Um jogador faz quatro gols, pela primeira vez com a nova camisa, e dá passe para outros dois em 90 minutos. Além disso, bate os seus recordes de finalizações na temporada... mas ao sacramentar incríveis 8 a 0 para o seu lado, é alvo de vaias dos próprios torcedores.
Parece ficção, mas aconteceu com Neymar na última quarta-feira (17), quando o Paris Saint-Germain passou o trator sobre o Dijon, em jogo válido pela 21ª rodada da Ligue 1 francesa. Foi como se o craque brasileiro visse, resumido em um jogo, todo o clima de “ame-o ou o odeie” que cerca lhe cerca.
Tudo isso por causa dos mesmos elementos presentes em sua primeira crise no PSG: pênalti e Cavani. O uruguaio já havia estufado as redes, o que lhe colocou ao lado de Zlatan Ibrahimovic [atualmente no Manchester United] como maior artilheiro do PSG em todos os tempos. Aos 82 minutos de jogo, o camisa 9 sofreu pênalti e poderia se isolar na marca histórica – seria o seu 157º tento com a camisa parisiense. Mas, ato contínuo, Neymar pegou a bola e enquanto se dirigia para a marca da cal nem olhou para o companheiro de ataque
Neymar converteu a máxima penalidade, anotando o oitavo gol do líder isolado do Campeonato Francês. Entretanto, parte da torcida presente no Parque dos Príncipes já o vaiava. Motivo? Queriam ver Cavani fazer história.
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Terminada a contenda, o camisa 10 deixa o campo com a bola do jogo e o troféu de melhor da partida. Mas faz isso cabisbaixo, entrando rápido nos vestiários. O motivo seriam as vaias, na interpretação geral. Em sua entrevista coletiva, o treinador Unai Emery sai em defesa de Neymar ao mesmo tempo que exalta o jogador. De certa forma, confirma o óbvio: o brasileiro é o dono do time. E aqui abrimos espaço para duas interpretações absolutamente opostas sobre a atitude de Neymar.
Errou?
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Cavani não conseguia esconder a leve ansiedade para se tornar o maior artilheiro do PSG. Depois de ter feito o seu gol, o terceiro na goleada, seguiu correndo e dando opções de passe como se a partida contra o Dijon fosse uma final. Tudo em vão. Finalizar uma goleada histórica, ao mesmo tempo em que alcançaria o objetivo que tanto ele quanto a torcida anseiam, poderia ser o ideal para o uruguaio.
Muitas pessoas interpretaram a atitude de Neymar no pênalti como uma demonstração clara e inquestionável de seu poder dentro do Paris Saint-Germain. Afinal de contas, estamos falando do jogador mais caro da história.
Acertou?
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Entretanto, também existe um outro lado. Ao invés de imaginar que Neymar tenha escolhido deliberadamente atrapalhar Cavani, sem que nenhum dos lados tenha dado alguma declaração sobre o ocorrido, pensemos exatamente o oposto.
Logo após o terceiro gol, anotado por Cavani, Ney fez o quarto, quinto e sexto. Já havia se estabelecido como grande protagonista da noite, contando ainda a assistência para Di María e para o sétimo tento, de Mbappé. Se Cavani atingisse a marca histórica, dividiria todas as atenções com Neymar.
Com sete gols de vantagem, ao caminhar para bater o pênalti talvez Neymar tenha dado um presente a Cavani: o de poder ser, sozinho e com todos os holofotes, exaltado quando marcar o seu próximo gol. Se foi o caso, é para bater palmas.
A posição de Unai Emery e Cavani
Em sua entrevista coletiva, o treinador do PSG se manteve tranquilo. Afinal de contas, parece ser uma mera formalidade para Cavani ultrapassar Ibrahimovic: “É o nosso artilheiro, e ele melhorou muito aqui. A equipe o ajudou a alcançar essa estatística individual. Depois disso, acho que o Neymar bateu o pênalti hoje porque também foi um dia bom para ele. Estamos felizes, mas Cavani terá muitas chances de bater essa marca”.
O próprio Cavani elogiou todo o time, em post feito depois do jogo: “Partida completa de todo o time. Seguir assim, gente!”, escreveu.
A interpretação sobre a atitude de Neymar, contra o Dijon, é mais complexa do que se imagina.




