NxGn 2016 Sergio DiazGetty Images

Por que Sergio Díaz, sensação do NXGN que passou pelo Corinthians, nunca jogou no Real Madrid?

Com a experiência de ter sido jogador e treinador das seleções paraguaias, Carlos Jara Saguier conhece uma coisa ou outra sobre jogadores talentosos quando ele tem a oportunidade de ver um.

E Sergio Díaz foi um dos melhores que ele já viu.

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“Eu vi um jogador muito completo, por causa de sua inteligência e tomadas de decisão, além de saber usar muito bem os pés”, disse Saguir em entrevista exclusiva para a Goal. “Ele era uma criança quando já estava brilhando com a camisa do Cerro Porteño”.

“Ele também era um grande companheiro de time, e uma das melhores coisas sobre ele é que ele sempre cumpria o que se esperava dele. Ele nunca complicava muito as coisas”.

No entanto, é justo dizer que desde que Jara Seguier trabalhou com Díaz, que tinha então 17 anos, as coisas passaram a ficar mais complicadas.

Apelidado como “o Aguero do Paraguai” durante a sua adolescência, Díaz foi contratado pelo Real Madrid em 2016, mas nestes cinco anos ainda não disputou uma partida pela equipe principal do clube espanhol.

Ao invés disso, passou a viajar pelo mundo em quatro diferentes empréstimos sem que conseguisse reencontrar a forma que o fez ser duas vezes incluído na lista Goal NXGN dos jovens mais promissores do futebol.

Mas, então, o que aconteceu?

16 NxGn SERGIO DIAZGoal/Getty Images

Voltemos a julho de 2014: Díaz faz, com apenas 15 anos, sua estreia pelo Cerro Porteño, clube do qual é torcedor, e marca o seu primeiro gol como profissional dois meses depois.

Não foi surpresa ver inúmeras equipes da Europa demonstrando interesse no jovem paraguaio, que chegou a revelar uma torcida pelo Arsenal e manifestou o sonho de um dia defender os Gunners. Liverpool, Manchester United e Real Madrid manifestaram interesse.

No futebol de seleções, Díaz foi a estrela da seleção paraguaia, comandada por Jara Saguier, na Copa do Mundo sub-17 de 2015. E se a competição não foi das melhores para o seu país, que fez uma das piores campanhas, individualmente o garoto brilhou o bastante para seguir atraindo os maiores clubes do futebol europeu.

“Quando Sergio chegou para a seleção sub-17 ele já tinha uma grande vantagem, porque havia sido chamado para o sub-20 com 17 anos”, relembra Jara Saguier. “Ele era a estrela, o nosso melhor jogador”.

“Nós já sabíamos do interesse do Real Madrid, de outros olheiros que vieram para vê-lo. As coisas aconteceram de forma muito rápida, em pouco tempo ele já estava tomando o rumo para Madri. Eu fiquei muito feliz pela forma como aconteceu, vários jogadores conseguiram transferências depois daquela Copa do Mundo”.

Em 2016, Díaz ainda fez gols sobre Guinea e Japão no famoso Torneio de Toulon pela seleção paraguaia apesar de ser mais jovem do que o necessário na competição. Foi quando o Real Madrid entrou na história.

Em sua primeira temporada na Espanha, Díaz marcou cinco gols em 36 partidas pelo Castilla – o time B do Real Madrid – antes de ser emprestado para o Lugo, da segunda divisão, para ganhar mais experiência em seu desenvolvimento.

Foi lá que o garoto sofreu uma grave lesão no joelho, que o tirou de ação por 10 meses.  Foi quando o Corinthians entrou na história.

Enquanto lutava para recuperar sua forma e ter oportunidades, Díaz foi emprestado para o Corinthians – que na época estava longe de viver um bom momento na tabela do Brasileirão. Na tentativa de reestruturar o clube, a diretoria alvinegra decidiu investir em nomes jovens. E Díaz era um jogador que há tempos estava no radar do Timão. A expectativa era de vê-lo fazendo a diferença.

“A primeira vez que eu, dentro de um estádio, o vi jogar foi em 2016, no ano em que pela primeira vez ele entrou na lista do NXGN. Na época ele era um garoto no Cerro”, relembra para a Goal o jornalista Tomás Rosolino, que cobre o dia a dia corintiano.

NxGn 2017 Sergio DiazGetty Images

“Eles (Cerro) enfrentaram o Corinthians pela Copa Libertadores em Assunção e, basicamente, ele destruiu o Corinthians. Não havia dúvidas de que ele tinha sido o melhor em campo. Aquele jogo foi a razão pela qual o Corinthians o trouxe dois anos depois”.

“Existem alguns estereótipos no futebol sul-americano: os brasileiros com muita habilidade, os uruguaios e argentinos que são mais diretos... e que o Paraguai só se defende. O melhor atacante da história deles foi o Roque Santa Cruz. Mas eu não me lembro de um paraguaio que driblava tão bem quando o Sergio Díaz”.

“Naquele jogo, ele entrou após o intervalo e pedia a bola toda hora. Eu lembro do Tite (técnico do Corinthians na época) encantado com ele depois do jogo. Daquele dia em diante, o Corinthians manteve os olhos nele. Quando tiveram a oportunidade de tê-lo, eles nem pensaram. Ele tinha um problema no joelho? Sem problemas”.

No entanto, havia de fato um problema.

Quando chegou ao Corinthians, em julho de 2018, Díaz estava há seis meses sem jogar. E só conseguiu entrar em campo em setembro daquele ano.

E quando eventualmente apareceu para os compromissos, foi em um dos seus quatro jogos antes de começar a sentir uma tendinite em seu joelho. A aposta do Corinthians não trouxe ganhos, mas naquele momento Díaz não lutava apenas contra a parte física. Com a confiança destroçada, o peso psicológico também começou a puxá-lo para baixo.

“Ele era um garoto, não falava muito bem e era muito tímido. Ele disse para mim (na zona mista do estádio, após um jogo) que queria ir bem no Corinthians. Ele falou sobre a dor no joelho, que isso fazia ele perder treinos às vezes, e como os dias subsequentes aos treinos eram difíceis para ele”.

“É uma pena, ele trabalhava bem, mas nunca conseguiu treinar a quantidade de vezes que o Corinthians queria”.

Sergio Diaz

Hoje Díaz está com 23 anos, e depois de uma rápida passagem de volta ao Cerro – que ficou mais famosa fora dos campos, depois que ele foi flagrado quebrando as regras de lockdown por causa do novo coronavírus – o seu mais recente empréstimo foi para o América, do México, onde ele disputou apenas oito jogos, sem ter participado de um minuto da campanha no Clausura de 2021, onde o clube luta pelo título.

E enquanto segue com um perfil dedicado a ele no site oficial do Real Madrid, que o enche de elogios e predicados em suas páginas online, as chances reais de vermos Díaz jogando pela equipe merengue vão diminuindo dia após dia.

“Ele saiu daqui muito jovem”, Jara Seguier observa. “Ele tinha pouca experiência no futebol profissional, assim como os compromissos com as seleções sub-17 e sub-20, que pareciam ser o seu principal trabalho. Ele teve pouco tempo para se preparar”.

“Ele saiu de uma atmosfera onde ele era a grande estrela para o Madrid, onde ele seria só mais um jogador. Ele teve que se virar sozinho, muito longe de casa, e obviamente isso é muito difícil”.

“A lesão definitivamente atrapalhou as suas chances de se estabelecer na Espanha. Assim que você volta, não sabe se será o mesmo jogador. Faz muito tempo que não tenho contato com ele, desde que ele foi para a Espanha”.

Rosolino concorda com a avaliação de Seguier: “o Real Madrid deve ser o último estágio para um jogador de futebol. Ele teve uma boa temporada numa Copa Libertadores, onde o Cerro chegou no mata-mata. É muito cedo para alçá-lo àquele nível”.

“Se ele tivesse permanecido na América do Sul, poderia ter disputado muito mais jogos competitivos e ter se tornado um jogador melhor”.

E agora, o que o futuro reserva para Sergio Díaz?

“Ele ainda tem 23 anos, é muito jovem e ainda pode ter uma boa carreira”, opina Rosolino. “Mas é difícil, psicologicamente falando. As pessoas diziam que ele era o futuro do Paraguai. É muito difícil, para alguém que alça voos tão altos tão cedo, entender que ele não voltará a voar tão alto”.

“Ele era um fenômeno no Paraguai, mas acho que ele não consegue mais atingir aquele nível ou jogar pelo Real Madrid. Ele pode jogar em uma liga competitiva da Europa, está no México, que tem uma boa liga. Ele poderia vir para o Brasil, jogar uma temporada com 50-60 jogos”.

Javier Saguire, entretanto, ainda acredita que há esperança para o jogador que o encantou seis anos atrás.

“Depende dele, depende de cada jogador fazer seu argumento. Ele nasceu como uma estrela, mas o que ele precisa fazer agora é se acalmar e decidir o que ele quer fazer. Ele precisa focar no seu próprio jogo e nos próximos passos”.

“Ele é um grande jogador e vai conseguir superar este período difícil”.

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