A Portuguesa, tradicional clube da capital paulista, elegeu na semana passada seu novo presidente para o triênio 2020/21/22. O pleito conturbado, marcado até por uma briga entre o ganhador Antonio Castanheira e um membro da chapa derrotada, Ricardo Costa, dá o tom do que espera pelo mandatário, entrevistado pela Goal.
Atencioso com a reportagem, Castanheira explicou sua versão do que aconteceu na eleição (veja o vídeo) e classificou o episódio como "muito triste". Já buscando informações e projetos para a Lusa, o dirigente, que assume o cargo no dia 2 de janeiro, detalhou o que tentará fazer para recolocar o clube no caminho das glórias passadas.
Uma separação do futebol com o clube social, algo feito por vários clubes grandes no país, é visto como o passo essencial. Ingressos mais baratos, um projeto de clube-empresa e a confiança de uma junta diretiva, responsável pela organização do elenco visando a 2020, são os pilares pretendidos pela gestão. Tornar-se um novo Red Bull, projeto em alta no Brasil, porém, não está nos planos.
"O nosso modelo é diferente. Eles têm um modelo assim dessa forma por questão de ser em Bragança. Querendo ou não, a Portuguesa tem uma camisa mais forte, tem mais história, tem mais tradição. O nosso é um modelo diferente, cada um para o seu público", assegurou Castanheira.
Veja abaixo a entrevista completa com o futuro mandatário lusitano:
Goal: Antonio, primeiro gostaria de te dar o espaço para comentar a briga envolvendo você e um opositor (Ricardo Costa).
Castanheira: Ali eu fui só me defender, a atitude partiu do agressor. Foi um episódio muito triste, não acho nem que fica legal ficar levantando agora se foi A, B, C quem estava certo. O que aconteceu lá acontece em muitos clubes no país. É muito coração que tem, as pessoas acabam extrapolando. Ali foi o que eu fiz.
Goal: É de se imaginar que o clube não esteja muito unido...
Castanheira: Não existe dividir, eu inclusive tentei fazer com que isso não acontecesse. estava acertado com o Alexandre (Barros), ele deu declarações de que não ia concorrer para que a gente fosse trabalhar de forma conjunta. Inclusive com o Nando (Fernando Tomé), estava acertado para fazer uma chapa única. Mas ele escutou de uma forma errada e não deu para fazer.
Goal: Já trabalha por essa união?
Castanheira: O Nando já está tranquilo, ele teve uma solicitação de impugnação da chapa dele pelo vice-presidente do Alexandre Barros. O Nando estava naquele acerto que foi feito no sábado. Foi mero detalhe, a gente converge em muitas coisas, que aliás acabaram fazendo a conjunção na chapa da Revolusa. Espero que todos pensem na Portuguesa, que exista uma convergência total, mas com os outros é complicado. Sinceramente, Manoel Reis e Alexandre Barros não têm condições.
Goal: Desde quando você é sócio da Portuguesa?
Castanheira: Desde 1971, desde os seis anos de idade, quando o meu pai comprou o título familiar.
Goal: O seu mandato vai pensar mais no clube social, com o Canindé no estado que está, ou no futebol?
Castanheira: É futebol total. Tentar resgatar a parte social para o momento social de hoje. Não é os áureos tempos com 90 mil sócios, tem que acomodar seus cinco, seis mil sócios da forma que der. Isso daí vai ser o nosso foco para poder acabar com esse passivo enorme criado nos últimos anos.
Goal: E como fazer isso?
Castanheira: Foco total do futebol, fazer a estruturação do futebol de forma totalmente separada. Leva totalmente lá para o CT. Eu imagino que, com organização, a coisa comece andar bem e faça o futebol gerar um dinheiro rapidamente para a gente poder pagar as dívidas de curto prazo e evitar bloqueio em receitas para que a gente consiga ter a tranquilidade de operar.
Goal: A junta de dirigentes segue à frente do futebol.
Castanheira: Já estive com eles, passei confiança. Confio que o trabalho será feito da melhor maneira. Eu não sabia muito bem como estava a junta, tem lá os diretores, o Marcos, o Renato, o Zé Manuel. Não tem cotista nenhum, tem é muito esforço e muito trabalho desses homens que merecem todo o respeito. Pegaram o touro à unha e por isso que vão continuar até o final da Série A2.

Goal: Como mudar tanta coisa que vem dando errado em três anos. Um clube que jogou a Série A em 2013 hoje está próximo de não jogar nem a Série D mais uma vez.
Castanheira: Eu só tenho três anos de mandato, nem se você subir todos os anos você consegue entrar na A. Já fiz uma reunião com a junta da diretoria de futebol, passamos toda a tranquilidade. Vamos buscar organizar e arrumar dinheiro. Futebol é assim, trabalho. Às vezes você tem um caminhão de dinheiro e não dá certo.
Goal: Você é a favor do modelo de clubes-empresa que tramita na Câmara?
Castanheira: Esse modelo futebol-empresa vai ter que acontecer no nosso país, não tem como fugir da profissionalização, o futebol virou um dos melhores modelos de negócio do mundo. O resto é amadorismo, que é o que vem acontecendo ano após ano. O Botafogo já aprovou isso lá no Rio de Janeiro, um clube grande, de tradição. Espero que a gente consiga formalizar isso no nosso futebol
Goal: Existe esse projeto então?
Castanheira: Já estamos trabalhando. O modelo é bem próximo ao do Botafogo, temos um assunto a ser discutido. Ainda falta uma análise jurídica no projeto de futebol empresa, uma análise da CBF. Esperamos que dê certo.
Goal: O que você pensa sobre o modelo do Red Bull Bragantino?
Castanheira: O nosso modelo é diferente. Eles têm um modelo assim dessa forma por questão de ser em Bragança, a Portuguesa tem uma camisa mais forte, tem mais história, tem mais tradição. O nosso é um modelo diferente, cada um para o seu público.
EC BahiaEm 2013, Lusa disputou seu último Brasileirão Série A (Foto: EC Bahia)
Goal: Pretende manter o carnê de ingressos para o ano a 100 reais, como feito em 2019?
Castanheira: Jamais. Carnê a 100 reais, isso não existe. É preferível ter a Portuguesa com 20 mil torcedores a 5 reais, estádio cheio. Vamos fazer as promoções que nós fizemos em 2015, estádio sempre cheio. Infelizmente o produto que nós estamos ofertando para a torcida ainda é muito ruim. Tenho certeza que no primeiro e no segundo jogo de bom futebol eles já vão voltar a campo.
Goal: E na parte social, o que vai ser da Portuguesa?
Castanheira: A Portuguesa não tem mais nada. No clube só restou o salão nobre e o ginásio. As piscinas acabaram. Tem que ser perguntado para o presidente atual porque ficou desse jeito, mas ele não é uma pessoa fácil.
Goal: Circularam algumas fotos do gramado do Canindé bem prejudicado. Ele continuará a receber shows?
Castanheira: Sim, porque isso vai ser a tona da arena nova, gerar eventos e shows e fazer jus ao passivo grande que foi acumulado nos últimos anos. O projeto já existe e é uma das nossas prioridades.
