Cesar Peixoto treinadorDivulgação/Vitória de Guimarães

César Peixoto confirma sondagens do futebol brasileiro e analisa "o Brasileirão é mais competitivo que o campeonato português"

Nos últimos anos o futebol brasileiro foi invadido pelos treinadores portugueses graças ao sucesso de Jorge Jesus no Flamengo e Abel Ferreira no Palmeiras. Neste momento, são sete lusitanos na Série A do Brasileirão e o número poderia ser ainda maior se César Peixoto tivesse avançado nas conversas com alguns times do Brasil que o procuraram, como Athletico e Vasco, conforme soube a GOAL.

“Foi surgindo aí uma sondagem ou outra, me sinto honrado pelas sondagens, pelo interesse, por ser falado o meu nome em dois grandes clubes no Brasil. É um campeonato que está crescendo, atraindo mais treinadores, jogadores. Como técnico, me interesse muito o futebol brasileiro”, revelou César Peixoto em entrevista a GOAL. 

Abaixo, confira o bate-papo completo.

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Goal: César, o que te motivou a se tornar treinador de futebol?

Cesar Peixoto: “Eu tive uma carreira longa como jogador de futebol onde fui aprendendo de cada treinador, mas infelizmente tive muitas lesões. Então, fui tendo que mudar a forma de jogar, de enxergar o jogo e isso fez com que no meio da minha carreira o interesse pelo treino, pela tática fosse despertado. Na época do Braga, com Jorge Jesus, eu já questionava a equipe técnica sobre o exercício, sobre a função, já palpitava sobre o meu posicionamento…” 

Goal: Você recentemente teve seu nome ligado a dois clubes aqui no Brasil como Vasco e Athletico... Houve alguma sondagem, conversa?

Cesar Peixoto: “O Campeonato Brasileiro é fantástico, campeonato que vem crescendo muito, é muito competitivo. Muitos treinadores portugueses agora e também bons brasileiros.  Foi surgindo aí uma sondagem ou outra, me sinto honrado pelas sondagens, pelo interesse, por ser falado o meu nome em dois grandes clubes no Brasil. É um campeonato que está crescendo, atraindo mais treinadores, jogadores. Como técnico, me interesse muito o futebol brasileiro. É como eu procuro, competitividade, exigência, pressão. Eu me sinto honrado pelas sondagens, não vou confirmar nomes por uma questão de respeito".

Goal: Como você vê esse grande número de portugueses chegando no futebol brasileiro depois do sucesso de Jorge Jesus e Abel Ferreira?

Cesar Peixoto: “Vejo como natural. Os treinadores portugueses têm essa característica, nós somos muito curiosos, queremos sempre aprender mais e mais e não tens medo de arriscar, não ligamos para a pressão e isso nos faz, eu diria, ter capacidade para abordar qualquer campeonato, em qualquer país. Mas é verdade, quem abriu muito o mercado foi Jorge Jesus. Ele foi meu treinador por 4 anos. 1 ano no Braga e 3 anos no Benfica e conheço muito bem a forma dele trabalhar. Aprendi muito com ele. E é muito bom ter este mercado porque é o país com mais talento, de nível de jogadores”. 

Goal: Você e Abel Ferreira são da mesma geração, tem acompanhado o trabalho dele no Brasil? 

César Peixoto: “O Abel conheço bem, joguei sempre contra ele. Eu era extremo e ele defesa. Fomos muito rivais no campo. O Abel, na curta passagem dele aqui em Portugal mostrou muita capacidade e qualidade. No Brasil ele explodiu em termos de trabalho, tem mostrado uma capacidade enorme, tem sido um treinador fantástico. É difícil você estar sempre a ganhar e a ganhar. Não me surpreendeu porque o tempo que ele esteve aqui mostrou organização e competência”. 

Goal: O campeonato brasileiro está sendo exibido em Portugal e você já disse que acompanha. Você enxerga muita diferença para o campeonato português? 

César Peixoto: “Acho o campeonato brasileiro, em termos de equipes, mais competitivo porque há mais equipes para lugar para vencer, que podem ser campeãs. O Botafogo há muito tempo não ganha e está disparado agora. O Mineiro foi campeão recentemente e não está tão bem neste momento. A qualquer momento tudo pode mudar no Brasileirão. Há muita qualidade individual e talento, mesmo os jogadores estrangeiros que chegam, são de qualidade. O português também é competitivo porque tem treinadores de muita qualidade, organização nos clubes, tem talento, mas claro, não com a dimensão do Brasil. Acredito que o Brasileirão é mais competitivo que o português”. 

Goal: Recentemente, Jorge Jesus declarou que os português são os melhores treinadores do mundo. Você concorda?

César Peixoto: “Isso é bem Jorge Jesus mesmo (risos)., Nós temos dado provas que estamos preparados para qualquer desafio. Os treinadores portugueses estão entre os melhores. O Mourinho ganhou tudo, o Jesus também tem provado, o Abel, temos muitos treinadores em muitos países, ligas diferentes, nas melhores ligas. Às vezes, os treinadores dependem muito do contexto onde estão inseridos. Na minha opinião, o treinador pode ser bom, mas se não tiver material humano, bons jogadores, é difícil. A peça central do futebol são os jogadores. O treinador pode melhorar, evoluir a equipe, mas sem jogadores, não terá tanto sucesso”. 

Goal: Qual foi o melhor treinador português com quem você trabalhou?

César Peixoto: “Jorge Jesus. Na época com Mourinho não me importava muito com essa fase do treino, de entender, com Jorge estava mais maduro, era uma fase que me interessa muito o que era o treino. Mourinho estava há frente do seu tempo na fase em que trabalhamos juntos”. 

Goal: Há uma curiosidade com você. Estava no Paços Ferreira, foi demitido e depois foi convidado a voltar. O que aconteceu ali? 

César Peixoto: “Foi histórico aqui em Portugal, nunca tinha acontecido. No ano anterior eu cheguei ao Paços, não vencia há 4 meses. Fizemos um bom trabalho e conseguimos o objetivo de garantir a manutenção seis rodadas antes do final do campeonato. Renovamos o contrato, mas perdemos 9 titulares da equipe. O Paços é um grande clube, tem muita qualidade e por lá já passaram grandes treinadores como o Paulo Fonseca e outros, mas a maioria dos clubes em Portugal tem investidor e o Paços ainda é um clube de sócios, à moda antiga. Perdemos jogadores e não tivemos a capacidade de reinvestir. 

Tivemos que apostar em jovens, sem tanta experiência na liga portuguesa. A culpa não é só do clube, eu também me incluo, mas tivemos muitas dificuldades. O time até jogava bem, mas faltava experiência para manter um resultado, gerir uma vantagem. Fizemos 10 jogos e apenas 2 pontos. Acabei, em consenso com a diretoria, indo embora. 

Mas sempre tive o grupo, a equipe, os jogadores estavam crescendo e precisavam de tempo. Entrou outro treinador e não conseguiu somar nenhum ponto porque o time realmente não era competitivo. Me convidaram para voltar, os jogadores queriam que eu voltasse, eu achei que era brincadeira porque não fazia sentido nenhum. Eles insistiram e acabei abraçando o pedido dos jogadores, do clube. Nós fizemos 21 pontos e foi um segundo turno muito positivo, nós quase conseguimos o milagre de irmos aos playoffs. O Marítimo fez 26, nós tínhamos 23. Voltei a mostrar a eles que era possível, com um plantem mais competitivo, conseguimos ser mais competitivos, mas não deu. Se me perguntassem se eu voltaria da mesma forma, eu não tenho medo do risco, abraçaria o projeto de novo”. 

Goal: Quando seu nome surgiu aqui ligado aos clubes, uma imagem sua numa capa de revista viralizou, muitos comentários sobre o tema… 

César Peixoto: “Eu acabei por ler, me enviaram. Essa capa foi quando terminei a minha carreira. Fiquei uns 3 a 4 anos sem nenhum objetivo esportivo, não era treinador ainda, e eu sempre fui desportista, treinava. Eu recebi um convite para fazer aquela capa, numa revista de esportes. Era uma forma de estar focado, a ideia era demonstrar que um jogador profissional depois de terminar a carreira poderia seguir em forma. Porque muitos ex-atletas ficam mais cheios, não treinam, descuidam da alimentação. Ali era um exemplo de que um jogador pode terminar a carreira e manter a forma, essa era a ideia e por isso eu aceitei. Eu sou tudo menos playboy como falaram (risos). 

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