Equipes do futebol boliviano, em especial as que jogam na altitude, geralmente seguem uma receita na Libertadores e demais campeonatos continentais: apostam tudo nos jogos disputados em casa, para tirar proveito do ar rarefeito e mudanças de velocidade da bola, para conquistarem suas vitórias. O San José nem isso conseguiu até o momento: perdeu para o Flamengo (0 a 1) e empatou com a LDU (3 a 3) em seus domínios.
Mesmo na comparação com os times que disputaram a chamada ‘fase pré’ do torneio, o que não foi o seu caso, o San José é a equipe mais vazada desta Libertadores: sofreu 14 gols. Seis deles foram marcados pelo Flamengo na quinta-feira (11), dentro de um Maracanã lotado, em partida válida pela quarta rodada do Grupo D. O estranho caso de uma goleada que reforça tanto as preocupações em relação ao Rubro-Negro, quanto o absurdo que foi Arrascaeta ter ficado no banco de reservas até então.
As preocupações em relação à equipe treinada por Abel Braga se mantiveram. Sem Gabigol, suspenso, o técnico manteve o 4-2-3-1 com um pelotão de frente mais móvel. Escalado como referência, Bruno Henrique se movimentou bastante e ajudou muito a trinca de meias que estava às suas costas: Everton Ribeiro, Diego e desta vez Arrascaeta – que na derrota em casa para o Peñarol ficou no banco de reservas mesmo com uma substituição em mãos.
Diego abriu o placar logo aos 3 minutos e na sequência o zagueiro Jorge Toco, do San José, foi expulso. Não seria absurdo imaginar que o cenário era todo favorável à equipe de Abel Braga, mas não foi o que aconteceu. Aos 19’, Salcedo aproveitou falha defensiva e empatou. Everton Ribeiro, que segue extremamente decisivo, aproveitou a segunda assistência feita por Bruno Henrique na noite e recolocou o Flamengo na frente. No primeiro tempo o Rubro-Negro chegou muito ao ataque, mas levou tantos sustos quanto em todos os duelos anteriores. Por isso, desceu para os vestiários sob vaias no intervalo.
No segundo tempo o Flamengo fez a sua obrigação perante uma equipe tão frágil e com menos um em campo: goleou. Everton Ribeiro serviu Arrascaeta, que finalizou bonito após matar no peito, e depois fez o seu segundo gol da noite. Vitinho marcou, de pênalti, o 5 a 1 e Gutiérrez fez contra, ao desviar finalização de Pará: 6 a 1. Os torcedores comemoraram, como deve acontecer. Mas o time, especialmente pelo primeiro tempo, poderia ter feito mais. Deixou a sensação de insegurança especialmente no desempenho defensivo: apesar da desvantagem, o frágil San José arriscou mais chutes a gol (4) do que fizeram LDU (3) e Peñarol (3).
"O San José deu muito mais trabalho do que o Peñarol", reconheceu Abel Braga após o jogo. O problema é que isso reflete uma das falhas de sua equipe.
Apesar da goleada, segue a preocupação de um time inconsistente na hora de se proteger. Tem que melhorar. As outras duas certezas envolvem Everton Ribeiro, mais espetacular do que o pouco que dele vem sendo falado, e a necessidade de Arrascaeta ser titular. Uma dúvida, ainda que a classificação esteja nas mãos do time (que voltou à liderança em sua chave), é saber como os dois meias se comportariam se um deles estivesse centralizado desde o início. Até porque com Gabigol de volta, Bruno Henrique voltaria para a ponta-esquerda.
GettyEverton Ribeiro, em 2019 segue a ser o mais decisivo do Fla (Foto: Buda Mendes/Getty Images)
Nesta quinta Diego voltou a jogar centralizado na linha dos três meias, embora muitos imaginem que a sua melhor escalação seria mais recuado, na função hoje desempenhada por Willian Arão. De qualquer forma, hoje não há dúvidas de que os dois melhores jogadores de criação do Flamengo são Arrascaeta e Everton Ribeiro. A questão é como Abel Braga vai fazer isso acontecer, se esta for a sua vontade.