Maniche está na história do futebol português pelos serviços prestados à seleção nacional, por ele defendida entre 2003 e 2009, mas não há dúvidas de que um de seus grandes feitos foi com a camisa do Porto, onde conquistou todos os títulos possíveis, incluindo a histórica Champions League da temporada 2003-04 - na última vez em que um time de fora das chamadas “5 principais ligas nacionais da Europa” levantou a Orelhuda.
A passagem pelos Dragões foi marcante e criou um laço inseparável entre o hoje ex-jogador, e atualmente comentarista na TV portuguesa, com o clube. Mas durante uma temporada (2005-06), o então meio-campista também esteve à serviço de José Mourinho no Chelsea. Nesta quarta-feira (07), portistas e londrinos se enfrentam pelas quartas de final da Champions League e Maniche, embora não esconda o carinho pelos Blues, não tem nenhuma dúvida sobre sua torcida.
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“Que vença o melhor, e que o melhor seja o Porto”, disse em entrevista exclusiva para a Goal. Na conversa, Maniche avalia as duas equipes e relembra sua passagem pelos clubes, elogia o legado deixado pelo técnico José Mourinho tanto no Estádio do Dragão quanto no Stamford Bridge e avalia as diferenças que existiam entre o Mourinho do Porto e o que passou a ser o “Special One” no Chelsea. Além disso, apostou em quem avança no duelo de suas ex-equipes, em quem será o campeão desta edição da competição europeia e também teceu grandes elogios ao trabalho feito por Abel Ferreira, seu compatriota, no Palmeiras. Confira abaixo!
Coração dividido para este Porto x Chelsea?
“É uma boa questão. Eu sou uma pessoa muito direta e muito frontal, e o meu coração, neste momento, não pode estar dividido. Eu tenho o maior respeito pelo Chelsea, porque joguei neste grande clube, tive a oportunidade de ser campeão inglês pelo Chelsea. Respeito toda a sua estrutura, todos os seus adeptos, mas obviamente o meu coração é portista. Eu passei os melhores momentos da minha carreira como futebolista no FC Porto, onde ganhei todos os títulos que um jogador ambiciona ganhar”.
“Fui e sou muito acarinhado, e muito respeitado, pelos seus adeptos e pela cidade do Porto. E, obviamente, o reconhecimento internacional que hoje tenho muito se deve, também, ao FC Porto, devido aos títulos e, acima de tudo, ter ganho a Champions League foi o Porto que me deu essa oportunidade. Obviamente tenho um carinho enorme pelo Chelsea, mas o meu coração é Porto”.
Quem acha que avança para as semifinais?
“Obviamente que o poder econômico e financeiro que o Chelsea tem para contratar jogadores é totalmente diferente ao do FC Porto. Daí, é favorito só neste aspecto, porque o Porto em termos de história é mais forte que o Chelsea, porque o Porto ganhou duas Champions League, uma em 1987 e outra em 2004, o Porto tem experiência internacional, tem história, bons jogadores e uma boa equipe. Não está a fazer uma grande temporada na liga portuguesa, mas o Chelsea também não está muito bem na liga inglesa”.
Qual Mourinho foi melhor, o do Porto ou o do Chelsea?
“O José Mourinho teve (no Porto) a capacidade, a inteligência, de buscar jogadores com muita fome de títulos, jogadores que não tinham ganho nada em clubes pequenos, mas que tinham muita ambição e muita qualidade. Construiu uma equipe à base de sua forma de estar também no futebol: muito frontal, muito direto com os jogadores. (...) Então, incutir esta veia goleadora e vencedora a jogadores que não tinham ganhado nada pode ser uma tarefa fácil, mas não foi. Conseguimos isso com muito trabalho, com muito empenho, devido a essa capacidade do José Mourinho”.
Getty Images(Foto: Getty Images)
“Quando foi para o Chelsea, o Chelsea não ganhava há 50 anos a liga inglesa. É muito ano para um clube financeiramente muito forte, tendo excelentes jogadores, e o Mourinho conseguiu, com sua capacidade de liderar e comunicar e de trabalhar, dentro e fora do campo. Dentro do campo os exercícios eram os mesmos, a forma de comunicar também. Eu saí do Porto, tive meia temporada no Dínamo de Moscou e depois fui emprestado para o Chelsea e via o mesmo Mourinho em todos os aspectos. Daí, ter jogadores normais, com José Mourinho, estes jogadores passaram a ser grandes jogadores, reconhecidos em todo o mundo. Foi a partir daí, com o José Mourinho, que o Chelsea passou a ter outra dimensão mundial”.
Ficaria então com o Mourinho do Porto por causa de 2004?
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“Sim, porque é mais difícil ganhar uma Champions League no Porto do que no Chelsea. O poder econômico e financeiro, o orçamento que o Chelsea tem é totalmente diferente ao do Porto. O Porto não pode contratar os jogadores que o Chelsea tem a facilidade de contratar. E aí tens que ter mais trabalho, mais dedicação, mais sacrifício. A maior prova de tudo, são os jogadores que não jogam (não são/eram titulares) dizerem bem do trabalho do José Mourinho. Esta é a prova de que ele é um excelente treinador”.
Quem acha que vai ser campeão da Champions League?
“Eu gostaria que fosse o FC Porto, por todas as razões que já conheces, mas acho que o Bayern de Munique é a equipe mais completa em todos os momentos do jogo, tanto a nível defensivo quanto a nível ofensivo. Tem jogadores individuais que desequilibram e podem marcar a qualquer momento, basta uma oportunidade. Por isso, acho que o Bayern, como equipe, no geral, é favorito”.
Acompanhou o trabalho do Abel Ferreira no Palmeiras? O que achou?
“O Abel conquistou dois títulos com todo o mérito. Não é fácil, como sabemos, um treinador vir de fora e ter sucesso no Brasil. Mesmo os próprios treinadores brasileiros tem esta dificuldade, porque bastam dois meses sem conseguir resultado e acaba o projeto, são despedidos. Por isso, ele tinha que ter um trabalho rápido e vencedor desde o princípio de sua chegada. E o Abel conseguiu, com uma comunicação simples e direta, ele chegou aos jogadores”.
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“Acho que o mérito do Abel, dos jogadores individuais que ele tinha com muita qualidade, conseguiu que eles transportassem isso para o coletivo. Acho que o Palmeiras do Abel trabalhou mais em termos do coletivo, foi esse o trabalho que o Abel conseguiu, dando uma coesão e sendo uma equipe mais compacta defensivamente, e depois com os jogadores individualmente na frente, muito rápidos, bons tecnicamente, que pudessem desequilibrar em transições rápidas ou mesmo no jogo posicional”.
“Acho que o Abel tinha essa consciência de que não era fácil, e agora vai ser ainda mais devido a essas mudanças na regra, de só poder ter dois treinadores por ano numa equipe. Mesmo assim, acho que o Abel conseguiu porque é trabalhador, é um treinador que gosta, acima de tudo, de estar muito perto dos futebolistas, dos jogadores, e acho que o Palmeiras teve a felicidade de contratar um técnico que não tinha muita visibilidade como o Jorge Jesus, mas era um técnico com muita credencial devido ao fato de ter trabalhado muito bem nas equipes por onde passou”.