
Posse de bola ganha jogo? Evidente que não, se analisarmos isoladamente. Mas no futebol de clubes jogado no mais alto nível nas últimas duas temporadas, ter a esfera tanto quanto ou mais do que o adversário mostrou-se um dos muitos fatores importantes para se explicar o sucesso de um time.
De acordo com o mais novo estudo publicado pela CIES Football Observatory, a média das equipes europeias campeãs nacionais nas últimas duas temporadas foi de 57% do tempo de bola. Foram analisados 35 ligas domésticas da UEFA das primeiras e segundas divisões que totalizaram mais de 19 mil partidas observadas.
O estudo destaca que é apenas a partir de determinada média de posse de bola que um time aumenta consideravelmente as suas chances de ter sucesso. A grande diferença existente nas médias está relacionada ao campeonato e a qualidade das equipes que estão na disputa. Por exemplo: os campeões de torneios menores ou da maior parte dos que triunfaram na segunda divisão apresentam menor posse. Motivo? Um equilíbrio em um nível que não é muito alto e tem como consequência campeonatos com poucos gols.
E é exatamente aí que entra o Brasileirão. A nossa Serie A obviamente não entrou no estudo em questão, mas os resultados nos ajudam a explicar mais uma vez o quanto o nível, a qualidade, do nosso esporte mais popular está aquém. Em 2018, o Campeonato Brasileiro teve a sua pior média de gols (2.18, segundo a Opta Sports) na história dos Pontos Corridos e o mais baixo desde 1990 (1.89). Ato contínuo, o Palmeiras de futebol reativo e direto treinado por Luiz Felipe Scolari levantou o título tendo 49.5% de posse de bola.
Getty ImagesWolverhampton comemora título da segundona na Inglaterra (Foto: Getty Images)
| Time | Título conquistado | Média de posse de bola |
|---|---|---|
| Wolverhampton | 2ª divisão inglesa | 52.2% |
| Fortuna Dusseldorf | 2º divisão alemã | 50.3% |
| Levante | 2ª divisão espanhola | 50% |
| Palmeiras | Campeão Brasileiro | 49.5% |
Para efeito de comparação, é menos do que os campeões das segundas divisões de Inglaterra (Wolverhampton, 52.2%), Alemanha (Fortuna Dusseldorf, 50.3%) e Espanha (Levante, 50%). É, também, equilibrado com outros campeonatos de elite menos importantes por lá. O dono do número mais alto não chega a impressionar: em 2017-18, o Manchester City levantou a Premier League de forma espetacular e com média de 68.6% de posse.
gettyMan.City dominou a posse de bola e ganhou a Premier League 2017-18 com sobras (Foto: Getty Images)
Importante destacar o que parece óbvio: quanto mais essa posse de bola for no campo do adversário, buscando mais fazer o gol, maiores as chances de sucesso.
Outro ponto válido a se destacar é a diferença do Brasileirão em relação às ligas nacionais europeias, que talvez estejam mais próximas do que deveriam ser os nossos estaduais devido ao tamanho continental do nosso país. Mesmo assim, o Real Madrid tricampeão da Champions League confirma a importância da posse de bola (55.5%, 53.5% e 57.4% em ordem crescente das últimas conquistas). A exceção é a França, que foi campeã do mundo com 49.6% da posse de bola. Mas Copa do Mundo é, por si só, um evento à parte. Sete jogos definem o campeão.
O Palmeiras não é menos merecedor, longe disso. Foi incontestável e o torcedor ganhou o que queria, a taça. Mas a comparação ajuda a demonstrar de forma mais apurada o quanto o jogo, o espetáculo, precisa melhorar na elite do futebol brasileiro.
