O futebol perdeu outra lenda. Nesta segunda-feira (14), em Paris, morreu o ex-treinador Gérard Houllier, de 73 anos, após uma cirurgia no coração. Com passagens marcantes por equipes como Liverpool e Lyon, bem como diretor de futebol da Red Bull, o francês foi brilhante dentro e fora das quatro linhas e se despede como um dos grandes de sua época.
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Houllier foi inquestionavelmente um grande treinador. Suas conquistas, no PSG, Lyon e principalmente Liverpool, irão ficar marcadas na história. Foi, de toda forma possível, um vencedor, alguém que construiu elencos e clubes.
Durante uma carreira de 38 anos como treinador, deixou sua marca por onde passou.
Em Anfield, será lembrado como um dos maiores de todos. Foi o homem que, com um senso tático extraordinário e uma personalidade forte, arrastou o Liverpool e suas estruturas arcaicas para o futebol moderno.
Após a fila dos anos 90, foi Houllier que acordou o gigante na virada do milênio. O sucesso de seu maior time, os vencedores da tríplice coroa em 2001, provavelmente nunca será repetido.
Mas ser um grande treinador é uma coisa, e ser uma grande pessoa é outra. Houllier era ambos: decidido e determinado, sim, mas também sensível, emocional, inteligente e cuidadoso com seus jogadores e companheiros de trabalho.
"Eu o amava," afirmou Jamie Carragher, que fala que Houllier o mudou "como uma pessoa e como um jogador."
Carragher, no passado, o descreveu como um "segundo pai", uma visão compartilhada por outros atletas da era - notavelmente Steven Gerrard e Michael Owen, dois jogadores que se beneficiaram enormemente do trabalho de Houllier, dentro e fora do campo.
Getty Images"Ele genuinamente se importava," falou Owen em seu tributo. "Um dos poucos 'gentlemen' do mundo do futebol," acrescentou Dietmar Hamann, uma de suas melhores contratações.
"Eu nunca vou esquecer o sorriso em seu rosto quando ele falou que eu iria estrear," relembrou o ex-atacante dos Reds, Neil Mellor. "Ele acreditou em mim e fez meu sonho se concretizar. Eu serei eternamente grato."
John Arne Riise foi outra indicação de Houllier, contratado pelo Liverpool em 2001. "Se ele não acreditasse em mim, nunca teria tido a carreira que tive." conta. "Eu só tenho a agradecer. Ele era muito importante para mim. Estou muito triste."
O impacto que teve nesses jogadores, e muitos, muitos outros, é conhecido. O orgulho que tirou de ver atletas como Gerrard e Carragher se tornarem ídolos em Anfield fica claro cada vez que falou sobre aquele time.
Mas se você quer conhecer um aspecto mais privado do homem que foi Gerad Houllier, é só perguntar para a família Cain.
Helen Cain foi uma das enfermeiras que cuidou de Houllier no Broadgreen Hospital, durante sua recuperação de uma cirurgia no coração em 2011, e construiu uma amizade com ele. Ela relembra seu carinho, seu sorriso, suas conversas, como ele falava com ela sobre seu marido, Mike, e seus filhos, Richy, Chris e Claire.
Nas conversas, descobriu que a família de Helen eram todos torcedores fanáticos do Liverpool. "Iguais a mim, então!" brincava.
Alguns meses depois, completamente do nada, Helen recebeu um telefonema. Era o assistente técnico de Houllier, convidando a família para Melwood, para assistir o Liverpool treinar e conhecer os jogadores e o treinador.
"Foi um dos melhores dias da minha infância," comenta Chris Cain. As fotos ainda estão expostas em um retrato na casa da família.
Cain familyGestos assim não surpreendem ninguém que conheceu Houllier. Generosidade, humildade e decência eram os valores que ele mais acreditava. "Foi um homem incrível," comenta o ex-atacante dos Reds Harry Kewell. "Uma das pessoas mais inteligentes, carinhosas e amigáveis que eu conheci," tweetou Gary Lineker.
Outros fatos notáveis dizem muito sobre o caráter do ex-treinador: todos os jornalistas que cobriam a sua estadia no Liverpool, inclusive aqueles que o criticavam, quando a performance do time caiu, tem memórias boas sobre ele. A maioria, senão todos, permaneceram em contato após ele ter deixado o clube.
Ric George, ex-setorista dos Reds para o Liverpool Echo, se tornou um amigo pessoal. "E ele sabia muito bem que eu era um Blue," comentou George nesta segunda-feira.
O tributo mais emocionante, das centenas que vieram, veio de Phil Thompson, assistente de Houllier durante os seus seis anos em Liverpool.
"Só de ter o privilégio de ficar junto dele já me sinto um sortudo," Thompson postou. "Leal, apaixonado, um lutador. Um período marcante, levando sorrisos para todos; 2001 nunca pode ser esquecido."
Getty Images"Desde que nós nos separamos, sempre que nós conversamos, eu falei que o amava e sempre seria grato por uma parceria tão incrível."
A Goal falou com Thompson em maio, para um perfil dos 15 anos do aniversário da conquista da Liga dos Campeões da Uefa em 2005. Naquele momento, ele contou uma história que deixou claro o relacionamento de Houllier com o time e sua torcida.
"Na manhã da final em Istambul, eu fui tomar café com Gerard em seu hotel," comentou. "E era do lado de Taksim Square, onde a torcida do Liverpool estava reunida."
"Eu fiquei chocado por aquilo que vi no táxi no caminho, as cenas, as bandeiras, o mar vermelho."
"Gerard ficou muito empolgado, orgulho. 'Não é incrível, Thommo?' comentou. 'Como eles não vão ganhar para essa torcida hoje?' Ele era como eu sou hoje, amava o Liverpool."
Ele certamente o fez. E o Liverpool o amou também. Sua falta será sentida, em Anfield e em muitos, muitos, muitos outros lugares.
Um grande treinador, mas uma pessoa ainda melhorar. Descanse em paz, Gerard.

