Por Bruno Andrade 
Um ano e meio a moldar o sistema defensivo do Lyon. Este tem sido o desafio do Cláudio Caçapa no clube onde é ídolo absoluto. Entre 2001 e 2007, ajudou a liderar a equipe ao lado do compatriota Juninho Pernambucano no heptacampeonato francês, e, hoje, dez anos depois, trabalha como auxiliar técnico. O primeiro passo para seguir a carreira como treinador.
"Passei 15 anos jogando profissionalmente, então conheço muito bem a parte defensiva, percebo o que um defensor precisa fazer. Sabemos os atalhos. Faço o que gosto e às vezes até sinto que estou jogando. Sofro com os gols que levamos e sinto prazer com as grandes atuações da defesa", explicou o ex-zagueiro, braço direito do técnico Bruno Génésio, em entrevista ao Blog Ora Bolas .
"Eu, no papel de auxiliar, trabalho no exato sentido da palavra: auxiliar. A decisão final é sempre do treinador. Tudo o que faço é em função dos pedidos dele. Se ele gosta que o zagueiro feche o meio, trabalho em cima disso. É lógico que acontece de termos opiniões diferentes, mas exponho tudo tranquilamente. Ele pode aceitar ou não. Eu, por exemplo, observo acima de tudo o mano a mano. Não sou de reparar muito no tamanho. A bola passa muito tempo no chão do que no ar. Valorizo o um contra um, é ali que você nota um grande zagueiro", completou.
Satisfeito com desenrolar do novo desafio dentro da "pópria casa", tendo antes pensado em ser empresário e até mesmo dirigente, Caçapa, hoje aos 41 anos e perto de tirar a licença A da Uefa, sabe o que esperar da próxima função. Quebrar a barreira em relação a treinadores negros é um dos principais pontos de motivação.
Juninho e Caçapa - Lyon (Foto: Divulgação)
(Foto: Site oficial Lyon/Divulgação)
"É raro na Europa, é raro no Brasil... É a realidade. São pouquíssimos os treinadores negros no futebol. Tenho fé, força de vontade e acredito muito no meu potencial. O racismo é um obstáculo que tive de enfrentar nos tempos de jogador. Continua sendo um obstáculo, mas nem de longe isso me intimida. Pelo contrário. Isso me dá mais força e motivação para ser um grande treinador. Nada na minha vida foi fácil, precisei passar por cima de muita coisa. O racismo nunca me parou. E digo mais: se vier a fracassar como treinador, jamais vou usar a desculpa do racismo. Jamais", destacou.
O maior caso de discriminação enfrentado pelo antigo defensor revelado pelo Atlético-MG, que pendurou as chuteiras no Avaí, em 2011, aconteceu logo na chegada ao futebol inglês, dentro do próprio clube, o Newcastle, na temporada 2007/2008. Uma triste situação que também não o intimidou.
"Fui participar de uma roda de bobinho no meu primeiro treino no clube. Assim que fui entrar no bobinho, um inglês, cujo o nome não vou revelar, disse que aquela roda era apenas para jogadores brancos. Ele, logicamente, achou que eu não tinha entendido as palavras. Mas deu para entender facilmente, saquei na hora. Depois, em espanhol, fez questão de reforçar a posição dele. Fiquei muito triste, mas, como sou bem tranquilo e mais inteligente, não falei nada e fui para outro canto. Ultrapassei a barreira. Apesar disso, gostei muito de ter jogado na Inglaterra", explicou.
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(Foto: GLYN KIRK/AFP)
Luta contra a hegemonia dos milionários
PSG e Monaco têm sido os grandes clubes da França nos últimos anos. Com altos investimentos e jogadores de peso, a dupla praticamente monopolizou a briga pelos títulos nacionais. O Lyon, por sua vez, mantém a aposta na formação.
"É complicadíssimo ser campeão francês. O PSG, se quer um jogador de 100 milhões de euros, vai lá e compra. Já nós investimos muito internamente. O Lyon é considerado o dono da melhor academia de formação do futebol francês, e um dos melhores da Europa. Investimos muito no profissional, na parte teórica, na infraestrutura... A captação também é muito importante, com vários olheiros de qualidade", explicou.
Dos grandes nomes revelados recentemente pelo clube onde também brilharam os brasileiros Cris, Edmílson, Fred e Sonny Anderson, destaque para o meia Tolisso e o atacante Lacazatte, vendidos nesta janela de transferência para Bayern de Munique e Arsenal, respectivamente.
"Não dava mais para segurá-los. Chega a hora que o atleta precisa voar, precisa conhecer mundos diferentes e ter outras exigências. É preciso sempre ter o algo novo para crescer", finalizou.
