Teve polêmica de arbitragem na ida, teve polêmica de arbitragem na volta. No final das contas, por mais que um empate sem gols teimasse em persistir para que a definição do semifinalista da Libertadores 2022, entre Estudiantes e Athletico-PR, fosse nos pênaltis, a diferença foi que Vitor Roque novamente fez a diferença para o Furacão.
Foi nos acréscimos do segundo tempo que o jovem atacante, tido como uma das maiores promessas do nosso futebol, cabeceou para fazer o gol brigado e chorado que garantiu a classificação do Athletico à semifinal desta Libertadores. E em meio a tantas emoções intensas, de lado a outro, Luiz Felipe Scolari manteve a calma.
Felipão, afinal de contas, conhece bem a sensação de chegar a uma semifinal de Libertadores. Esta será a sexta de sua carreira, um recorde para qualquer treinador na história da competição. Antes desta com o Athletico, foram duas com o Grêmio e três pelo Palmeiras (que será adversário dos paranaenses nas semis).
Mas não é apenas o recorde que torna esta classificação diferente das outras, e sim o momento em que chega esta classificação. Aos 73 anos, Felipão vive seus últimos dias como técnico de futebol. O próprio Scolari disse isso durante uma entrevista coletiva recheada de serenidade (apesar das emoções do campo), com toques de gratidão pela jornada vivida ao longo de décadas de carreira e, claro, pela expectativa de conquistar títulos -- além da Libertadores, o Athletico também briga pela Copa do Brasil.
“Dificilmente eu vou continuar, porque se eu conseguir mais algum título com esse grupo, e nós vamos conseguir, tá na hora de terminar também. A família já está pedindo. Vou fazer 74 anos, não é que seja pesado, mas isso deixa a gente cansado demais ali naquele banco brigando com esse pessoal. Acredito que 95% de chance vai terminar no fim do ano e a gente colocar alguém da nossa comissão como técnico”, afirmou Scolari.
Ao longo de sua carreira, Felipão teve momentos muito altos e muito baixos. Disse coisas relevantes e falou besteira. Conquistou status de ídolo no Grêmio e Palmeiras através de títulos gigantes (como brasileiros e Libertadores por ambos os clubes), mas também foi considerado um dos culpados por rebaixamentos tanto no Alviverde quanto no Tricolor. Foi o técnico campeão mundial pelo Brasil em 2002, assim como o do 7 a 1 em 2014.
Trocando em miúdos, Felipão é mais um de vários símbolos que mostram o óbvio: não se é vitorioso todos os dias, ao mesmo tempo em que não se é um derrotado para sempre. A carreira de técnico de futebol (ainda mais no Brasil) e o jogo em si são tão impermanentes quanto a trajetória de Scolari nos últimos anos. E quanto a vida mesmo. Tão impermanente quanto um gol marcado nos acréscimos de um mata-mata.
No final das contas, podemos escolher ficar com os momentos bons ao invés dos maus. A não ser que os momentos ruins sejam desproporcionalmente maiores que os bons, claro. Diversos estudos científicos mostram que a memória funciona assim: os bons momentos são os que ficam conosco. E Felipão nos presenteou com muitos bons momentos no futebol. Com o final de sua carreira na área técnica aparentemente chegando, parece que esta percepção positiva sobre o último treinador campeão do mundo com a seleção brasileira está voltando.
Nos acréscimos de sua carreira, Felipão parece ser novamente reconhecido pelo que entrega de bom. E que bom.
