Hulk Atlético-MG 2021Getty Images

Professor Hulk: a construção de um ídolo histórico do Atlético-MG

A temporada 2021 do futebol brasileiro foi encerrada, agora em dezembro, com a confirmação do que parecia ser óbvio depois do atropelo sofrido pelo Athletico-PR no primeiro dos dois jogos da final da Copa do Brasil: o título do Atlético-MG. Mais um título do Atlético-MG.

A taça é a coroação de uma temporada histórica do Galo, que antes havia levantado estadual e Brasileirão, igualando assim o feito que seu arquirrival, o Cruzeiro, havia conseguido em 2003: a Tríplice Coroa. E se dentro de campo há um personagem de protagonismo que ajudou os alvinegros a levantarem tantas taças, este cara – você já sabe muito bem – é Hulk.

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Givanildo Pereira de Souza encerrou sua campanha 2021 marcando mais um gol, agora na finalíssima da Copa do Brasil, na Arena da Baixada. Totalizou 36 gols e 13 assistências nesta sua campanha de debute com a camisa do Galo (igualando sua melhor temporada artilheira). Aos 35 anos, esta foi a primeira vez que jogou por um clube brasileiro já sendo reconhecido como o herói que se tornou. De um desconhecido no Vitória, da Bahia, Givanildo rodou o mundo para se transformar em Hulk.

O nome é de herói bruto, inspirado obviamente pelo físico de halterofilista, mas foi agora, justamente com a camisa do Galo, que o paraibano também mostrou um outro lado. E ao ser um jogador completo, conseguiu colocar-se lado a lado de outros deuses do olimpo atleticano. Vale lembrar que estamos falando de um clube que venera figuras como Dadá Maravilha, Reinaldo, Toninho Cerezo, Guilherme e Marques e Diego Tardelli. E Ronaldinho Gaúcho. Hulk está, eternamente, no meio desta turma. E isso não é pouco. Muito pelo contrário.

A história de como Hulk se transformou em ídolo atleticano tem a ver com escolhas que permeiam o chamado futebol moderno, passam pela diplomacia que driblou egos e acabou fortalecendo tudo o que se podia fortalecer, e evidentemente passam por gols, jogadas encantadoras e títulos históricos. Se o Galo não conquistava o Campeonato Brasileiro havia 50 anos, Hulk ajudou a acabar com essa escrita. Se a zombaria do futebol caçoava do Atlético pela ausência de grandes bicampeonatos, Hulk foi o craque tanto do bi no Brasileirão quanto no da Copa do Brasil. E se o Cruzeiro batia no peito pra dizer ser o único dono de uma verdadeira Tríplice Coroa brasileira... bom, nessa altura do texto você já sabe o que aconteceu.

Hulk escolheu o Atlético-MG porque, após quase duas décadas no estrangeiro, queria ser protagonista no futebol de clubes de seu país. Aos 35 anos, já devia saber que as maiores potências da Europa não estariam tão interessadas em seus serviços. Após o auge com a camisa do FC Porto, fez um belo ‘pé de meia’ com o dinheiro recebido em passagens pelo Zenit, da Rússia, e aproveitou os últimos anos de bonança financeira do mercado chinês – onde defendeu o Shanghai SIPG por cinco temporadas. É evidente que o dinheiro também pesou para fazê-lo optar pelo Atlético. Estamos, afinal de contas, falando sobre um dos três clubes brasileiros que, hoje, mais investem no seu futebol.

Pelo Galo, Hulk jogaria no estádio que marcou o episódio mais vexatório da história do futebol brasileiro: o Mineirão, palco do 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil na semifinal da Copa do Mundo de 2014. Givanildo jogava naquela seleção brasileira e foi um dos tantos personagens execrados após aquele episódio. Mas se o fim de seu primeiro ano no Atlético, agora em 2021, foi apoteótico, o início foi marcado por desconfianças e desempenho abaixo. Tanto, que o jogador explanou o descontentamento com a forma com a qual era escalado pelo técnico Cuca.

Em um meio marcado por egos inflados, houve quem esperasse o pior: a saída do comandante ou daquele que fora contratado para ser o herói da massa? Nem um, nem outro. Cuca e Hulk se entenderam e, juntos, resolveram a parada. E a charada. Foi a partir daquele momento que a temporada histórica ganhou seu ‘antes-e-depois’.

“O Cuca foi muito importante, teve aquele desentendimento no início que foi muito importante para conhecermos um ao outro. Hoje a nossa relação é maravilhosa, é um cara que respeito muito e está sendo fundamental na minha temporada. Quando a gente faz as coisas certas é recompensado”, disse o camisa 7 sobre o episódio em entrevista ao programa Bem, Amigos!, do SporTV.

Hulk Cuca Atlético-MG 2021Getty Images

O desenrolar da história entre Hulk e Cuca mostra que o apelido em homenagem ao herói criado pela Marvel Comics é bem mais superficial do que parece. E o desempenho de Givanildo em campo também mostrou isso: a força obviamente estava lá (de forma até mesmo exagerada em seu início), mas os gols, assistências e chances criadas também mostraram um lado mais cerebral, que poucos conheciam ou esperavam, do jogador.

Hulk deu aula de futebol ao longo desta temporada 2021, mas também de história ao celebrar um de seus gols, já na reta final do Brasileirão, fazendo a célebre comemoração do eterno ídolo Reinaldo – o punho erguido para cima, como fizeram os Panteras Negras nos anos 1970.

Hulk Atlético-MG 2021 BrasileirãoFoto: Pedro Souza / Atlético

Em 1991, o roteirista Peter David imaginou um Hulk que juntaria o melhor da força do gigante incontrolável com a inteligência brilhante de Bruce Banner, o cientista que se transformava na fera com a qual sempre viveu em conflito. O personagem, fortão mas cerebral, em harmonia consigo mesmo após anos instáveis, ganhou a alcunha de Professor Hulk e apareceu até no último filme dos Vingadores. Agora em 2021, o futebol brasileiro foi quem escreveu o roteiro deste Professor Hulk. Um ídolo do Galo forte.... e vingador.

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