O Shakhtar Donetsk venceu novamente o Real Madrid, nesta terça-feira (1). Com gols de Dentinho e Solomon, o time ucraniano já conquistou seis pontos diante dos merengues nesta temporada, além de ter assumido a segunda colocação do Grupo B da Liga dos Campeões . Todos os gols da equipe tiveram participação direta de jogadores nascidos no Brasil: Dentinho marcou o primeiro e Maycon deu a assistência para o segundo. Isso sem nem contar as participações importantes de Taison, Tetê, Dodô e Vitão, entre outros, para garantir a vitória na Champions.
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Mas pode acreditar: ainda que seja impressionante ver tantos brasileiros serem decisivos de uma só vez em um duelo europeu, isso não chega a causar tanta surpresa se estivermos falando justamente sobre o Shakhtar. Afinal de contas, já são décadas desde que o clube ucraniano passou a ser destino de alguns dos nossos melhores jogadores. O time atual, treinado pelo português Luís Castro, conta com 13 atletas nascidos no Brasil. E ainda que não seja a equipe da Europa com mais brasileiros – o Portimonense, de Portugal, destino um tanto quanto óbvio, conta com 16 – não há dúvidas que os exilados de Donetsk são os mais identificados com o verde-e-amarelo tupiniquim no Velho Continente.
Quem são os brasileiros do Shakhtar
O time atual conta com 13 jogadores nascidos no Brasil, sendo minoria apenas em comparação aos 17 ucranianos. Mas é bem verdade que o Shakhtar já está tão misturado com sua recente raiz brasuca que dois de seus jogadores são brasileiros naturalizados: Marlos, ex-São Paulo, e o atacante Júnior Moraes, ex-Santos, inclusive já entraram em campo pela seleção ucraniana.
A lista do elenco atual é completada por: Taison (ex-Internacional), Dentinho (ex-Corinthians) e Alan Patrick (com passagens por vários clubes brasileiros), além de jovens como Vitão, Dodô, Marco Antônio, Maycon, Tetê, Marquinhos Cipriano e Fernando. O veterano Ismaily, de 30 anos, saiu cedo do Brasil e já veste a camisa dos “mineiros” há oito temporadas.
Como o Shakhtar virou o “clube mais brasileiro da Europa”
Getty Willian e Luiz Adriano nos tempos de Ucrânia (Foto: Getty Images)
Como escrito parágrafos acima, já faz um bom tempo que não é novidade ver uma horda de brasileiros defendendo a camisa laranja do clube ucraniano. Brandão foi, em 2002, o primeiro a chegar ao Shakhtar, mas a revolução de verdade só começou em 2004. Foi quando Rinat Akhmetov, o milionário dono do clube, achou que a solução para levar seu time ao topo e acabar com a hegemonia do Dínamo de Kiev era apostar no talento do futebol canarinho. O romeno Mircea Lucescu, que de tão fã da forma brasileira de jogar sabia até falar português, foi o treinador escolhido para tocar o projeto. E conseguiu.
Desde então, o Shakhtar já conquistou 12 do seu total de 13 títulos ucranianos e encostou no Dínamo de Kiev (15 vezes campeão) na luta pela supremacia futebolística do país. Dentre outras taças domésticas, o ápice do Shakhtar brasileiro aconteceu na temporada 2008-09, com a conquista da Europa League sendo sacramentada através de gols de Jadson e Luiz Adriano na final contra o Werder Bremen, da Alemanha. Ilsinho, Fernandinho e Willian também foram titulares naquela decisão – basicamente metade do time.
Getty Images Jadson levanta a Europa League em 2009 (Foto: Getty Images)
Em determinado momento, quando jogadores da equipe de Donetsk passaram a ser convocados, cada vez com maior rotatividade e regularidade, para a seleção brasileira, surgiu até mesmo um apelido pejorativo. A “Cota Shakhtar” foi a expressão cunhada pelo desconhecimento e desconfiança em relação ao futebol de brasileiros que jogavam na distante e fria Ucrânia. Mas eles foram, ano a ano, provando seus pontos.
Fernandinho (hoje no Man.City), Willian (Arsenal), Douglas Costa (Bayern de Munique) e Fred (Manchester United) são alguns dos nomes que ainda atuam por alguns dos principais times europeus da atualidade. Todos eles passaram antes por Donetsk e viraram ídolos, assim como Jadson (que até recentemente estava no Corinthians, onde fez história), Elano e Luiz Adriano (Palmeiras). São vários os outros nomes, mas o exemplo já se sustenta por aqui.
Nem tudo são flores na relação
FC Shakhtar Donetsk (Foto: Getty Images)
A relação do Shakhtar com seus brasileiros não foi apenas de momentos felizes, é bom destacar. Em 2014, a invasão da região da Criméia – justamente onde fica Donetsk – pelos russos, e as tensões bélicas que aconteceram por lá, obrigaram o Shakhtar a jogar longe de sua casa. Sob este cenário, brasileiros como Alex Teixeira e Douglas Costa tentaram deixar o clube por medo da guerra – até serem demovidos de tal ideia. É por isso, aliás, que ainda hoje o Shakhtar manda suas partidas na cidade de Kharkiv, sendo uma espécie de exilado em território próprio.
Um outro problema que ficou cada vez mais aparente foi a desgraça do racismo. A imagem de Taison deixando o gramado, expulso por ter reagido a insultos raciais feitos por torcedores do Dínamo de Kiev em 2019 , ficou marcada eternamente como uma cicatriz com efeito prático: o meia-atacante, uma das principais referências técnicas da equipe, não quer mais seguir no Shakhtar após o término do seu contrato em 2021.
Semifinal de Liga Europa em 2019-20
Mircea Lucescu, o romeno mais brasileiro que você pode sonhar em conhecer, deixou o Shakhtar em 2016. Uma guerra e o racismo também abalaram os laços com jogadores do Brasil. Ainda assim, o Shakhtar segue como o clube mais brasileiro dentre os melhores times da Europa.
Em meio às mais diferentes tormentas, este casamento prossegue e voltou a dar resultados dentro de campo. Pela primeira vez desde 2016, o Shakhtar alcançou a semifinal da Europa League e enfrentou a poderosa Internazionale de Milão na disputa, sendo derrotada nas semis. Nesta atual temporada, porém, o time vem fazendo boa campanha na Liga dos Campeões e sonha com uma nova classificação para as oitavas da competição.



