A espera finalmente acabou. Um dos clubes mais tradicionais do futebol inglês, o Leeds United, finalmente está de volta à Premier League, para delírio de sua torcida apaixonada e tristeza dos rivais, muitos em todo o Reino Unido.
Com um futebol vistoso e muito diferente do estilo utilizado em seus anos dourados - que consagrou a equipe como "Dirty Leeds" -, além de Marcelo Bielsa, um dos treinadores mais únicos e amados em todo o planeta, o leitor pode até imaginar que o clube é o xodó da Inglaterra, um dos times mais simpáticos do país. Muito pelo contrário...
Na verdade, a equipe do condado de Yorkshire se notabiliza justamente pelo oposto: a torcida do clube sente orgulho em ser a vilã, a pedra no sapato dos rivais. Por isso, até hoje, 16 anos depois de sua última participação na Premier League e 28 após seu último título nacional, o Leeds United ainda é um dos mais odiados da Inglaterra.
A força do Leeds nada mais é do que um microcosmo de sua região: um clube que, para o bem ou para mal, sempre representou muito bem sua torcida. Os Whites sempre foram reconhecidos como "sujos" e que fariam de tudo para ganhar. Eram acusados de deliberadamente lesionar atletas rivais e tinham umas das torcidas mais violentas de todo o Reino Unido - em períodos onde tensões raciais explodiam no país. No entanto, quem é Leeds tem muito, mas muito orgulho de ser Leeds.
O clube é até hoje muito conectado às suas raízes e brilhou intensamente nos anos 60 e 70 justamente como uma espécie de anti-herói: sob o comando do histórico Don Revie, a equipe se orgulhava de "ganhar a todo custo". Segundo Alan Peacock, ex-jogador, por exemplo, um dos principais fatores que faziam atletas quererem atuar no time era para eles não terem que jogar contra ela, o que era encarado com um risco.
Durante este período, foram dois títulos ingleses, uma Copa da Inglaterra, uma Copa da Liga Inglesa e um vice-campeonato da Copa da Europa (precursora da Liga dos Campeões). Acima de tudo, torcedores orgulhosos de equipes tradicionais como o Manchester United não gostavam de ver um time como o Leeds chegando do nada, jogando sujo, "desrespeitando as instituições", e pior: ganhando.
Depois de alguns anos na segunda divisão, a equipe voltou à elite no começo dos anos 90 e ganhou seu último título inglês, em 1991-92. Com um elenco rico e talentoso, o Leeds voltou, novamente, do nada, para incomodar as potências e recuperar a fama de vilão. Depois de chegar a uma semifinal da Liga dos Campeões em 2000-01, gastando o que tinha e o que não tinha para tentar retomar o protagonismo, havia chegado a hora dos "vilões" finalmente pagarem pelos seus atos.
O clube teve que vender craques como Rio Ferdinand para seu maior rival e foi se enfraquecendo financeiramente até ser novamente rebaixado para a segunda divisão inglesa, em 2003-04. Foi uma espécie de catarse para torcidas de outras equipes: finalmente, o time, marcado por escândalos e sua fama de "bad boys" pagava pelos seus crimes...De uma forma extremamente desoladora.
Endividado, o Leeds não conseguia pagar suas pendências e teve que ser posto em administração pela Federação Inglesa. Assim, perdeu dez pontos na Championship de 2006-07 e foi rebaixado à League One, a terceira divisão da Inglaterra.
Consolidado na segundona, a equipe ia trocando de donos e presidentes constantemente, sem conseguir ter uma direção. Uma dos clubes mais tradicionais da Inglaterra estava adormecido, e as torcidas rivais ainda não haviam o esquecido.
Agora, o Leeds United retorna à uma Premier League muito diferente daquela onde saiu, 16 anos atrás. Uma liga globalizada com novas potências riquíssimas como o Manchester City e o Chelsea. Uma liga que viraliza no mundo inteiro, mas que ainda não esqueceu Elland Road e os tempos de glória dos "Dirty Leeds". De novo, o clube volta para irritar os grandes, desta vez com Marcelo Bielsa, um dos protagonistas mais improváveis do esporte.
A história pode se repetir com uma diferença: agora, o Leeds não irrita por "ganhar de qualquer forma". Irrita porque joga bem, bonito e está volta ao lugar de onde nunca poderia ter saído.



