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Único daltônico da Liga Nacional, Sacon relata experiência e sonha com futsal nas Olimpíadas

Aos 32 anos de idade, Matheus Sacon segue na sua melhor forma disputando a Liga Nacional de Futsal com o Praia Clube, de Uberlândia (MG). Ele começou no futsal ainda em 2007, atuando pelo time da Cortiana, no Rio Grande do Sul - mas antes disso, ainda na infância, descobriu que era daltônico, o que não impediu em nada que Sacon construísse sua carreira nas quadras. Para ele, o daltonismo nunca foi um problema nos jogos.

Ele ainda pretende usar suas redes sociais com o intuito de ajudar as pessoas, mostrando algumas curiosidades e que, mesmo com algumas dificuldades, o daltonismo não impedirá a pratica de esportes - e, no caso, do futsal.

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Campeão por onde passou, o atacante fez sucesso no Peixe, em Brasília, por onde passou entre 2010 e 2011, além de conquistar seis títulos no clube, incluindo o bicampeonato brasiliense. Para Sacon, o salto da sua carreira veio quando atuou pelo Magnus, ao lado de grandes jogadores de futsal. Por lá, o ala conquistou o título do Mundial de Clubes e também da Supercopa, em 2018.

Em entrevista exclusiva para a Goal, Sacon revelou que jogar com Falcão, no Magnus, foi um sonho na carreira dele: “Poder jogar com Falcão é um sonho para todo jogador. Que pena ter sido no último ano, que foi o fim da carreira dele”, disse, enquanto sonha que, um dia, o futsal chegue também nas Olimpíadas.

Confira, abaixo, como foi a conversa com Matheus Sacon.

Início da carreira

“Minha carreira profissional começa em 2007, na Cortiana. Eu jogo futsal desde 1996, em competições federadas (...) Sai de casa (Rio Grande do Sul), tive algumas passagens por Brasília, depois fui pro Botafogo jogando a Liga em Niterói. Voltei para Tubarão, em Santa Catarina, depois acabei jogando no BGF (Bento Gonçalves) por opção mesmo, questões relacionadas de família. Meu pai estava com problema de saúde, optei por abrir mão um pouco da carreira.”

“Mas as coisas aconteceram no Juventude, em dois anos a gente conseguiu o acesso da Bronze para Prata, da Prata pro Ouro; sendo campeão da Série Prata e uma grande campanha na Série Ouro que me possibilitou voltar para o cenário nacional e ir para a Assoeva.”

“Tive a felicidade de ser artilheiro da Série Prata e da Série Ouro, pelo Juventude, abrindo as portas para a Assoeva. Ali individualmente foi o meu melhor ano da carreira, a gente conseguiu o vice-campeonato, da Liga Nacional, Campeão Gaúcho e fez com que chegasse o convite para ir pro Magnus.”

“Para minha carreira o salto foi estar no Magnus, estar recheado de craques. Um time base da seleção (brasileira) era do Magnus, jogadores consagrados e outra geração surgindo. E fui coroado com o título mundial naquele ano. Depois acabei indo para o Paraná, fiquei dois anos no Foz Cataratas, e fui campeão paranaense lá. E hoje estou aqui no Praia Clube, de Uberlândia.”

Como foi disputar o Mundial de Clubes?

“Foi diferente, porque teve um jogo antes da gente embarcar para essa viagem, e a gente perdeu por 6 a 2, pro Taubaté. E foi uma derrota muito dura. Eu lembro que naquele jogo eu joguei pouco, e eu pensei: será que no Mundial vou só passear, só para conhecer a Tailândia? E a gente foi pra Portugal antes fazer um torneio amistoso na Master Cup: jogamos contra o Benfica, contra o Sporting e contra a Inter-ESP. E lá, eu consegui ter uns minutos de quadra, joguei tive a oportunidade, e aproveitei e cheguei jogando no Mundial.”

“Na estreia joguei contra: o Barcelona, na semifinal consegui jogar e na final tive participação grande também de minutos, e até um lance importante quando estava 1 a 0, e eles colocaram o goleiro-linha a gente marcando o goleiro subimos a marcação e conseguimos interceptar a bola e eu acredito que ia fazer o gol, mas eu sofri uma falta e teve a expulsão do Bruno Sousa que foi um momento que a gente marcou o 2 a 0. Curioso que em um jogo antes dessa viagem eu não jogo, e chega no Mundial e jogo de uma forma importante, jogando e sendo importante para a equipe, colaborando para a conquista do título.”

Como foi descobrir o daltonismo e como lidou com isso ainda novo?

“Eu descobri muito novo na escola infantil ainda, quando a professora pedia pra pintar de algumas cores e eu não pintava das cores que ela solicitava. Ela achou que era birra, entrou em contato com a minha mãe e ela disse que isso não seria do meu feitio fazer isso. Então a gente foi ao oftalmologista e eu fui diagnosticado com daltonismo. No início, acho que eu não entendia o que realmente era, mas como o passar do tempo fui entendendo quando criança com um pouco mais de vergonha por ser algo diferente, com aquelas coisas de brincadeira, mas com o passar do tempo eu fui aceitando. Sempre levei numa boa, eu brincava com essa situação, meus amigos brincavam então sempre levei numa boa.”

“Acho que isso facilitou para mim e eu nunca carreguei isso como um fardo, como um problema. Já tive algumas provocações dentro de quadra com pessoas que sabiam que eu era daltônico tentando de certa forma me estabilizar, mas nunca tive problema, ouvia e dava risada, porque era algo que não me atingia acho que de tantas coisas que pode acontecer ser daltônico é passa batido perto de tantas deficiências que tem por aí. Algumas vezes tive dificuldade em treinos na questão dos coletes muitos parecidos para mim, por exemplo, o verde limão; amarelo; verde e vermelho, mas em jogos não teve nunca algo que me impossibilitasse de jogar."

"As vezes tem jogos que tem uma dificuldade maior por ser cores parecidas. Quando eu estava na Assoeva, a gente jogava as vezes de verde, e a CBF jogava de laranja, então a camiseta em uma ação rápida ficava um pouco parecida. Tinha que torcer pro calção ser de cores bem distinta para você consegue diferenciar um pouco, mas nunca me impediu de jogar nenhuma partida ou realmente: não tem como ou tá ruim. Até ontem assistindo fiz uma postagem assistindo Carlos Barbosa e o Atlântico, a CBF jogando todo de preto, e o Atlântico de camiseta vermelha e calção branco, para mim as camisetas estavam muito ruins de identificar, então as vezes são pequenos cuidados que podem mudar e imagem que se vende de um jogo, porque pra quem uma visão normal isso parece passar despercebido, mas para quem é daltônico as vezes uma simples mudança de camiseta que você não vai interferir no jogo nem mudar nada. Até porque o Atlântico teria um uniforme branco pra colocar, então esses cuidados as vezes acho que poderiam ter para facilitar a visualização de todos.”

Posição favorita para jogar

(...) A gente só tinha um goleiro, e o treinador colocou um pouco cada um no gol ‘vamos ver quem que é o menos pior’, e aí eu tive a infelicidade de ser o escolhido menos pior. Era pra jogar só um meio tempo, o primeiro tempo eram dois tempos para todo mundo poder jogar né, como são crianças. Aí quem joga no primeiro não joga no segundo, eu jogava no gol e no segundo tempo era pra jogar na linha. Só que o treinador achou que eu era melhor que o goleiro que tava lá como goleiro, e acabava jogando o jogo inteiro no gol e foi assim até o meio do ano. Mas depois quando chegou outro goleiro eu fui pra linha e realmente comecei como pivô, já fui ala e hoje sou um pouco mais fixo, mas também jogo de ala.”

“Às vezes tem a questão do goleiro-linha, que hoje também acaba fazendo durante o jogo, mas normalmente eu fico pra defender, quando eu sou goleiro-linha eu acabo saindo pra deixar um goleiro e deixar eles lá em baixo das traves que é melhor eu sair logo pra não complicar.”

“Mas acho que também isso é um pouco do dinamismo do futsal, hoje você tem que saber jogar em todas as posições. É claro que em uma ou outra você vai ser melhor, mas eu acho que tu tem que pelo menos saber quando cair em alguma posição saber se virar lá.”

Como tem sido a experiência no Praia Clube?

“Eu encontrei uma estrutura muito boa. Eu já conhecia e tinha jogado contra o Praia Clube, em 2011, quando eu tava em Brasília pelo Peixe. Mas foi ginásio, hotel e não conheci o clube. Todo mundo falava muito bem, mas eu cheguei aqui e me surpreendi, realmente uma estrutura fantástica tanto na parte social do clube dos sócios, quanto pra gente atleta.”

“A gente tem uma academia própria para os atletas, o mesmo que o vôlei usa hoje. Acho que o vôlei hoje é uma das principais, se não a principal equipe do Brasil em termos de investimentos, é o Praia Clube, então eles estão levando o futsal e tentando trazer de volta o futsal que é uma paixão pelo que comentam aqui do povo de Uberlândia, do sócio do Praia.”

“A gente começou bem, aí começou a tropeçar um pouco, hoje a gente depende só da gente pra classificar, tem um jogo ainda que a gente precisa ganhar em casa. Mas eu estou muito satisfeito aqui com a estrutura que o Praia Clube tem e que nos oferecem. Eu acho que é um projeto que tá crescendo e vai crescer muito mais, eles tem essa intenção de trazer um projeto a longo prazo e eu acredito que tem tudo pra dar certo, e a gente ainda vai buscar coisas grandes aí nesse ano.”

“Ainda tem a disputa do Mineiro, que eu acho que é um título importante pro Praia Clube, primeiro pra se consolidar no estado né, que tem essa briga com Minas, tanto a rivalidade dentro de quadra quanto a rivalidade de clubes pois são dois clubes grandes dentro do estado então tem tudo isso, e acho que a gente entra forte pro Mineiro e a gente vai buscar essa classificação na segunda fase da liga.”

Você sempre sonhou em jogar futsal?

“É eu comecei o futsal desde cedo né, quando criança na verdade minha família tinha uma quadra de esportes, então meu pai cuidou por muito tempo da quadra e eu cresci - vamos dizer assim - dentro de uma quadra, então minha iniciação foi desde sempre na quadra.”

“Teve um período que eu joguei futebol no Juventude, eu joguei 4 anos no Juventude e fui campeão gaúcho. Só que chegou um momento que eu tive que optar ou por futsal ou futebol, e eu acho que quando criança, você pensa em estar talvez onde seus amigos estão e estar num lugar que se sente bem. E eu optei pelo futsal, que é o que estava a mais tempo e tinha mais conhecidos e estava mais enturmado do que no futebol. E eu via também muitos amigos um pouco mais velhos chegando, na época o Juventude tava na Série A chegando no Juvenil e sendo cortado. Era muita gente de fora e poucos atletas ficavam, e também isso foi um dos motivos que eu acabei optando pelo futsal.”

“Sou muito feliz no futsal, acho que não me arrependo. Fica aquela curiosidade né, se tivesse seguido no futebol como seria, mas a gente sabe que é muito mais difícil chegar no futebol, não sei se teria conseguido jogar por muito tempo, se seria dispensado ou se teria que sair da cidade, e acho que fica essa incógnita. Mas hoje não me arrependo, sou muito feliz e muito grato por estar no futsal e por tudo que eu consegui conquistar até hoje, e o que ainda espero conquistar muitas coisas né, acho que ainda tem uma lenha pra queimar.”

Inspiração quando começou no futsal

“A gente tinha uma quadra e eu acompanhava os jogos dele (pai), e ficava brincando com ele, e como eu falei esse time de Caxias seria a base da seleção brasileira, grandes craques passaram. Então desde cedo eu acompanhei o futsal de alto rendimento também, acho que essa foi uma coisa que me ajudou também pra eu migrar pro futsal.”

“Eu sempre tive times adultos na minha cidade, e depois acabei subindo pro profissional com uma grande equipe também recheada de craques como o Ricardinho que hoje é técnico do Magnus e era atleta entre outros, então eu sempre tive boas inspirações.”

“Claro que o ídolo máximo sempre foi o Falcão, pra muita gente era o que mais era visível pra todos, mas além dele eu nunca tive apenas um atleta inspirador, sempre acompanhava vários e tentava entender e puxar um pouco da característica de cada um. Sempre fui um cara que além de jogar, também gostei muito de assistir o futsal, e com isso eu consegui aprender um pouco mais e tentar pegar um pouco de cada atleta e uma qualidade de cada um.”

Como foi jogar com o Falcão?

“Peguei ali o último ano dele, na despedida eu tava presente. Foi um sonho. Um sonho pra todo mundo, poder jogar com o Falcão. Que pena ter sido no último ano, que foi o fim da carreira dele. Não tava no auge, naquele ano muitas vezes ele já estava mais pensando no lado pós carreira, muitas propagandas, viagens, então, ele atuou um pouco menos que o normal, mas mesmo assim a gente pode tirar o proveito de estar do lado dele, de conquistar título do lado dele, de aprender com ele de ouvir algumas histórias, e a experiência que ele nos passava no dia a dia.”

Futsal nas Olimpíadas

“A gente conversa né, a gente brinca muito de ver alguns esportes que talvez tenham um prestígio menor que o futsal - claro, sempre respeitando todos os esportes - mas a gente entende que pela popularidade que tem o futsal, o número de praticantes que também é um dos requisitos para participar nas Olimpíadas, a gente também poderia estar lá.”

“Isso ajudaria muito a questão de organização, acho que tornaria o esporte mais profissional. Hoje ele seria de certa forma um esporte amador, mas de vivência profissional.”

“Então a gente espera que agora com essa mudança que vai ser a entrada do futsal na CBF, que já foi um passo grande, hoje a gente vê eles fazendo a preparação para o mundial na Granja Comary, que isso jamais se imaginaria em um período curto, então acho que passo a passo a gente pode está evoluindo, e quem sabe poder tá sonhando.”

Acho que é um sonho distante sim, mas acho que, quem sabe talvez algumas gerações mais para frente vão poder pegar o futsal nas Olimpíadas. Pelo menos esse é o desejo de quem gosta dessa modalidade, independente dos problemas que tem assim como todas as modalidades, a gente sonha em ver o futsal nas Olímpiadas.”

Dica para os futuros jogadores de futsal

“A dica que eu dou, é nunca desista. Parece um pouco clichê, mas faz muito sentido acreditar no trabalho, no treino, na evolução e nunca desistir. Confio e acredito muito nisso de não desistir dos sonhos, mas também batalhar por eles. Não acreditar que simplesmente vai cair do céu, as oportunidades vão aparecer do nada e sim que vão aparecer como recompensa do trabalho que tem.”

“E também estudar o jogo, acho que hoje cada vez mais o esporte está em um nível tão alto, que qualquer diferencial que você tenha dos outros vai te dar um passo maior, vai te fazer evoluir mais que alguns atletas que ficam para trás.”

“Tem inúmeros exemplos no esporte de craques tidos na base, que chegam em um certo ponto, por ter tido essa grande diferença de muito grande de técnica eles deixam de se esforçar em outras partes do esporte, confiando só no talento, e a gente sabe que o futebol e o futsal hoje em dia tá evoluindo cada vez mais. E muitas vezes esses talentos ficam para trás por não pensar no esporte como um todo.”

O que esperar do Sacon no futuro?

“Espero poder conquistar um título no Praia Clube, seja na Liga ou no Mineiro. Que a gente possa terminar o ano com um título e crescer junto com um projeto. E que eu possa ainda ao longo da minha carreira está ainda conquistando mais títulos. Já estou em uma idade mais pensando em parar do que no início, mas a gente sabe que tem muita lenha para queimar, se cuidando, comprometido com o trabalho a gente pode ainda dar muitas alegrias por quem torce por mim.” 


O que é o daltonismo?


O daltonismo é uma alteração da visão em que a pessoa não consegue distinguir muito bem algumas cores, principalmente o verde do vermelho. Existem também casos mais graves, em que a pessoa não consegue enxergar cores.

Essa dificuldade tem origem genética, quando há uma falha em um ou mais dos três conjuntos de cones que reconhecem as cores. Como está ligado ao cromossomo X, ocorre na maioria dos homens, pois o sexo masculino possuí apenas um cromossomo X.

Enquanto daltonismo em mulheres é bem raro, pois o sexo feminino possui dois cromossomos X. O daltonismo não têm cura e, por isso, o diagnóstico ainda cedo pode ajudar muito a adaptação de crianças: foi o que aconteceu com Matheus Sacon, que descobriu ainda na infância.

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