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Palmeiras comemora vitória no Brasileiro da Série A2Tatiane Marques/Divulgação

Longe da vitória-obrigação, jogo feminino é sopro de puro futebol no Brasileiro

A pouco mais de uma hora de estrada do Allianz Parque, mas a anos-luz das cobranças no aeroporto em Fortaleza, da turbulência no avião na Argentina ou da repentina saída do camisa 10 para o futebol chinês, o Palmeiras entrou em campo para um jogo que valia uma temporada.

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Em Vinhedo, o time feminino recebeu a Chapecoense pela partida de volta das quartas de final do Campeonato Brasileiro da Série A-2, a segunda divisão do futebol nacional. Depois de vencer no Sul por 2 a 0 e com uma campanha de oito vitórias em oito jogos, a expectativa era pela confirmação do acesso, um dia depois de São Paulo, Grêmio e Cruzeiro avançarem às semifinais e garantirem um lugar na elite do ano que vem.

Nas ruas residenciais que dão no estádio Nelo Bracalente, famílias inteiras trocam um quilo de alimento por um ingresso. Os homens da segurança, na escada após o portão, conversam sobre a apresentação dos cachorros da Guarda Civil local, marcada para o intervalo. A lanchonete da entrada principal vende cerveja, e atrás do gol sai uma promoção de chope para quem comprar seis fichas de uma vez.

É como se houvesse um jogo de futebol que negasse tudo o que envolve as partidas do time dos homens. Lá tem bairro cercado para quem não porta o ingresso antecipado, sócio-torcedor garantindo a entrada pelo ranking de presença, longas filas para revistas, cerveja sem álcool, limitações para materiais de torcidas, lugares e setores bem delimitados e um clima quase bélico em que só a vitória interessa.

A comparação é descabida, eu sei, mas tornou-se inevitável ao caminhar beirando a grade de um jogo tão grande para aqueles dois times. Sai o megaevento, entra o jogo de bola, e as sutilezas de caras, bocas e gestos remetem a um futebol outro, que eu não via havia muito tempo. De competição, claro, mas sem a tensão e a pressão entre arquibancada e campo que normalizamos ao torcer. Mais sorrisos de apoio, menos cordas no pescoço.

E se é óbvio que as mulheres do Palmeiras merecem por direito ter a mesma estrutura de trabalho que os homens, incluindo a relação com as instalações da sociedade esportiva com um espaço para jogar na cidade onde a camisa existe há mais de um século, me parece também que pode ser positivo elas construírem a própria narrativa sem precisar da insanidade dos que derrubam o mundo por uma queda em Copa do Brasil, carregando toda a carga de uma relação doentia entre torcida e jogadores no futebol profissional de homens no país.

Em campo, Bianca marcou duas vezes de falta, Carla Nunes fez outros dois, e Luana anotou o último da goleada por 5 a 1. O gol da Chape, que chegou a empatar o jogo, foi da goleira Camila, que estourou uma reposição para frente e viu a bola quicar duas vezes antes de entrar por cobertura. Nem por isso foi hostilizada pela torcida, mas o contrário: de trás do gol, alguém brincou oferecendo uma cerveja caso ela acertasse novamente um chute de tão longe.

Um domingo de futebol de pessoas normais, dentro e fora das quatro linhas, onde um membro da comissão técnica na arquibancada conta o nome de alguma jogadora desconhecida ou mesmo as reservas visitantes podem aquecer à beira do campo sem que sejam mandadas para aquele lugar pela torcida local. Batendo sua bola longe da insana pressão pela vitória-obrigação de cada quarta e domingo, me lembraram que o jogo é mais festa que alívio.

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