada. Nos aniversários poder fazer as bagunças.

Shakhtar Donetsk, December 2019Getty

Goal: Você defendeu as cores do Dínamo, e a rivalidade aí é muito grande. Quando você chegou no Shakhtar teve alguma desconfiança?

Júnior Moraes: Decisão muito dificil de ser tomada, mas hoje posso dizer com a maior certeza que foi a melhor decisão. Por parte do Dínamo, a torcida pegou muito no meu pé, mais pela internet. Nas ruas eu nunca tive problema. Hoje o Shakhtar vive em Kiev por conta da guerra e eu nunca tive problema nas ruas aqui, restaurante, shopping, nunca tive um torcedor que me faltasse com respeito. Pelo contrário, eu ainda recebo carinho, mas pela internet foi muito pesado. Ameaças, pessoas falando da minha família, até quando eu expus toda a situação. que eu não renovei pela falta de respeito que o presidente teve, de não ter me valorizado. Por parte do Shakhtar, fui muito bem recebido no vestiário, eu já conhecia eles, convivia com eles fora de campo. Esse apoio dos brasileiros me ajudou. Acho que também ter uma história aqui no país de muitos anos, eles acabaram me respeitando. E foi dando tudo certo, os gols foram saindo. 

Goal: Dá para perceber que você está muito feliz vestindo a camisa do Shakhtar. E pela seleção, é a mesma alegria?

Júnior Moraes: É um desafio diferente, se naturalizar ucraniano em um país muito patriota, as pessoas têm uma paixão muito grande pelo país, por tudo o que eles passaram de guerra. São muito unidos e quando joga a seleção você consegue ver a atmosfera no país, em cada rua, cada tv ligada nos bares. É uma responsabilidade a mais, não é fácil, mas o trabalho do Shevchenko tem sido maravilhoso. 

ANDRIY SHEVCHENKOGetty Images

Goal: E como tem sido trabalhar com Shevchenko? Ele é um ídolo para muitos brasileiros também...

Júnior Moraes: A gente brinca muito que ele não tem noção do quanto ele é querido pelos brasileiros porque ele realmente é uma lenda. É a figura máxima aqui no esporte no país, tem uma posição muito forte e é uma excelente pessoa. Acho que por causa disso ele vem tendo sucesso como treinador. A Ucrânia na história do país sempre teve excelentes jogadores mas nunca teve um grupo muito unido, acho que a falta de resultados expressivos em campeonatos internacionais é por causa disso e ele conseguiu unir a seleção e os resultados têm vindo muito rápido. A gente classificou na Eurocopa em primeiro lugar do grupo, ganhando de Portugal e outras seleções, agora também na Liga das Nações estamos num grupo bem forte, desafio grande. Mas tem sido assim, tenho aprendido muito a trabalhar com ele, a comissão dele são pessoas que trabalharam muito tempo no Milan. 

Goal: Como é para você receber as instruções do Shevchenko?

Júnior Moraes: Vejo ele como um ídolo, admirava muito ele jogando e hoje convivendo com ele no dia a dia fico observando ao máximo.As veze a gente fala que ele não tem noção de quem ele foi, de quem ele representa. Ele ama futebol, quando tem joguinhos no treino ele quer participar e eu falo, 'fica ali na frente que eu trago a bola para você', e ele fala: 'não, fica você que eu vou lá atrás buscar a bola'. Tá de sacanagem, eu que tenho que trabalhar para ele, e poder fazer a dupla de ataque mesmo que seja no treino, eu deliro ali de poder aprender, curtir e ter a oportunidade de poder trabalhar com ele, eu curto muito. 

Goal: A gente vê na Europa o êxito de muitos treinadores portugueses, até no Brasil recentemente com Jorge Jesus. Como é o trabalho com a comissão técnica portuguesa?

Júnior Moraes: Eu gosto muito dos portugueses porque eles têm essa filosofia europeia de ter um time compacto, agressivo, um trabalho intenso, que valoriza muito a posse, de estar sempre mostrando um jogo atrativo e ao mesmo tempo eles têm um pouco do jeito brasileiro, de entender a função de cada jogador dentro de campo. Acho que um pouco do sucesso dos treinadores portugueses é essa mistura da rigidez, e também de ter um pouquinho desse jeitinho brasileiro de ser um pouco maleável e entender como cada jogador funciona.

Goal: Você também chegou a trabalhar com Fabio Cannavaro na China?

Júnior Moraes: Sim. Ele é o tipo de pessoa que adorei estar próximo, trabalhei pouco tempo mas foram meses maravilhosos, eu aprendi muito. O Cannavaro tem uma mentalidade vencedora, enorme. Nos treinos você via, são pessoas diferentes, nao tiveram sucesso à toa, voce vai aprendendo, como vai funcionando a vida, a carreira de cada pessoa, porque chegaram até esse nível... O trabalho do dia a dia, de querer sempre vencer, querer colocar o time para frente. Eu fiz uma amizade boa com ele, com a comissão dele ate hoje a gente se fala, pelo respeito, admiração são coisas que vamos levar pro resto da vida.

Goal: Você surgiu muito bem no Santos, mas você acabou não tendo a sequência esperada no futebol brasileiro... Bate uma vontade de repente voltar ao Brasil e conseguir o sucesso aqui também?

Júnior Moraes: É verdade. Meu primeiro ano no Santos foi maravilhoso, foi excelente. Na minha estreia poder fazer gol, dividir o vestiário com Zé Roberto, Maldonado, Cleber Santana. Eu aprendi demais, foi assim, você poder jogar, ser campeão, poder fazer gol e ajudar um grupo desse nível a ser campeão é marcante. Eu vislumbrava, um potencial enorme de poder fazer um sucesso enorme no Santos. Não aconteceu, chegou 2008 e tudo errado, mudança de treinador, não tive sequência, nao tive paciência para esperar, resolvi sair de qualquer jeito, tive uma lesão séria, meu contrato acabou com o Santos.

Um sonho que estava virando realidade acabou se tornando um pesadelo, demorou para me reinventar e acabei não curtindo, disfrutado o futebol brasileiro. Eu tenho saudades sim, tenho curiosidade de saber como seria se eu voltasse. Acompanho bastante o futebol brasileiro. Mas minha carreira foi sendo fortalecida aqui, estou muito feliz aqui e o futuro é difícil dizer, tenho vontade de jogar uma, ou duas temporadas no Brasil, mas é dificil falar. Tenho contrato aqui por mais um ano e nao sei como vai ser depois daqui, To curtindo esse momento e vamos ver o que vai acontecendo.

Goal: Mas você chegou a ter oportunidade, algum clube chegou a te sondar nesses anos? 

Júnior Moraes: Ao longo desses anos teve algumas conversas. Eu não tive nenhuma proposta oficial mas tive conversas com Santos, Fluminense, Corinthians. Pessoas de dentro dos clubes conversaram comigo sobre um possível retorno ao Brasil. Teve também do Grêmio, mas no momento era impossível, tinha contrato. A cláusula era alta, então foram só sondagens.

Goal: Você consegue acompanhar o futebol brasileiro dai?

Júnior Moraes: "Eu gosto muito de acompanhar o futebol brasileiro, nem sempre eu consigo assistir os jogos por causa do fuso, são seis horas para frente. Final de semana fica mais tranquilo para assistir. Os meninos aqui, a gente faz aposta quando joga Santos e Corinthians, Santos e Inter, cada um tem seu time favorito. Meu time é o Peixe. Estou adorando o trabalho do Cuca, eu acho que o Santos estava passando um momento muito difícil e com a chegada do Cuca deu uma organizada, estou adorando ver o Marinho arrebentando no Peixe, gosto muito do Carlos Sanchez, do Soteldo e ver o Santos embalar, jogando da melhor forma, para frente, atrativo, um jogo moleque, é assim que é o Santos". 

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