As lágrimas no rosto de Oleksandr Zinchenko, durante a entrevista coletiva, já davam o tom: as emoções neste playoff de repescagem por uma vaga na Copa do Mundo de 2022 serão maiores do que qualquer um poderia, um dia, imaginar.
Escócia e Ucrânia se enfrentam às 15h45 (horário de Brasília) desta quarta-feira no Hampden Park, em Glasgow, e o time que vencer avança para definir, contra Gales, quem vai disputar o Mundial de seleções no Qatar. Para os ucranianos, claro, há muito mais em jogo.
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Em meio ao conflito contra a Rússia, que motivou o adiamento da partida em questão, o esporte acaba virando um escape, oferecendo algo raríssimo para ucranianos mundo afora desde que o país foi invadido pelos russos no fim de fevereiro: boas sensações e um motivo para sorrir.
Por causa do conflito bélico, a seleção ucraniana não disputa jogos oficiais desde novembro de 2021. Amistosos, como contra o Borussia Monchengladbach, da Alemanha, acabam sendo a plataforma para que boa parte dos atletas mantenham o ritmo de jogo.
“Quando se trata de futebol, nós também temos um sonho: ir à Copa do Mundo e dar essas emoções aos ucranianos neste momento difícil, porque eles merecem”, disse Zinchenko, um dos poucos que, por não atuar na Ucrânia (defende as cores do Manchester City na Inglaterra), pôde seguir disputando partidas competitivas de alto nível por seu clube.
As palavras de Zinchenko ilustram muito bem: em um momento de traumas, o futebol apareceu como escape para a Ucrânia e ucranianos. Não foi a primeira vez.
Em 1942, um time montado por uma fábrica de pães na Kiev invadida pelo exército nazista conseguiu, através de um bom futebol e vitórias marcantes, dar um sopro de vida em uma cidade afundada na depressão causada pelos abusos da Segunda Guerra Mundial. Foi um facho de luz em meio à escuridão.
Ao se recusarem a entregar o jogo para uma equipe montada pela ocupação nazista, a maior parte dos jogadores daquele time de Kiev foi morta – ainda que não com os contornos do heroísmo romântico que passou a marcar este acontecimento – pelos nazistas. O episódio em questão entrou para a história com o nome de “O Jogo da Morte” e inspirou filmes e livros.
Contra a Escócia, agora em 2022, a seleção ucraniana joga pensando muito mais na vida. Com esperança de um lugar na Copa do Mundo, mas acima de tudo torcendo para voltar a sorrir por motivos que não sejam apenas um jogo de futebol.
“Todo ucraniano tem um sonho principal: parar a guerra. Conversei com diferentes pessoas de diferentes países, conversei com crianças ucranianas. Elas não entendem nada, mas dizem uma coisa. Sonham em acabar com esta guerra (...) Tenho certeza de que toda a Ucrânia estará nos observando. Sentiremos seu apoio. Podemos falar muito, mas precisamos provar tudo em campo. Amanhã tentaremos deixar nosso povo feliz e orgulhoso”, explicou Zinchenko, com lágrimas nos olhos mas querendo buscar motivos para fazer com que os seus voltem a sorrir.
