A glória é delas: a Libertadores feminina chega à fase de mata-mata da sua edição de 2021 com aproveitamento quase perfeito dos clubes brasileiros. Corinthians, Ferroviária e Avaí/Kindermann lideraram seus grupos para chegar às quartas de final. Só uma vez, em 2016, a competição não teve um time brasileiro na final.
O Brasil, sem dúvidas, domina o futebol feminino no continente. Principalmente nos últimos anos, o calendário nacional tem se ajustado, os times jogam por mais tempo e o investimento é maior. Os resultados continentais, consequentemente, aparecem.
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Os países sul-americanos não são todos iguais, mas as suas histórias se conectam na luta das mulheres pelo direito de praticar esportes. No livro Futbolera: Uma história de mulheres e esportes na América Latina (disponível em inglês e espanhol), os autores Brenda Elsey e Joshua Nadel falam sobre o desenvolvimento das mulheres no esporte em países como Argentina, Brasil e Chile.
Nestes países, com desenvolvimentos distintos, um fator se destaca: a luta contra homens que tentaram, por anos, excluir os corpos de mulheres da prática esportiva. A tentativa de impedir ou limitar o esporte feminino não é exclusiva do Brasil ou da América Latina, mas os seus reflexos são claros até os dias atuais. No entanto, com o passar dos anos, a modalidade cresce, há mais transmissão das partidas e o contato do público com o futebol feminino vai se tornando mais constante.
É só pensar nos países dos adversários das brasileiras nas quartas. No Paraguai, sede dos jogos da primeira fase da competição, a torcida esgotou ingressos para ver os jogos do Cerro Porteño, a ponto de a federação ter que deslocar famílias de jogadoras para outros setores do estádio. Os “hinchas” chegaram a fazer fila para entrar nos estádios.
O Alianza Lima, que pega o Corinthians na próxima fase, se tornou o primeiro time peruano a chegar às quartas de final da competição. O futebol feminino no país ainda é considerado amador, mas no Alianza as jogadoras são profissionais e, neste ano, começaram a treinar cinco vezes por semana.
Tiago Pavini/FerroviáriaNa Colômbia, país do Independiente Santa Fe, adversário da Ferroviária, a mudança está apenas começando. Mesmo tendo o último título de um país fora do Brasil, com o Atlético Huila em 2018, o país ainda encontrava dificuldades para ter uma liga mais forte. Na próxima temporada, o campeonato nacional terá apoio do Ministério do Esporte, que vai financiar um calendário mais extenso e apoiar clubes com os gastos de logística. O país será a sede da Copa América em 2022.
Enquanto a Libertadores chega ao mata-mata, os olhos da seleção brasileira já estão no torneio continental. A competição é completamente dominada pelas brasileiras, que venceram sete das oito edições do torneio - e foram vice-campeãs na única vencida pela Argentina. Agora, a preparação continua com o Torneio Internacional de Futebol Feminino em Manaus, com jogos entre os dias 25 de novembro e primeiro de dezembro, contra Índia, Venezuela e Chile.
Há quem desmereça a importância da Copa América, principalmente ao comparar com a Copa do Mundo e as Olimpíadas. O retrospecto do Brasil na competição inclusive ajuda a transformar o torneio em "obrigação". No entanto, o Brasil pode aprender e ensinar muito aos outros países sul-americanos sobre como lidar com o futebol feminino.
Estimular um crescimento do futebol feminino nestes outros países fortalece também o futebol brasileiro. Ter um torneio continental forte - seja de clubes ou seleções -, com adversários de alto nível, é um ponto importante da fórmula para fazer crescer ainda mais a modalidade no Brasil. E o nosso futebol, sendo exemplo para os outros países, se torna uma potência ainda maior nacional e internacionalmente.
